domingo, 27 de setembro de 2009

california, não tão de repente

Há uns dias atrás assisti ao filme De repente Califórnia (título original Shelter), um "feel-good-movie" de temática gay. Algumas pessoas haviam se referido ao filme como "uma sessão da tarde qualquer, uma história boba, besta, de diferente apenas o fato de a história envolver dois personagens gays". Pensei que exatamente isso me atraía em ver o filme.
Fui e gostei. É verdade que eu estava precisando de assistir a um "feel-good-movie". E desde o início me perguntava a relação que poderia haver entre o título da canção de Lulu Santos e o filme, e aparentemente não há nenhuma. Mas continuo não entendendo a percepção negativa de um filme gay com uma história bobinha de final feliz: saí do cinema achando que este era um dos grandes lances do filme.
Há uns vinte e cinco anos atrás, na época da canção praeira-surfista "I-wanna-be-like-the-USA" de Lulu Santos, quando o Legião Urbana recorria a uma retórica envolvendo medo, culpa e confusão, para rimar com um " meu corpo [que era o] teu espelho", teria sido inimaginável um filme assim. Filmes gays, que envolvessem coming outs ou histórias de amor ainda tinham uma chance grande de tratar do suicídio de um dos personagens, tristezas e impossibilidades.
E o filme é bom nisso: atores com ótimo desempenho em uma história de descoberta e amor, que não deixa de ter todas as incertezas de um coming out, mas sem grandes tragédias inevitáveis. Ao contrário. Ele é como o reverso saudável de Brokeback Mountain. Substitua os cowboys por surfistas, ponha a história poucas décadas à frente, e veja o que mudou.
Um ponto alto do filme é a sua trilha sonora: não há como duvidar que a melhor música popular do mundo vem desde há muitas décadas dos Estados Unidos. Compare por exemplo a qualidade das canções especialmente compostas para o filme com o tipo de música que a Globo vem usando em suas novelas, e você provavelmente irá concordar comigo.
Os vinte e tantos anos entre a canção e o filme (os dois De repente Califórnia) não são tão de repente assim. Mas se há algo que relaciona os dois, então é a determinação na costa do pacífico de "nem sentir saudade do que já passou". Você já foi à Califórnia?

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

mania de grandeza ou tirando onda

Seria coincidência demais tudo acontecer na mesma semana: o abortado mini-golpista de Honduras com pretensões chavistas volta ao país e se instala na embaixada brasileira; assembléia geral da ONU; o Brasil, que pleiteia uma vaga permanente no conselho de segurança, solicita uma reuniao para tratar do assunto; o Brasil falta à reuniao sobre o meio-ambiente (para nao desviar as atenções?); o presidente do Brasil falará hoje diante da assembléia das nações unidas. Antes só os grandes usavam de problemas de países pequenos para vantagem própria. Parece que o Brasil está tirando onda...

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

o desaparecimento de jane fonda

A derrubada de barracas de praia na orla de Salvador é algo que somente pode ser elogiado. Há que apenas manter a vigilância para que as que restaram venham a ter o mesmo fim, e nao servirem de núcleos para uma retomada da praia pelas cadeiras e mesas em algum futuro próximo.
Porém, com a derrubada de algumas barracas na Pituba e em Amaralina, há alguns dias, foi-se embora também um dos letreiros comerciais mais inusitados do mundo, se é que aquela placa de madeira com as letras talhadas pode ser enquadrada em tal categoria: em frente à chegada da rua rio grande do sul na orla, foi levada junto com a barraca a placa que a anunciava, onde há anos estava escrito "Jane Fonda, um toque de aconchego" , e com ela foi-se algo de deliciosamente absurdo e divertido, nonsense total na paisagem urbana do bairro. A Pituba ficou ainda mais careta.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

arquitetura (?) e publicidade, e uma mulher de braços cruzados

quem atualmente passa pela orla de Salvador, no sentido Itapoã, vê à sua mão esquerda, logo depois do largo de Amaralina - onde baianas insistem em vender acarajés sob coberturas improvisadas e escondidas por um placa da prefeitura - um imenso outdoor triplo que anuncia um empreendimento imobiliário, cuja campanha está bastante presente em todas as mídias locais.
Este será o primeiro edifício com mais de 6 andares nas quadras próximas à praia no bairro da Pituba. A peça gráfica porém é desconcertante: do lado esquerdo, uma foto da praça nossa senhora da luz, em dia de sol: uma área aberta, de lazer, ainda que gradeada, próximo ao endereço do futuro edifício. Do lado direito, uma fotomontagem onde se vê uma imagem em perspectiva do edifício inserida em uma foto do sítio, enfatizando a vizinhança da praia, de novo, exuberantemente ensolarada.
No centro, no entanto, uma mulher de cara fechada e braços cruzados, vestida de preto, com mangas compridas e gola alta, algo que parece mesmo um pulover. Intuitivamente, associamos as outras duas imagens a alguém em roupa de banho ou de esporte. A primeira pergunta que vem à cabeça, bem ingênua, é: se quem vai morar neste prédio, veste-se assim, porque escolher este endereço? Isso porque com o sol todo das fotos, nao dá pra sair na rua assim, menos ainda ir ali caminhar na praia.
A pergunta é ingênua porque quem conhece esta cidade sabe que os moradores da Pituba não usam o espaço público do bairro e não parecem nem um pouco interessados em cuidar dele. Qualquer domingo, qualquer feriado, quem passa por aquele trecho da orla verá uma imensa massa construída de edifícios habitacionais e uma praia deserta. É uma imagem surreal (considerando como real Copacabana, Ipanema, Boa Viagem, etc). Eu sei, a praia da Pituba é poluída. Mas nestes anos todos nunca ouvi falar de um movimento dos moradores do bairro para salvá-la.
A mulher de preto do outdoor parece assim bem inserida no bairro: a praia, a praça, as calçadas, tudo está ali como um desperdício, porque são muito pouco usadas por quem ali mora. Toda de preto e de gola alta, de garagem em garagem, a mulher do outdoor está verdadeiramente apta a ir morar na Pituba, de frente para o mar. E afirmar e consolidar a ausência de urbanidade de Salvador.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

melrose place 2.0

Quase pensei que fosse brincadeira quando li a manchete no New York Times agora há pouco: estréia amanhã nos Estados Unidos um remake de Melrose Place!!! Estamos velhos, definitivamente! O texto do NYT é engraçadíssimo, comparando o contexto de pujança econômica da versão original (nos idos de 1992) com o de crise da nova.
Surpresa mesmo foi saber que Sidney e Michael Mancini serão interpretados pelos mesmos atores que os representaram nos anos 90; na Áustria a série passava aos sábados, final da tarde, e no inverno era programa certo para ser acompanhado de café com gugelhupf. Porque não nos preocupávamos em engordar. Era só diversão.
Uma cena inesquecível: Kimberly revela a imensa cicatriz da cirurgia de lobotomia que havia sofrido. Ali a teledramartugia brasileira perdia definitivamente alguma chance no cenário mundial, pois a partir daí no mundo inteiro passou a valer os absurdos descritos por Vargas Llosa em La Tia Julia. A melhor série da tv alemã, por exemplo, tenta desde meados dos anos 90 ser mais mexicana do que as venezuelanas. Divertidíssima.
O texto do New York Times:
http://www.nytimes.com/2009/09/08/arts/television/08melrose.html?_r=1&hpw

compartilhando uma alegria

A editora alemã, para a qual fiz o design de uma capa de livro, pediu-me hoje a permissão para usá-lo em variações de cores como capa de toda uma série de livros sobre o mesmo tema!

sábado, 5 de setembro de 2009

moda e gênero no rio de janeiro

Os homens no Rio de Janeiro, quase todos, carregam mochilas. As mulheres não carregam mochilas. A linha de separação é tão nítida que já nas primeiras horas na cidade é impossível não notá-la. As mochilas seguem um determinado padrão de desenho: são predominantemente pretas, relativamente pequenas e derivadas dos modelos projetados para caminhadas e acampamento, assim com alguns elásticos e zíperes, e podem ter algum detalhe em cor. Correspondem inteiramente ao ideal do carioca esportivo indo ao trabalho.
Mas o que realmente chama a atenção, é que os homens carregam suas mochilas da maneira como elas foram pensadas para serem carregadas, ou seja, atrás das costas, com as duas alças traspassadas no ombro. E este é sem dúvida um sinal de como as pessoas se sentem seguras no centro da cidade. Nas escadas rolantes, esperando o sinal verde para atravessar a rua, a mochila está sempre nas costas. Para quem vive em Salvador, parece uma cena européia.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

e depois do PV, em quem votarei??????

Domingo passado comprei a VEJA e as páginas amarelas me amarelaram. Desde que há algumas semanas se falava da ida de Marina Silva ao PV que eu tinha verdadeiramente me animado com a idéia. Mas a entrevista da mais nova filiada do Partido Verde me deixou sem opcao para as eleicoes: ela é contra a legalizacao do aborto, defende que o creacionismo venha a ser ensinado na escola como uma alterantiva à teoria da evolucao e acha que Deus criou o mundo.
Só votei no PT uma única vez, em 1989. Quando na campanha para a presidência em 1994 o partido dos trabalhadores resolveu nao apoiar o projeto de lei de Marta Suplicy que previa a uniao civil entre pessoas do mesmo sexo para nao entrar em conflito com a base católica, vi que nao poderia votar em forcas tao conservadoras, tao pouco emancipatórias. O compromisso ali já era outro. Até hoje nenhuma lei sobre a matéria. Viva o Uruguai!
Daí que desde 1994 eu vinha sendo um destes zero,alguma coisa por cento que votava no PV para presidente. Mas e agora??? Só restará o voto nulo?

só rio, sorrio, sou rio

depois de 36 horas no Rio, tendo comido em diferentes lugares, comprado bilhete do metrô, feito impressão de um texto, percebe-se como o serviço em Salvador deve ser um dos piores do mundo. Eu sei que isso não é nenhuma novidade, é só um desejo bastante tíbio de um dia viver numa cidade menos grosseira.