Nunca vi um carnaval com tão pouca gente na rua. Primeiro, há alguns anos atrás a classe média da cidade deu espaço nos blocos aos turistas do sul do país, depois chegaram os turistas estrangeiros, depois eles tomaram também as ruas e neste carnaval definitivamente não havia nem mais os pobres nas ruas (somente aqueles que tem que trabalhar).
Sem os pobres na rua não há mais carnaval, e o outro lado disto é a escala desta vez definitivamente ultrapassada dos camarotes. O tamanho que eles assumiram dá conta do renascimento definitivo do carnaval dos clubes de antes do axé music, e parece não ser à toa que o mais representativo destes über-camarotes estivesse na área de um dos poucos clubes da cidade que ainda existem.
Eu não lembro de já ter estado num carnaval onde a passagem do ônibus fosse mais cara do que a cerveja, como foi no carnaval deste ano: enquanto uma cerveja em lata grande custava na rua 2 reais (uma do tamanho normal custava 1,50!), uma passagem de ônibus vale 2,20. Os ônibus além disso eram poucos. O farol da Barra esteve todo o tempo vazio, nas ruas de acesso nenhuma aglomeração, os dias que fui ao carnaval tinham cara de quartas-feiras de cinzas antecipadas.
Apenas a mídia propagandística pode falar de milhões de pessoas presentes. O que se viu é um resto triste de algo que um dia funcionou. Hoje Carlinhos Brown falou nesta direção, apenas com um certo grau de diplomacia. O problema é que nos últimos vinte anos o carnaval de Salvador havia se tornado plataforma para venda de discos, e como ninguém mais vende discos, ele tem que acabar como vem sendo para ser reinventado. Porque de minguado ele já passou.