sexta-feira, 27 de junho de 2008

salvador, três meses depois

Fiz uma viagem a Itiúba nestes três meses que estive em Salvador que me fez obviamente passar por Feira de Santana. Na viagem de volta, deixando um sertao bem verde para trás, num domingo no final da tarde, percebi que a maior impressao que Salvador me deixou nesta estadia é que ela nunca esteve tao Feira de Santana.
A substituicao do calcamento de pedras portuguesas da Barra por granito e concreto, noticia em A Tarde hoje, sexta-feira 27 de junho, paginas 4 e 5, e so uma confirmacao dessa impressao.
Como um dos entrevistados, chamei a atencao para a relacao de textura e materialidade entre os elementos do calcamento e a arquitetura historica ali presente. Sera que a proxima decisao do IPHAN preve o azulejamento das superficies de pedra que formam as bases dos fortes?

segunda-feira, 23 de junho de 2008

o que estou escutando

Ontem à noite assisti a Control, de Anton Corbijn, e hoje pela manha o Joy Division tomou o lugar das duas últimas sonatas para piano de Schubert, que vinha sendo a trilha sonora do início do dia nas últimas semanas.

Isto é muito mais do que futebol, mesmo?

Tudo bem que a definição que um taxista me deu hoje para a Eurocopa seja provavelmente a melhor que já vi: é uma Copa do Mundo sem Brasil e Argentina. Tudo bem que os jogos até agora tenham sido muito dinâmicos e que das grandes nações do futebol europeu só reste a Alemanha na semifinal, o que dá um gosto a mais (torceremos no Brasil todos pela Turquia, me imagino). Mas chamar cada chute a gol de perigosíssimo, cada drible de maravilhoso, acompanhar todos os lances com uma profusão de superlativos, quase sempre gritados, e repetir várias vezes que "isso aqui é muito mais do que futebol", como tem feito a emissora de TV que transmite o campeonato, é definitivamente fora de medida. O exagero é tamanho que dificilmente deve passar desapercebido e creio que muitos devem se perguntar o que é mesmo esse a mais, esse muito mais, que é oferecido. Além de todo este abuso do futebol para realizar auto-propaganda eu não descobri nada.

terça-feira, 17 de junho de 2008

novo mozilla firefox

hoje acompanhei a campanha do lancamento e fiz o download do mozilla firefox 3. Concordo que o botao de retorno ficou um pouco grande demais, como já vi alguém reclamar, mas o que já era o melhor browser agora conseguiu se superar. Só recomendo.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Before the devil knows you're dead

Faz uma semana que assisti a "Antes que o Diabo saiba que você está morto" e até hoje estive em dúvida por onde começar a escrever sobre este filme assustador, certeiro e poderoso. Terminada a sessão fiquei com a vontade de escrever a Sidney Lumet, o diretor, um email dizendo "Muito Obrigado" (caso alguém saiba como fazer para esta mensagem chegar até ele, envie-a em meu nome, por favor!).

Se grandes obras se definem por um poder de síntese e densidade, por um acabamento impecável, precisão de meios e uma reivindicação de universalidade, este filme é sem dúvida uma delas, atingindo em cheio a grande angústia desta época (a de agora mesmo). Como se não bastasse o conteúdo, a forma é de um acerto não menor: fiquei pensando que o filme poderia ter sido editado dentro de uma narrativa mais clássica e depois sofrer a edição que fragmenta o tempo narrativo, e no meio desta semana li isso numa crítica; e continuo até hoje maravilhado com aquele véu negro, denso, sobre a fotografia todo o tempo, construindo a dramaticidade. E pela maestria como a história no meio do filme abandona a estrutura centrada em dois personagens para um outro arranjo ao incorporar uma terceira figura que estabelece um equilíbrio narrativo totalmente diferente.

E como se tudo isso ainda não fosse suficiente, um conjunto de atrizes e atores em desempenhos soberbos, longe da pieguice melodramática que normalmente garante oscars. E como tudo neste filme significa e arrisca mesmo chegar ao nível do simbólico, a direção de arte é alucinante ao escolher o design asséptico, luxuoso e muito de moda da portaria onde interfonam ao diabo. E há também uma referência ao Brasil no filme, super acertada, uma miragem como destino de uma fuga da vida que não se pode mais suportar. E que miragem!

No meio disso tudo, uma menina ao telefone chama o pai de fracassado por não ter conseguido 130 dólares para ela ir a um parque de diversão. Fiquei achando que é esta cena, muito cotidiana, que o diretor queria nos mostrar, parece que tudo gira ao redor dela.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

o que rola no mp3 player

Celso Jr. tem um jeito muito legal de escrever no blog o que ele está ouvindo no momento. Sempre quis imitá-lo, mas é que há meses escuto obsessivamente Two Gallants. Despite what you've been told está todos os dias na lista.

"but you know by now it's half past late

and i only came here for escape

you , you’re just my next mistake

like me to you "

two gallants


segunda-feira, 9 de junho de 2008

Beleza Pura?

Em entrevista à Folha de São Paulo na segunda-feira, dia 26 de maio último, Caetano Veloso expôs seus argumentos contra as políticas de cotas raciais que não diferem muito do que penso sobre o assunto.

Daí que novamente achei que deveria escrever sobre algo que me chateou muito, a abertura da novela da Globo Beleza Pura. Não que eu veja em aberturas de novela em si algo que mereça ser discutido ou comentado, mas Beleza Pura é uma das canções pop nacionais de que mais gosto. A interpretação de A Cor do Som, por exemplo, é certamente fundamental para a música do carnaval de Salvador das décadas seguintes, com sua combinação, ainda que com os solos de instrumento típicos dos anos 70, da guitarra com os atabaques.

Mas que uma canção cujo verso mais constante afirma "não me amarra dinheiro, não" seja exatamente retratada por uma dos maiores símbolos do dinheiro, que é o universo da moda/alta costura – especialmente símbolo pois este mundo evidencia melhor do que qualquer outro a dissociação do valor de venda do de produção – é algo de uma malvadeza sem fim.

Pior ainda, os negros de Salvador com contas e búzios no cabelo (Gil na capa de Realce) foram substituídos por 2 negras cotistas, de cabelo quase alisado (sim, o cabelo de Condoleeza é politicamente incorreto, e de qualquer jeito feio). Elegância e formosura cantadas pela canção caminham no sentido oposto ao que vemos naquelas imagens.

E para completar a "obra de arte total", a versão branquela e sem graça da música feita pelo Skank; será que é possível regravar sem percussão e qualquer ironia a música que celebrou a cultura afro emergente de Salvador nos anos 70?

Para quem queira ver a canção na versão de A Cor do Som:

http://www.youtube.com/watch?v=RwIiEsUQFo4