domingo, 26 de outubro de 2008

Gehen de Bernhard

Terminei de ler Gehen, de Thomas Bernhard. Fazia tempo que não lia algo tão divertido. Bernhard é normalmente associado a qualquer coisa de séria e rancorosa em relação à Áustria – inclusive a proibição testamental de encenação de suas peças no seu país – ou de triste e desesperado, abrangendo neste caso os seus livros autobiográficos.

Lendo Gehen (Ir, Ir-se embora, Caminhar) fiquei com a impressão de que Bernhard é tomado por demais em sério. O narrador da história nos conta o que lhe foi contado durante um passeio entre os distritos 20 e 9 de Viena por uma pessoa que a ele descreve as condições e o momento em que a figura central – o tempo todo ausente, porque já internada – enlouqueceu completamente.

Como se não bastassem as muitas gargalhadas que o livro proporciona, Gehen é interessantíssimo como exercício de composição: em poucos exemplos conheço tanta equivalência de estrutura e forma entre diferentes formas de arte como entre este texto e uma composição minimalista radical. Como uma peça de Glass da época – por exemplo, Music in similar motionGehen é um contínuo espiral de temas cuja repetição é a base mesma para a sua evolução. Gehen vive da repetição como fundamento para a exploração dos limites sintáticos.

A tirar pela literatura, ou pelo menos por livros como Gehen e Michael, este de Jelinek, o início dos anos 70 na Áustria deve ter sido uma época muito louca e muito engraçada.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Niemeyer Mae Menininha Phillip Glass Madonna

Fiquei com um misto de emoção e alegria ao ler no fim de semana que Oscar Niemeyer apóia a candidatura de Gabeira à prefeitura do Rio. Na foto que ilustrava a matéria na internet, a imagem de Niemeyer aos 100 anos acrescentava à toda a sua firmeza de opção política – e Gabeira continua sendo para mim um dos pouquíssimos políticos do país que merecem meu respeito – inevitavelmente um certo ar de idoso sábio, a quem se vai pedir conselho e proteção, assim como se ia na Bahia a Mãe Menininha do Gantois.

Há dez anos atrás vivi uma das situações mais emocionantes em termos profissionais: logo no início da excursão didática com estudantes e professores da Universidade Técnica de Viena, eu estive por algo mais de meia hora ao lado de Oscar Niemeyer, no seu escritório, traduzindo ao alemão a sua aula para os austríacos. Havíamos chegado ao Rio sem a confirmação do encontro, e menos de 48 horas depois estávamos ali. Eu lembro de o coração ter dado uma boa acelerada na hora em que Niemeyer entrou na sala em que o esperávamos, e depois tinha que me concentrar tanto para ouvi-lo, para não interrompê-lo e tentar traduzir consecutivamente as frases ao alemão. Uma palavra eu esqueci por completo: Geländer, corrimão, quando Niemeyer explicava a ausência de corrimão na escada do Itamarati. Mas fiz um gesto e todo mundo entendeu. Creio que, para todos nós, aquele encontro, logo no início da viagem, tenha sido o ponto alto de toda a excursão. Para mim de qualquer jeito.

Faz alguns dias, Celso Jr. (http://cadernosgrampeados.zip.net/) escreveu que ele era bem feliz pelo fato de Phillip Glass ser a Madonna dele, referindo-se à possibilidade de poder estar tão perto de alguém quase mítico. Pois é, eu tenho uma pequena lista de Madonnas e Glasses (será que um dia eu vou poder encontrar Flea?), mas Oscar Niemeyer é o meu Phillip Glass.

sábado, 11 de outubro de 2008

sobre a morte de haider

O mundo inteiro já noticiou a morte do político mais famoso da Áustria, mas a imprensa estranhamente decidiu até agora há pouco, muitas horas depois, não falar da provável alta velocidade com que o carro se deslocava ou especular sobre uma possível embriaguez. Para qualquer pessoa que tenha visto uma foto apenas dos destroços do carro que ele dirigia, é mais que evidente que a velocidade do automóvel era muito, muito alta.
É claro que em um primeiro momento a ressonância coletiva da morte de uma pessoa pública tenda a estar em primeiro plano. Mas recalcar este aspecto do acidente - a alta velocidade e a irresponsabilidade na direção - me parece muito suspeito, pois afinal este é um dado rapidamente divulgado quando um cidadão comum é o personagem em tal cenário. E na imprensa um cidadão comum que, em alta velocidade, cause um acidente com mortes - mesmo que seja somente a própria, como é o caso - é inevitável e rapidamente transformado em criminoso.
Daí que é no mínimo esquisito o presidente do país declarar o acontecido "uma tragédia pessoal". Isso é pouco e muito. Muito pela freqüência com que pessoas morrem em acidentes de trânsito, pois teríamos o tempo todo tragédias, e aquilo que é tão freqüente acaba perdendo a capacidade de horror. Pouco, frente à possibilidade de, sem o carisma de Haider, os dois partidos de extrema-direita voltarem a ser um único; esta perspectiva, sim, trata-se de uma tragédia, só que coletiva, pois nas eleições de há quinze dias eles chegaram a quase 29% dos votos. E tragédia, porque os sucessores de Haider no partido que ele abandonou há alguns anos, são muito mais à direita que ele.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

outono ou domingo de bicicleta


Sexta-feira passada as montanhas amanheceram cobertas de neve. Era o inverno chegando muito rápido. Mas no domingo fez sol, depois de semanas de tempo ruim, e o sol continua pelo menos até amanhã. Fomos de bicicleta de Waging até Laufen e Obersdorf, de lá até Freilassing, uma paisagem muito bonita com lagos, árvores ainda em parte verdes e as montanhas ao fundo, brancas contra o céu azul.
Hoje fiz outras fotos, algumas delas ja pus no flickr, dos amarelos intensos, super bregas e bonitos das árvores.