sábado, 26 de dezembro de 2009
almodovar no último dia
As estantes de livros, muito bem escolhidas e isso nao seria diferente, tomam a cena várias vezes e servem para mais uma auto-referência além de Mulheres à beira..., pois ali estao os bonequinhos de persongens de filme japoneses ou games que também serviam de decoracao em Ata-me (os temas hospitalares sao outra auto-referência exagerada).
Mas a história, à parte de existir para Penelope Cruz ser filmada, é mesmo sobre uma familia que para sê-la, como tal nao pode ser nomeada. Apenas a iminência da morte faz com que uma série de segredos venham à tona e revelem a estrutura familiar forte e conservadora que mantém os personagens unidos. Embora tenha "pago" com a cegeueira, o homem de Abrazos rotos permite-se ser bem tradicional, é um pouco como em algumas histórias de Nelson Rodrigues, apenas às avessas. Como se a solucao para a crise contemporânea da estrutura familiar fosse simplesmente nao nomea-la como tal. O filme é bom ao indicar que nao é bem por aí..... No final, nao dá para esquecer de como as mulheres de Volver eram muito mais emancipadas.
A música que Dieguito toca é muito boa, as roupas de Penelope Cruz sao um escândalo, mas falta vigor em geral. Nao é por acaso que a citacao do gazpacho com tranquilizantes de mulheres à beira... é um dos pontos altos do filme.
quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
fim de ano da cultura na bahia, instituto do cacau
terça-feira, 22 de dezembro de 2009
verdrängt
arquitetura e crítica
Ao fim do livro, o leitor tem a certeza de que, quanto mais contemporâneo for o assunto tratado, mais o livro se conforma em dar conta apenas daquilo que foi recebido no espaco cultural das línguas românicas: é um livro sobre limites da leitura. Muito limitado.
domingo, 20 de dezembro de 2009
frio de lascar
Já hoje o frio de -12°C e o vento intenso fizeram os trens parar e o caos se instalou: quase congelei tendo que esperar 30 minutos pelo trem a Winzendorf. E ali tinha gente esperando há horas....
Alexander ainda cresce (está super alto) e Valerie também cresceu e mudou um pouco do meio do ano para cá. Acertei em cheio no presente que comprei para ela no aeroporto de Lisboa!Lawrence, o novo cao dos pais de Christopher, nao deixa ninguém em paz. Muito bom reencontrá-los.
sábado, 19 de dezembro de 2009
da Bahia à Europa
quarta-feira, 16 de dezembro de 2009
o melhor e o pior de 2009, a complementar até o final do ano
segunda-feira, 14 de dezembro de 2009
95 anos
domingo, 13 de dezembro de 2009
o ano do rádio
Em Viena, a melhor rádio é obviamente a de música erudita, mas tem o problema de falarem demais (as rádios de música eletrônica e alternativa são ótimas, mas ganharam corpo apenas na segunda metade dos anos 90 por lá). Apenas com a internet é que minha relação com a rádio começou a mudar.
Mas se este é o ano da rádio, o é graças ao programa de Ricardo Boechat pelas manhãs. Informação e diversão, comentários abertos e incisivos, o tipo de noticiário que há muito tempo faltava. Os comerciais são repetitivos demais e a tal da Hora da Indústria Brasileira, ou algo assim, tem um nível de tédio dos piores momentos da hora do brasil: nada que diminua a condução do programa, dez. Eu já acho que o Boechat da TV deveria dar lugar ao da rádio, e ser acompanhado de gente mais, digamos assim, animada.
distantes....
sábado, 12 de dezembro de 2009
o ano d ou um balanço musical
Por sorte música nao está tão ligada assim ao lugar. E em termos de música, este ano foi o ano da letra d. No Brasil, Diogo Nogueira se tornou o cantor que há tempos fazia falta. Diferente de vários lançamentos de filhos de alguém dos útlimos 10 anos, que só fazem desdizer o ditado "filho de peixe peixinho é" (talvez Martinália seja a exceção entre tantos filhos de estrelas passadas que deveriam ter escolhido outra carreira), Diogo Nogueira é excelente cantor, sabe muito de samba, é simpático e alto astral. As canções de seu disco mostram uma versatilidade grande para quem já fez sucesso com sambas-enredo. O único senão do CD é a recorrência da citação da palavra deus, que eu espero estar ali apenas para dar um toque de discos antigos de sambistas como Cartola. Produção correta, música quase atemporal, quase conservadora, mas na voz de um cara bamba de verdade. Mais um verão do samba.
Fora do Brasil, o que mais curti este ano foi Dent May and his Magnificent Ukelele. Diversão e inteligência com muita irreverência (basta ler o nome da banda) e clips adoráveis. Dent May ... é a minha resposta imediata à pergunta: "o que é que você está curtindo agora?" Quando um desenho é levado cuidadosamente a todas as partes do que está sendo produzido, quando se canta bem, quando o produto pop é inteligente e múltiplo, quando um instrumento é tomado como fetiche-homenagem-deboche, quando a música é displicente, magnética e melódica. E faz rir muito. "I'm an alcoholic....!"
domingo, 6 de dezembro de 2009
vem chegando o verão....
terça-feira, 1 de dezembro de 2009
do começo ao...... fim com uma piada antiga
Os atores mirins roubam a cena (e por isso esta parte do filme deve ter a duração que tem), a música é excessivamente dramática e alta, Julia Lemmertz sempre muito bem, e chama a atenção por motivos óbvios a profissão do pai do filho mais novo: arquiteto. Combina bem a imagem da profissão com a desejada liberalidade pouco comum para o personagem, embora entre esta imagem e os arquitetos que conheço haja um grande abismo.
Mas isso me fez lembrar uma piada que escutei quando estudante de arquitetura: "existem entre os seres humanos 6 diferentes orientações sexuais: homem que gosta de mulher, mulher que gosta de homem, homem que gosta de homem, mulher que gosta de mulher, Caetano Veloso e arquiteto." Deve ser por aí a naturalidade excessiva do filme; nem na Califórnia!
segunda-feira, 30 de novembro de 2009
quem pode me dizer?
domingo, 29 de novembro de 2009
postes ao chao
sexta-feira, 27 de novembro de 2009
maldade:
quarta-feira, 25 de novembro de 2009
outra imagem
terça-feira, 24 de novembro de 2009
"primeiro mundo se for, piada no exterior, mas o brasil vai ficar rico...."
Logo agora que estamos ficando rico, pleno de gerúndios? Enquanto substituímos a riqueza da floresta por soja e pasto, uma parte dos impostos é detonada em automóveis particulares que circulam por ruas de trinta anos atrás, e outra estimula em forma de programas assistenciais a verticalização das favelas, hoje em dia acho que de primeiro mundo mesmo o Brasil só tem os biscoitos piraquê.
segunda-feira, 23 de novembro de 2009
a todos que confundem natureza e cultura
Em primeiro lugar, só é possível falarmos sobre natureza porque a olhamos de fora, do mundo artificial, da cultura, um é condição para o outro. Em segundo lugar, o universo da relação entre as pessoas será sempre um cultural, sem chance de volta a qualquer naturalidade (a não ser que venha a grande bomba: aquela que muitos países estão ávidos por ter), mas aí não teremos mais pessoas. Em terceiro lugar, todos os avanços materiais que temos são decorrentes daquela grande mudança de relação com o mundo - o fim das "verdades" religiosas, ou melhor, superstições e dogmas - que aconteceu no mundo ocidental entre os séculos XVI e XVIII e que possibilitaram o surgimento da ciência moderna.
Por isso, eu acho que gente como o Sr. Ahmadinejad, que mistura deus com natureza para propagar a intolerância, não deveria usar avião, celular, internet, televisão, elevador, e principalmente antibióticos, vacinas e remédios de base sintética. Se ele fosse coerente com o que ele diz, ele até poderia querer vir visitar Lula, mas iria demorar tanto e teria tantas dificuldades atravessando a África em lombo de camelo e cavalo, e depois para superar o Atlântico de barco (não de caravela, que já é uma embarcação muito moderna), que ele desistiria. O que seria uma pena, pois os perigos naturais seriam tantos e tamanhos que as chances de ele não chegar por aqui seriam com certeza bem maiores do que a do avião dele cair.
sábado, 21 de novembro de 2009
monstro
Senhor Ahmadinejad, não há como envolver a população brasileira na sua opinião pessoal sobre os homossexuais.
É uma vergonha que o governo brasileiro receba uma pessoa destas na condição de líder político de um país. Que este senhor seja amigo pessoal de quem quer que seja do governo e assim o seja recebido, é um problema individual de cada um. Mas tratar oficialmente e receber no país uma pessoa que representa as idéias e ações que este senhor defende, é o equivalente de ter mantido relações com o regime de Appartheid da África do Sul e receber à época o líder de tal governo no Brasil.
sexta-feira, 20 de novembro de 2009
repetição
quarta-feira, 18 de novembro de 2009
mulheres de saia comprida
As cenas de violência são gratuitas (muito distinto de Tarantino) e alguns cortes, a raposa falando, os sustos, a floresta, e o mistério (aqui muito visual ou muito explicado demais) sugerem uma influência de Lynch. Cheia de ansiedade.
A abertura do filme, construída com o mesmo recurso narrativo da abertura de Up, o desenho animado, é uma maravilhosa ode ao video clip, apresentando o tema da água em uma estética que atualiza para o mundo digital os clássicos preto e branco dos anos 90, à maneira dos videos dos Pet Shop Boys ou Madonna (às vezes alguns contrastes e a iluminação adquirem um tom entre nostálgico e demodê).
A paisagem natural é muito próxima à de Traunstein, no bosque da cidade. E isso é tudo.
Entre todas as mulheres que sobem a colina, nenhuma teria problema na Uniban. Esta é uma imagem importante para o filme. Não há ninguém de minissaia, nenhuma mulata assanhada, ninguém com uma roupa colada definindo curvas robustas. Ficou difícil aceitar aquele coletivo vestido de crente como "as mulheres". Era isso.
segunda-feira, 2 de novembro de 2009
novembro iniciando pela música
Acabo de ler que Dent May está com a gripe suína, e cancelou os shows desta semana....
domingo, 25 de outubro de 2009
domingo de manha na tv, parte 2
Ao ouvir a entrevista sobre a decoração dos espaços comuns e do apartamento demonstrativo, assinada por duas arquitetas, me veio a impressão de que tudo está muito errado mesmo: as perguntas e as respostas eram apenas pontos para que fosse feito um comercial dos serviços e produtos relacionados àquilo que estava sendo filmado. A atividade do arquiteto aparece ali, num programa de domingo pela manhã, como a de um simples anunciante comercial de objetos, serviços de marcenaria e tecidos. Mesmo com algum traço de ingenuidade, me permitam dizer aqui: arquitetura é outra coisa.
sábado, 24 de outubro de 2009
um primeiro e rápido balanco do workshop
O grande lance é provavelmente ver pulsante uma certa noção de otimismo que, assim eu entendo, está intimamente associada à profissão de arquiteto. Já estou pensando na próxima edição, podem aguardar!
domingo, 11 de outubro de 2009
na tv domingo pela manha
Na sequência, em vídeo gravado em dia de menor rouquidão, a mesma apresentadora falava maravilhas de um outro empreendimento, cuja perspectiva demonstrava semelhanças indiscutíveis com os já demolidos complexo penitenciário do Carandiru, em Sao Paulo, e o conjunto Pruit-Igoe, em Saint Louis, nos Estados Unidos. É tudo tão redondo, certinho, tão conectado, que não pode ser coincidência: estamos celebrando o enterro de uma cidade.
quinta-feira, 8 de outubro de 2009
nem berlusconi.....
terça-feira, 6 de outubro de 2009
casa da mae joana
segunda-feira, 5 de outubro de 2009
provincianismo baiano, reloaded
domingo, 4 de outubro de 2009
mais de 20.000
sábado, 3 de outubro de 2009
2016
Faz exato um mês eu estava no Rio, para o seminário do docomomo. A forte impressão que esta estadia deixou em mim registrei aqui em algumas postagens: a cada visita, nos últimos 15 anos, o Rio vem se tornando uma cidade cada vez melhor; o salto de um ano e meio para cá é entretanto incrível.
O fato de o Rio ter vencido a candidatura à sede das Olimpíadas de 2016, por mais que nós brasileiros sejamos melhor em publicidade do que em qualquer outra coisa, corresponde não somente a um projeto de futuro, é fruto de um forte movimento que já é parte do cotidiano da cidade. Desde a perspectiva de alguém que vive em Salvador, o Rio é hoje um lugar onde os moradores resolveram enfrentar os problemas e tomar as rédeas da cidade.
A emoção de ontem tem a ver com a sensação de estar no caminho certo. A senhora, meio decadente, despeitada por ter perdido o trono, parece ter ficado definitivamente para trás.
domingo, 27 de setembro de 2009
california, não tão de repente
Fui e gostei. É verdade que eu estava precisando de assistir a um "feel-good-movie". E desde o início me perguntava a relação que poderia haver entre o título da canção de Lulu Santos e o filme, e aparentemente não há nenhuma. Mas continuo não entendendo a percepção negativa de um filme gay com uma história bobinha de final feliz: saí do cinema achando que este era um dos grandes lances do filme.
Há uns vinte e cinco anos atrás, na época da canção praeira-surfista "I-wanna-be-like-the-USA" de Lulu Santos, quando o Legião Urbana recorria a uma retórica envolvendo medo, culpa e confusão, para rimar com um " meu corpo [que era o] teu espelho", teria sido inimaginável um filme assim. Filmes gays, que envolvessem coming outs ou histórias de amor ainda tinham uma chance grande de tratar do suicídio de um dos personagens, tristezas e impossibilidades.
E o filme é bom nisso: atores com ótimo desempenho em uma história de descoberta e amor, que não deixa de ter todas as incertezas de um coming out, mas sem grandes tragédias inevitáveis. Ao contrário. Ele é como o reverso saudável de Brokeback Mountain. Substitua os cowboys por surfistas, ponha a história poucas décadas à frente, e veja o que mudou.
Um ponto alto do filme é a sua trilha sonora: não há como duvidar que a melhor música popular do mundo vem desde há muitas décadas dos Estados Unidos. Compare por exemplo a qualidade das canções especialmente compostas para o filme com o tipo de música que a Globo vem usando em suas novelas, e você provavelmente irá concordar comigo.
Os vinte e tantos anos entre a canção e o filme (os dois De repente Califórnia) não são tão de repente assim. Mas se há algo que relaciona os dois, então é a determinação na costa do pacífico de "nem sentir saudade do que já passou". Você já foi à Califórnia?
quarta-feira, 23 de setembro de 2009
mania de grandeza ou tirando onda
segunda-feira, 14 de setembro de 2009
o desaparecimento de jane fonda
Porém, com a derrubada de algumas barracas na Pituba e em Amaralina, há alguns dias, foi-se embora também um dos letreiros comerciais mais inusitados do mundo, se é que aquela placa de madeira com as letras talhadas pode ser enquadrada em tal categoria: em frente à chegada da rua rio grande do sul na orla, foi levada junto com a barraca a placa que a anunciava, onde há anos estava escrito "Jane Fonda, um toque de aconchego" , e com ela foi-se algo de deliciosamente absurdo e divertido, nonsense total na paisagem urbana do bairro. A Pituba ficou ainda mais careta.
quinta-feira, 10 de setembro de 2009
arquitetura (?) e publicidade, e uma mulher de braços cruzados
Este será o primeiro edifício com mais de 6 andares nas quadras próximas à praia no bairro da Pituba. A peça gráfica porém é desconcertante: do lado esquerdo, uma foto da praça nossa senhora da luz, em dia de sol: uma área aberta, de lazer, ainda que gradeada, próximo ao endereço do futuro edifício. Do lado direito, uma fotomontagem onde se vê uma imagem em perspectiva do edifício inserida em uma foto do sítio, enfatizando a vizinhança da praia, de novo, exuberantemente ensolarada.
No centro, no entanto, uma mulher de cara fechada e braços cruzados, vestida de preto, com mangas compridas e gola alta, algo que parece mesmo um pulover. Intuitivamente, associamos as outras duas imagens a alguém em roupa de banho ou de esporte. A primeira pergunta que vem à cabeça, bem ingênua, é: se quem vai morar neste prédio, veste-se assim, porque escolher este endereço? Isso porque com o sol todo das fotos, nao dá pra sair na rua assim, menos ainda ir ali caminhar na praia.
A pergunta é ingênua porque quem conhece esta cidade sabe que os moradores da Pituba não usam o espaço público do bairro e não parecem nem um pouco interessados em cuidar dele. Qualquer domingo, qualquer feriado, quem passa por aquele trecho da orla verá uma imensa massa construída de edifícios habitacionais e uma praia deserta. É uma imagem surreal (considerando como real Copacabana, Ipanema, Boa Viagem, etc). Eu sei, a praia da Pituba é poluída. Mas nestes anos todos nunca ouvi falar de um movimento dos moradores do bairro para salvá-la.
A mulher de preto do outdoor parece assim bem inserida no bairro: a praia, a praça, as calçadas, tudo está ali como um desperdício, porque são muito pouco usadas por quem ali mora. Toda de preto e de gola alta, de garagem em garagem, a mulher do outdoor está verdadeiramente apta a ir morar na Pituba, de frente para o mar. E afirmar e consolidar a ausência de urbanidade de Salvador.
segunda-feira, 7 de setembro de 2009
melrose place 2.0
Surpresa mesmo foi saber que Sidney e Michael Mancini serão interpretados pelos mesmos atores que os representaram nos anos 90; na Áustria a série passava aos sábados, final da tarde, e no inverno era programa certo para ser acompanhado de café com gugelhupf. Porque não nos preocupávamos em engordar. Era só diversão.
Uma cena inesquecível: Kimberly revela a imensa cicatriz da cirurgia de lobotomia que havia sofrido. Ali a teledramartugia brasileira perdia definitivamente alguma chance no cenário mundial, pois a partir daí no mundo inteiro passou a valer os absurdos descritos por Vargas Llosa em La Tia Julia. A melhor série da tv alemã, por exemplo, tenta desde meados dos anos 90 ser mais mexicana do que as venezuelanas. Divertidíssima.
O texto do New York Times:
http://www.nytimes.com/2009/09/08/arts/television/08melrose.html?_r=1&hpw
compartilhando uma alegria
sábado, 5 de setembro de 2009
moda e gênero no rio de janeiro
Mas o que realmente chama a atenção, é que os homens carregam suas mochilas da maneira como elas foram pensadas para serem carregadas, ou seja, atrás das costas, com as duas alças traspassadas no ombro. E este é sem dúvida um sinal de como as pessoas se sentem seguras no centro da cidade. Nas escadas rolantes, esperando o sinal verde para atravessar a rua, a mochila está sempre nas costas. Para quem vive em Salvador, parece uma cena européia.
quinta-feira, 3 de setembro de 2009
e depois do PV, em quem votarei??????
Só votei no PT uma única vez, em 1989. Quando na campanha para a presidência em 1994 o partido dos trabalhadores resolveu nao apoiar o projeto de lei de Marta Suplicy que previa a uniao civil entre pessoas do mesmo sexo para nao entrar em conflito com a base católica, vi que nao poderia votar em forcas tao conservadoras, tao pouco emancipatórias. O compromisso ali já era outro. Até hoje nenhuma lei sobre a matéria. Viva o Uruguai!
Daí que desde 1994 eu vinha sendo um destes zero,alguma coisa por cento que votava no PV para presidente. Mas e agora??? Só restará o voto nulo?
só rio, sorrio, sou rio
sábado, 29 de agosto de 2009
o imbuí e seu rio
A questão é complicada, já que é evidentemente absurda a idéia de concretar qualquer rio, mas um leitor(a) (identificado(a) apenas como Gilcimar) a coloca no ponto certo: porque este órgão (INGA) não embargou a obra da Av. Centenário ??? Ainda mais que o rio ali era bem menos poluído?
Algum político um dia pagará a conta por tudo isso???
domingo, 23 de agosto de 2009
DorminGo
Ainda que as fotos de Verger, Gautherot, Manzon e Levi-Strauss não precisem de nenhum comentário (a sequência de fotos com as velas no chão na Amazônia e a foto do(a) mascarado(a) no carnaval são magistrais!), elas acabam funcionando como uma boa moldura para as obras de Fraga (que moldura!!!).
As fotos de Voltaire Fraga sao emocionantes, no sentido mais melancólico-nostálgico que a fotografia pode ser. Ali estão os populares bem vestidos com poeira no sapato dos anos 40 e 50, a Bahia que conhecemos através de Verger, os trilhos de bonde, o centro da cidade enquanto tal, cajus em cestinhas de palha, baianas do acarajé em contraste com o Oceania, vários edifícios que não estão mais de pé. Abundante Bahia, o título da exposição, começa a assumir um tom bastante irônico.
A foto mais bonita, e que talvez seja o retrato da Bahia que permanece no tempo, é aquela noturna, da rua Chile, com os neons das casas comerciais. O fantasma do bonde, o glamour chifrim da rua que atraía multidoes para usar a primeira escada rolante da cidade. Ali, Salvador parece sintetizada em todo seu imutável provincialismo (diferente e distante das fotos que mostram a lavagem do Bomfim, as festas de largo ou os vendedores dos cajus).
Interessante mesmo é ver o fotógrafo dormingo na cadeira de praia (o erro da legenda que sintetiza dormindo com domingo), a balaustrada do porto da barra e o pé ligeiramente inclinado do fotógrafo todo de branco às margens do dique. Todo de branco, até o sapato.
quinta-feira, 20 de agosto de 2009
na capa de Mark magazine
terça-feira, 18 de agosto de 2009
mais um amigo de pedro, o hóspede
sábado, 15 de agosto de 2009
cultura de um mês
sábado, 8 de agosto de 2009
auto(i)mobilismo baiano
Ontem pela manha, ouvindo as noticias na radio, tive o desprazer de tambem escutar uma propaganda (a palavra e essa mesma) do governo de estado anunciando a tal da Stock car como a maior das maravilhas, que ira trazer mutos beneficios ao estado. Mais uma vez muito dinheiro publico envolvido em um evento (sim, aqui a palavra novamente e acertada, algo que acontece e desaparece em seguida) vendido na mídia como se tivesse a capacidade de rendencao social que talvez a inauguracao de um hospital decente, de uma nova boa escola (ou apenas salarios muito melhores para os professores), ou de um sistema de transporte coletivo teriam. A efemeridade do evento porem traz a mesma volatilidade eficiente da publicidade, alem de dobrar os orcamentos. Tudo sob(re) controle.
Hoje pela manha foi a vez de um politico de grande influencia na Bahia afirmar que, como a Stock car, a vinda da formla indy (alguem que nao sejam os reporteres da tv bandeirantes assiste àquilo?) irá trazer muitos benefícios para o estado e que o fato de este outro evento vir a se realizar em Salvador é "um interesse de todos os baianos". Meu nao. De jeito nenhum.
Tudo isso me faz lembrar do segundo governo de J. J. Seabra, quando o homem que havia feito o porto novo e a Av. Sete só conseguia inaugurar estátuas pequenas em pracas. O imobilismo baiano é a recorrência do segundo governo de Seabra: quando do pao e circo, somente o circo ja basta, e esse com uma lona bem furada, animais que ja foram transformados em churrasquinho para os artistas que sobraram e uma arquibanca a ponto de desabar a qualquer momento, sem que com isso o espetaculo sinta necessidade alguma de parar. Por que pararia?
sexta-feira, 7 de agosto de 2009
na direção contrária
segunda-feira, 3 de agosto de 2009
antes de viajar
sexta-feira, 31 de julho de 2009
mistério esclarecido
terça-feira, 28 de julho de 2009
Video com Inaki falando sobre seus quadros. Cada vez melhor.
domingo, 12 de julho de 2009
M O R R I S S E Y
Quando Christopher comprou os ingressos para o show de Morrissey, que aconteceu ontem aqui em Viena, eu já fiquei alucinado em pensar neste dia de estar no mesmo espaço que Morrissey, ouvindo-o cantar. É a turnê de lançamento de seu disco novo, e como ele já lançou alguns discos nos últimos 20 anos, eu ontem saí de casa e entrei no metrô com a mesma tênue esperança de quando soube dos ingressos comprados de quem sabe escutar uma, talvez duas canções dos Smiths. Pouco mais de uma hora e meia depois, quando o show foi aberto com This charming man, era difícil nao explodir. O gasômetro lotado explodiu junto.
Sim, ele tocou as músicas do disco novo, mas intercaladas de canções de outros discos e nada mais nada menos do que, além de This charming man, as seguintes canções dos Smiths:
How soon is now?
Why don't you find out for yourself?
Some girls are bigger than others
Please let me get what I want this time
Girlfriend in a coma
Ask
Era como um sonho ouvir Ask ao vivo, arrepiado em Please, please, please..., delirante.
Morrissey tirou a camisa e jogou para a platéia, composta para minha surpresa de muita gente com idade por volta de 30 anos. Engraçado foi ver muitas pessoas com camiseta do cantor ou dos Smiths. Era o primeiro show dele em Viena!
A banda é excelente, Alessandro ia pirar com a bateria (que incluía um gongo imenso chinês), o baixista fez dois solos alucinados e Doll and the Kinks, a banda que abriu britanicamente às 20 horas em ponto, era algo como se as músicas de Echo and the bunnymen e Siouxsie fossem cantadas por Cindy Louper, (a cantora tinha inclusive o mesmo chapéu coco), muito boa.
Pensem numa noite inesquecível....
Quem souber o email de Normando que faça este post chegar até ele!
sábado, 11 de julho de 2009
verao, 18 graus
Lisboa, como sempre, com policiais fazendo questão de ser muito antipáticos no controle de passaporte. Aqui tudo verde. À noite, em Traunstein, comi um fígado com batatas delicioso. Hoje pela manhã, chegando de trem em Salzburgo, vi a obra do prédio da Humboldtstrasse, que já está no primeiro andar, que emoção. O trem a Viena era um dos novos que não conhecia, super velozes e com um interior bem diferente. Daqui a pouco vou para o show de Morrissey, no Gasômetro.
sexta-feira, 10 de julho de 2009
em ruínas
O abandono do centro antigo de Salvador é fato consumado, mas a igreja católica é uma instituição riquíssima. Ainda que não o fosse, ao menos o dinheiro conseguido com a venda da residência dos bispos no Campo Grande para dar lugar a um dos edifícios mais horrorosos da cidade deveria ter garantido pelo menos por um bom tempo a manutenção do Palácio.
Mas frente ao estado em que se encontra o claustro de São Francisco, também em Salvador, tentar salvar o Palácio Arquiepiscopal pode ser um luxo. Qualquer coisa na Bahia de hoje, que esteja além do nível da habitação para baixa renda de péssima qualidade, parece ser um luxo. Pobre país.
segunda-feira, 6 de julho de 2009
funcionário padrão
Tive que lembrar destas imagens quando vi na TV a reportagem sobre o médico plantonista em um hospital público no Rio de Janeiro que além de se recusar em atender três mulheres em trabalho de parto, escreveu de caneta no braço de uma delas as linhas de ônibus que elas deveriam tomar para ir a um outro hospital. As três crianças morreram e uma das mães estava internada até hoje.
Isto deve ter acontecido apenas por elas serem gente comum. Só gente comum vai a hospital público, aliás gente comuníssima. O tal médico parece ter raciocinado assim: "Gente comum já não tem direito a hospital decente, para que então ambulância? Ambulância só para gente especial, assim tipo senadores!"
Será que por tamanha desenvoltura lógica ele também irá ganhar uma foto emoldurada?
terça-feira, 30 de junho de 2009
cacoete
segunda-feira, 29 de junho de 2009
ladrão que rouba ladrão....
Ele queria de qualquer jeito impor um referendo, considerado ilegal pela Suprema Corte do país, dedicado a mudar a constituição para que ele se re-elegesse. Assim, tipo Chavez.
Eu até agora não sei quem não é golpista nesta história hondurenha.......
domingo, 28 de junho de 2009
escolha estranha
quinta-feira, 25 de junho de 2009
morreu Michael Jackson
A maior razão no entanto residia no fato de que o maior fã de Michael Jackson que eu já conheci pessoalmente era um garoto da vizinhança que também era a figura mais chata e antipática de todo o bairro (para mim, pelo menos). Ninguém no colégio, ninguém que eu tivesse conhecido até então era tão alucinadamente obstinado em se tornar o chefe de tudo, o líder de todos e todas as brincadeiras da vizinhança. Ele tinha o nome de Pelé (Edson, aliás nunca usado) e o apelido - cujas razoes até hoje não posso imaginar - de paizinho. Sabia todas as coreografias dos clips de MJ e por um bom tempo não abria mão da terrível combinacão michaeljacksoniana de sapato preto com meia branca. Nao lembro quanto tempo depois ou mesmo antes de Thriller (A.T. ou D. T., no tempo infinito de quem não era adulto esta é a divisão básica dos anos 80), deixei de falar com aquele cara, mas também era uma época em que os amigos do Colégio já haviam se tornado mais importantes no meu cotidiano do que os da vizinhança. De qualquer maneira para mim, Michael Jackson estava associado definitivamente à imagem deste vizinho, daí era difícil ter alguma simpatia por ele.
Mas tão presente quanto esta associacão, está na memória o inevitável fascínio pelo videoclip de Thriller. Da primeira vez que vi, deve ter sido no Fantástico, onde na época se viam vídeos de música, tenho uma lembrança clara de êxtase. A sensação de estar diante de algo completamente novo e radical, uma sensação que correspondia à transformação definitiva da música pop que dali sairia. A recepção de Thriller era proporcional - e inconsciente, e daí mais forte - ao reconhecimento da pontente inversão da relação entre imagem cinematográfica e música que aquele vídeo realizava. Não lembro quantas vezes o revi, ali entre 1982 e 1983, todos nós o fizemos. E gracas a Thriller guardo uma outra memória, esta muito afetiva, desta mesma época. Lela tinha por volta de 2 anos e morava na Pituba. Morria de medo dos monstros que, esfarrapados, abandonavam os túmulos para dançar com Michael Jackson. Primeiro, somente diante das imagens, depois apenas ao ouvir a canção na rádio, Lela saía de onde estivesse conrrendo em direção à mãe, pedindo "Macunjécsu não, mainha, que eu tenho medo!" Nós, adolescentes, ríamos com a sua pronúncia infantil do nome, mas Lela chegava a chorar e trocávamos logo de estação. Às vezes, só funcionava mesmo desligando a rádio, pois ele estava em todas.
Depois disso, Michael Jackson veio me emocionar ao trazer repetidas vezes para a televisão em Viena as imagens do Pelourinho e Olodum. Acho que até hoje esta deve ter sido a única ocasião para isto na TV na Europa Central. Eu lembro que, na época, um VJ da emissora de clips alemães Vivo chegou a comentar: "veja só, eu nunca soube que no Rio de Janeiro tinha estas casas históricas tão bonitas e coloridas."
Acho que temos que escolher uma canção dos Jackson Five para tocar no sábado. Lembro da infância e dos desenhos animados da banda. Homenagem musical.
quarta-feira, 24 de junho de 2009
alívio
sexta-feira, 19 de junho de 2009
a caminho da índia
segunda-feira, 15 de junho de 2009
entre a liberdade e o populismo
O artigo de Vargas Llosa:
http://www.elpais.com/articulo/opinion/libertad/Hugo/Chavez/elpepiopi/20090614elpepiopi_13/Tes
terça-feira, 9 de junho de 2009
língua viva
domingo, 31 de maio de 2009
faltou coragem
quinta-feira, 28 de maio de 2009
velhos tempos
domingo, 24 de maio de 2009
palma de ouro para um dos melhores
terça-feira, 19 de maio de 2009
mudanca
quarta-feira, 6 de maio de 2009
o Enem e uma luz no fim do túnel para a bahia
Quando na semana passada foram divulgados os resultados do Enem, os jornais em geral repetiram os comentários de sempre: a diferença de desempenho entre as escolas privadas e públicas, as melhores escolas nacionais e em cada estado – e suas receitas de sucesso – e, no caso da Bahia, a constatação de ter o maior número de escolas entre as 50 piores do país e, o que parece mais significativo para o 4° estado mais populoso do país, apenas 3 (três)! escolas entre as 100 melhores.
Tais comentários ano a ano e o próprio Enem parecem-me não ter surtido efeito algum palpável na melhoria de ensino no Estado. O fato de universidades considerarem o resultado do Enem no seu processo seletivo tampouco fez elevar o nível geral, como atestado no último exame.
Mas se associarmos estes resultados à novidade anunciada pelo governo em relação à unificação a nível nacional dos processos seletivos através do Enem, então finalmente surge um mecanismo teoricamente capaz de elevar o nível de ensino no Estado através de uma concorrência verdadeira.
No Brasil até agora estudantes acabam sendo extremamente limitados na escolha da universidade em função do calendário dos exames vestibulares: a maioria já se dá por satisfeito se conseguir prestar todos os exames no seu Estado de origem. Em geral, torna-se muito difícil tentar no mesmo ano algum vestibular em outro Estado do país. E esta é uma das razões que permitem que, em um Estado como a Bahia, as escolas que formam os estudantes que ocuparão as vagas mais concorridas das Universidades no Estado estejam bem abaixo da média nacional.
A partir da constatação de que os outros três Estados com população maior do que a Bahia (São Paulo, Rio de Janeiro e Minas) tem juntos 73 escolas entre as 100 melhores do país – e que até agora a maioria destes estudantes esteve limitada pelos calendários de vestibulares – e que a mobilidade de estudantes hoje no país é muito maior do que há uma ou duas décadas, torna-se evidente que a unificação nacional do acesso à universidade através do Enem poderá trazer muitos cariocas, paulistas e mineiros para as universidades públicas da Bahia, aqueles que não tendo média para ingressar nas universidades públicas de seus estados, estarão muito à frente dos melhores estudantes baianos.
Em termos das classes média e média alta de Salvador que mantém seus filhos em escolas particulares caras, a situação é ainda pior: das três escolas entre as cem melhores do país, uma está em Feira de Santana, a outra é pública, o Colégio Militar de Salvador. Ou seja, há muita gente pagando muito caro por uma formação de base que, se tudo der certo para o bem do nível geral de educação no Estado, logo não irá garantir o acesso às melhores vagas de ensino superior na Bahia.
terça-feira, 21 de abril de 2009
Nós, os vivos
Em estilo, poderia ser entendido como um filme à Jim Jamursch. A estrutura em episódios entremeados, o distanciamento entre o espectador e o que é contado, a seleção musical, um certo cuidado com a fotografia, que reluz o tempo todo. Mas "Vocês, os vivos", filme de Roy Andersson, vai bem além. Estocolmo apresentada como a essência do puritanismo, os ambientes com a decoração reduzida ao mínimo, brilhantemente situados dentro de uma arquitetura da época da reconstrução do pós-guerra e que marca as cidades da Europa do Norte e Central entre os anos 50 e 70 do século passado, um misto de vazio de objetos e um modernismo bege acinzentado de leves tons de azul esverdeado que serve como cena para vivos que estão entre a alcoólatra reclamona e o funcionário público carimbador padrão, assim umas figuras quase não vivas. A princípio.
Porque além de Jim Jamursch lembrei da luz com que Hopper ilumina as figuras de seus quadros, e então é como se os personagens do filme fossem as figuras de Hopper em movimento, com aquela mesma mistura de ansiedade e torpor no rosto. Este efeito, o de fazer lembrar da pintura, é reforçado pelo recurso estético central do filme, o de usar a câmera parada em quase todas as cenas.
Os espaços estão apresentados em perspectivas cuidadosamente construídas, em planos paralelos ao observador ou em ângulos bem marcados, em todo caso com um equilíbrio pictórico super detalhado, e sempre a serviço de evidenciar a profundidade espacial: o espaço é tratado com um rigor geométrico como em poucos filmes, quase obsessivamente, e nunca é contido: portas e janelas se abrem para ampliá-lo, pátios e praças se conectam a outros, vários planos verticais indicam o que segue, o que continua. Entre o Renascimento e Le Corbusier.
E esta contraposição equilibrada (entre a câmera parada associada ao tratamento geométrico e pictórico da cena e a profundidade espacial) é tratada como unidade para formar outros dois pares de compensação compositiva: um com a natureza (o dia sem fim, os trovões e a chuva do verão sueco) e o outro com a música, que ao lado dos sonhos (que trazem risos ao filme), representa ali tudo o que é vivo. Prestem atenção no baterista da cena do enterro.
Por duas vezes a palavra é dirigida ao espectador, em um recurso literário que surge para que o título seja entendido. E para lembrar que o espaço da pintura também nos inclui.
domingo, 12 de abril de 2009
O Pruitt-Igoe do pós-modernismo tupiniquim?
Sobre a demolição do Obelisco e passarela de Ipanema
O prefeito do Rio de Janeiro decidiu, a partir do resultado da enquete realizada pelo Jornal do Brasil em sua versão online: passarela e obelisco de Ipanema devem ser demolidos.
Quem acompanhou o jornal durante a última semana foi testemunha de uma série de reportagens que apresentavam argumentos relativos à queda de vendas dos pontos comerciais da área, da falta de privacidade para os vizinhos, dos problemas de orientação no tráfego, mas acima de tudo de caráter estético.
Quando o conjunto habitacional Pruitt-Igoe, localizado em St. Louis, Estados Unidos, foi demolido em 1972, apenas 16 anos depois de ter sido construído, as razões eram de ordem social: crimes e vandalismo o assolavam. Ao menos nos países anglo-saxões, esta data passou a ser usada como o marco do fim do modernismo.
Naquele momento, por menos que pudessem ser evidenciadas filiações, tentava-se enterrar tanto o programa governamental de habitação popular norte-americano como todo o legado vindo da experiência dos grandes e bem sucedidos conjuntos do modernismo dos anos 20 na Europa, no fundo, toda a experiência de arquitetura moderna. Bem, o cenário da arquitetura internacional dos últimos 15 anos indica que o legado do Movimento Moderno está tão vivo quanto nunca. E que o Pruitt-Igoe deveria mesmo ser demolido.
Da mesma maneira que as razões para a demolição do problemático conjunto habitacional eram de ordem social, as que justificam a demolição do obelisco e passarela de Ipanema são acertadamente de ordem estética. É chegada a hora de nos livrarmos em todo o país desta idéia de que cabe ao arquiteto distribuir enfeites sobre as fachadas das construções ou pórticos, traves, qualquer coisa que saia do plano do chão sobre as praças e jardins, com ou sem argumentos (pseudo-)históricos.
E se há pouco no Pruitt-Igoe da arquitetura moderna dos anos 20 europeus, há tão pouco, ou talvez menos até, do trabalho de Robert Venturi ou Aldo Rossi em quase tudo aquilo que no Brasil recebeu o rótulo de pós-moderno: frontões e colunas de gesso aplicados sobre edifícios de apartamentos, shopping centers ou igrejas neo-petencostais, ruínas inventadas, pórticos e traves em praças públicas e jardins, para os quais ninguém nunca conseguiu perceber alguma utilidade prática. Tudo mais ou menos de mau gosto.
Em Salvador abundam exemplos: a Praça da Inglaterra, com suas vigas de concreto pesadíssimas, o jardim dos namorados na orla, com seu Stonehenge multicolorido, a Praça Jardim da Pituba, com sua sequência de traves tortas, e outras versões menos robustas no Largo do Papagaio e na Madragoa. Mas creio que tudo isso não tenha o impacto negativo dos absurdos passarela e obelisco de Ipanema, que felizmente deixarão de tornar feio o bairro 13 anos após terem sido erguidos.
Que este debate, aberto pelo Jornal do Brasil, se estenda por todo o país e que o fim da passarela e obelisco de Ipanema se tornem um marco nosso, tupiniquim. Estamos precisando. Por razões de ordem estética.
sexta-feira, 10 de abril de 2009
deu em A Tarde
Na mesma edição do jornal, o Sr. Amando Avena defende as últimas intervenções propostas e realizadas pelo prefeito de Salvador chamando-as de modernização, comparando-as inclusive com o Elevador Lacerda e as avenidas de Vale. Pelos exemplos locais que cita, o autor sugere modernização como o oposto de preservação. Estranho que ele não perceba que para a construção da pirâmide do Louvre, exemplo citado pelo Sr. Avena, não foi necessário por abaixo o edifício histórico.
Acontece que a já velha idéia de modernização também se moderniza e uma das suas forcas mais revigorantes foi a ecologia. Modernizar a Pituba não significa necessariamente verticalizar a sua orla. Enquanto as grandes cidades europeias, grandes mesmo ao lado de Salvador, orgulham-se de terem tornado limpos os rios que as atravessam, Salvador ainda "tapa" os seus, para esconder o fato de eles terem se tornado canais de esgoto a céu aberto. Moderno hoje seria tratar os rios.
Pois é, antes de Londres construir a roda gigante à beira do Tâmisa, outro exemplo citado no referido artigo, este foi saneado em um trabalho que levou anos. É que não haveria público para uma atração destas ao lado de um rio fétido. E para saber que cobrir um rio com superfície impermeável não é a solução indicada, nem seria necessário observar o que europeus fizeram com os seus rios, basta olhar a cada ano no período de chuvas para o vale do Anhagabaú em São Paulo e ter um exemplo do que não deve ser feito.
Eu também gostaria de ver todas as barracas de praia retiradas da orla, mas também todos os restaurantes de alvenaria que querem sucedê-las. Eu também gostaria de ver as praias da cidade limpas, não só as da Cidade Baixa, senão também a Pituba, Armação, Boca do Rio, e sei que quanto mais moradores forem convidados a se instalarem na faixa imediatamente vizinha à orla, mais distante estará a possibilidade de que isso venha a acontecer. Hoje toda a drenagem de águas pluviais sem qualquer tratamento aparente - espero que sejam somente estas... - de toda a Pituba é despejada na areia da praia...
Continuo aguardando ansiosamente a grande época das demolições. Aquelas que atingirão os edifícios construídos e a construir depois da recente liberação do gabarito da orla.
E creio que a atual gestão já entrou para a história da cidade, ao menos pelo que fez com o calçadão do Porto da Barra. Minha opiniao sobre isto e sobre a Av. Centenário já escrevi neste blog.
domingo, 5 de abril de 2009
adeus ao moderno
quinta-feira, 2 de abril de 2009
we are all happy
archigram disappointed
sábado, 28 de março de 2009
fritzl e os outros fritzls
Quem acessar agora à tarde a Folha de Sao Paulo verá que Josef Fritzl, o chamado monstro de Amstetten, nao está sozinho: notícias de pais estupradores na Colômbia, na Itália e na Polônia, com filhos-netos em números semelhantes aos do austríaco, acumulam-se em uma seção própria do jornal.
É óbvio que a publicidade alcançada pelo crime cometido na Áustria colaborou para o vir à tona destas outras barbáries. No entanto, o fato em especial de uma pessoa ter sido mantida em um porão sem luz durante 24 anos foi definitivamente entendido como o cúmulo da crueldade e eu mesmo tive que ouvir piadas e comentários sobre possíveis porões da minha residência na Áustria e me vi muitas vezes coagido em defender o coletivo da sociedade austríaca de típicas extrapolações absurdas, daquelas que lidam com a imagem da Áustria como o país de Hitler e que tem o seu equivalente na do Brasil como o país das mulatas de Sargentelli doidas para dar.
Conheço a vida de um povoado na Áustria e, ainda que Amstetten não seja um povoado, os seus 22 mil habitantes não fazem dela nenhuma metrópole. Em cidades pequenas e povoados da Áustria ainda há um senso vivo de vizinhança e comunidade, há muito destruído no Brasil pela violência absurda que permeia as relações sociais. Além disso, austríacos em geral monitoram o tempo inteiro os seus vizinhos para que eles não incomodem o silêncio, tido ali como sagrado, com ruídos por mínimos que sejam.
Os outros Fritzl, na Itália ou na Colômbia, não precisaram construir porões, pelo visto havia uma tolerância coletiva para com o que eles faziam, gente que simplesmente sabia o que acontecia ou fingia não saber. Diante destes novos casos, o porão de Amstetten pode ser visto como talvez a única possibilidade estratégica de execução da bestialidade em uma sociedade que guarda alguma noção de coletivo social. Na Colômbia e na Itália, os mesmos crimes sociais aconteceram diante de uma indiferença e conivência social (de familiares, vizinhos, polícia, etc) provavelmente mais cruel e absurda – em termos da coletividade – do que o porão de Fritzl.
sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009
Esvaziado
Nunca vi um carnaval com tão pouca gente na rua. Primeiro, há alguns anos atrás a classe média da cidade deu espaço nos blocos aos turistas do sul do país, depois chegaram os turistas estrangeiros, depois eles tomaram também as ruas e neste carnaval definitivamente não havia nem mais os pobres nas ruas (somente aqueles que tem que trabalhar).
Sem os pobres na rua não há mais carnaval, e o outro lado disto é a escala desta vez definitivamente ultrapassada dos camarotes. O tamanho que eles assumiram dá conta do renascimento definitivo do carnaval dos clubes de antes do axé music, e parece não ser à toa que o mais representativo destes über-camarotes estivesse na área de um dos poucos clubes da cidade que ainda existem.
Eu não lembro de já ter estado num carnaval onde a passagem do ônibus fosse mais cara do que a cerveja, como foi no carnaval deste ano: enquanto uma cerveja em lata grande custava na rua 2 reais (uma do tamanho normal custava 1,50!), uma passagem de ônibus vale 2,20. Os ônibus além disso eram poucos. O farol da Barra esteve todo o tempo vazio, nas ruas de acesso nenhuma aglomeração, os dias que fui ao carnaval tinham cara de quartas-feiras de cinzas antecipadas.
Apenas a mídia propagandística pode falar de milhões de pessoas presentes. O que se viu é um resto triste de algo que um dia funcionou. Hoje Carlinhos Brown falou nesta direção, apenas com um certo grau de diplomacia. O problema é que nos últimos vinte anos o carnaval de Salvador havia se tornado plataforma para venda de discos, e como ninguém mais vende discos, ele tem que acabar como vem sendo para ser reinventado. Porque de minguado ele já passou.