sábado, 26 de dezembro de 2009

almodovar no último dia

Assisti a "Abrazos rotos" no dia 23, na última sessao do filme em Viena. Um filme sobre estantes de livros e a família que nao ousa dizer o seu nome. Um Almodovar menor, na minha lista ao lado de Carne trêmula e Kika. Mas ainda assim melhor que estes (provavelmente pelo deleite em fotografar Penelope Cruz). Os personagens sao um tanto superficiais (especialmente o Dieguito) e o filme esta tao cheio de motivos cegos, que o espectador pode mesmo se desorientar.
As estantes de livros, muito bem escolhidas e isso nao seria diferente, tomam a cena várias vezes e servem para mais uma auto-referência além de Mulheres à beira..., pois ali estao os bonequinhos de persongens de filme japoneses ou games que também serviam de decoracao em Ata-me (os temas hospitalares sao outra auto-referência exagerada).
Mas a história, à parte de existir para Penelope Cruz ser filmada, é mesmo sobre uma familia que para sê-la, como tal nao pode ser nomeada. Apenas a iminência da morte faz com que uma série de segredos venham à tona e revelem a estrutura familiar forte e conservadora que mantém os personagens unidos. Embora tenha "pago" com a cegeueira, o homem de Abrazos rotos permite-se ser bem tradicional, é um pouco como em algumas histórias de Nelson Rodrigues, apenas às avessas. Como se a solucao para a crise contemporânea da estrutura familiar fosse simplesmente nao nomea-la como tal. O filme é bom ao indicar que nao é bem por aí..... No final, nao dá para esquecer de como as mulheres de Volver eram muito mais emancipadas.
A música que Dieguito toca é muito boa, as roupas de Penelope Cruz sao um escândalo, mas falta vigor em geral. Nao é por acaso que a citacao do gazpacho com tranquilizantes de mulheres à beira... é um dos pontos altos do filme.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

fim de ano da cultura na bahia, instituto do cacau

Recebi o link via emails enviados por Pedro e Mauricio, Samuel Celestino comenta a destruicao de platibandas (eu imagino que sejam as marquises) do Instituto do Cacau em obra executada pelo governo do Estado da Bahia. Estamos acostumados a tanta coisa, às barreiras absurdas impostas por parte dos órgaos de preservacao a qualquer projeto de reconstrucao de imóveis no centro histórico (ou antigo, como queiram chamá-lo), à ruína que se alastra por toda a área central por falta de trato, ao abandono de tudo durante três anos para que o quarto ano pareca cheio de realizacoes, às máquinas de ar condicionado sobre o Elevador Lacerda, ao estado de abandono e destruicao a que chegou a principal obra de arte no estado da Bahia, e uma das mais importantes do mundo, os azulejos do claustro de Sao Francisco, à completa falta de compreensao da importância do Edificio Caramuru com que sua re-habilitacao para o uso foi executada, à feiúra da Saúde, ao descaso com a Baixa dos Sapateiros, aos novos índices de utilizacao vigentes em toda a cidade, a alguns dos prédios mais feios do Brasil, à favela consolidada na encosta do Santo Antonio, à destruicao paulatina das obras de Lina Bo Bardi, à descaracterizacao dos edifícios de Bina Fonyat, seja no Comércio, seja em Ondina, que é realmente louvável alguém ter escrito algo sobre a destruicao da platibanda (ou marquise) do Instituto do Cacau. Porque dentro deste quadro, mesmo se tivessem decidido destruir o prédio inteiro, poucas vozes iriam estar em contra. É a cultura na Bahia.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

verdrängt

Já tinha quase esquecido a arrogância e falta de educacao das maes que andam com carrinhos de bebês (e criancas nao tao pequenas assim) pelas ruas de países onde a taxa de natalidade é de 1,3.

arquitetura e crítica

Terminei de ler anteontem o livro de Montaner homônimo desta postagem. A primeira parte, do panorama histórico da formacao da disciplina da crítica de arquitetura, pode mesmo ser considerada útil. Mas a segunda parte, dedicada ao século XX e ao momento contemporâneo, é muito estranha: primeiro, suas redacao e estrutura sao tao diferentes daquelas da primeira parte e tao confusas (com datas e texto apresentados em um vai e vem histórico, digamos assim, inusitado) que se torna difícil reconhecer um autor.
Ao fim do livro, o leitor tem a certeza de que, quanto mais contemporâneo for o assunto tratado, mais o livro se conforma em dar conta apenas daquilo que foi recebido no espaco cultural das línguas românicas: é um livro sobre limites da leitura. Muito limitado.

domingo, 20 de dezembro de 2009

frio de lascar

desde que cheguei por aqui a temperatura está em torno de -10°C. Na sexta, chegando a noite em Viena, ainda deu para ir jantar na Vila e depois tomar um vinho no Savoy (enquanto a calefacao esquantava o apartamento), mas ontem e hoje a noite nao tivemos coragem de sair de casa. Ontem a tarde o frio era tanto que a Mariahilferstrasse, apesar de fechada ao tráfego de veículos por ter sido este o último sábado de compras antes do Natal, estava relativamente vazia (é verdade que mesmo com a rua interditada, as pessoas andavam quase que exclusivamente pela calcada, para ficar mais perto do calor que vinha das portas das lojas abertas); as filas dentro das lojas eram grandes, mas ninguém parecia ter que perder mais de dez minutos nelas.
Já hoje o frio de -12°C e o vento intenso fizeram os trens parar e o caos se instalou: quase congelei tendo que esperar 30 minutos pelo trem a Winzendorf. E ali tinha gente esperando há horas....
Alexander ainda cresce (está super alto) e Valerie também cresceu e mudou um pouco do meio do ano para cá. Acertei em cheio no presente que comprei para ela no aeroporto de Lisboa!Lawrence, o novo cao dos pais de Christopher, nao deixa ninguém em paz. Muito bom reencontrá-los.

sábado, 19 de dezembro de 2009

da Bahia à Europa

Toda vez que entro em um aviao da TAP tenho saudades da VARIG e, por consequência, raiva da incompetência e descaso brasileiros. O servico da TAP é invariavelmente grosseiro e mal educado. Em Lisboa, chovia muito ao descer do aviao. A Espanha coberta de neve já demonstrava a onda de frio, super bonita a paisagem vista de cima. Em Munique o gelo chegou cortando quando as portas do aviao foram abertas. Ao chegar em casa em Traunstein, o termômetro marcava -9°C, duas horas depois, -11°C. Tudo coberto de neve.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

o melhor e o pior de 2009, a complementar até o final do ano

o melhor de 2009
Christopher ter estado mais de uma vez no Brasil, o show de Morrissey em Viena, banda Cyria, Desata-me reunida no início do ano (16 anos depois),Verona, o lago de Garda, o Südtirol, ouvir o barulho das ondas de madrugada, a visita de Doug e Ramiro, o workshop "que cidade é essa?", o Rio de Janeiro em setembro, as conversas com Max, a recuperação do Fluminense, twitter, flickr, Hell and Heaven em Costa do Sauípe, Samba da Gamboa na TV, almoços no Moreira, Tarantino, as atuações de Celso Jr. e Andréa Elia em Caso Sério, Dent May and his magnificent Ukelele, Boechat e José Simão na rádio pelas manhãs, vários momentos do cqc, o Museu Brandhorst em Munique (de Sauerbruch & Hutton), a festa de verão do LC4 em Salzburg, Vargas Llosa, archdaily, gossip, andrés jaque, lavagem do bomfim, os shows de marienne, Vocês os vivos (o filme), Palma de ouro para Haneke.

o pior de 2009
Salvador, a recepção oficial do governo brasileiro ao presidente do Irã, a relação entre o governo brasileiro e Zelaya, os ônibus de Salvador, o incentivo do governo brasileiro à venda de automóveis particulares, Regurgitofagia (no TCA), os gastos com publicidade feitos pelo governo do Estado, os números da violência na Bahia, o serviço do Banco do Brasil, o fim do Marquês, a UNIBAN e seus estudantes, o show no Farol da Barra para a festa do 2 de julho, a greve da Caixa Econômica, o calor em uma cidade sem árvores, corrida de carros no CAB, cenas de um jogo do Bahia pela TV, o carnaval, a histeria ao redor da gripe suína, a polêmica sobre o projeto de Herzog & de Meuron para Sao Paulo.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

95 anos

hoje, 14 de dezembro, minha avó completa 95 anos. Ela gostou muito da festa, que foi sábado, casa cheia, vários filhos, netos e bisnetos: minha avó se emocionou quando todos cantaram para ela sua canção preferida.

fechado,

em Viena, o Südbahnhof...... agora é memória.

domingo, 13 de dezembro de 2009

o ano do rádio

nunca ouvi rádio tanto como em 2009. Como algumas pessoas que foram adolescentes nos anos 80 em Salvador, a ascensão comercial da música para o carnaval feita nesta cidade me afastou completamente deste meio de comunicação. Em uma cidade de hegemonias sufocantes, apenas alguns programas na aratu fm daquela época serviam de motivo para seguir algo pelas ondas de transmissão. Quando a Transamérica passou a transmitir o programa do sudeste do país, já era tarde, a aversão era definitiva.
Em Viena, a melhor rádio é obviamente a de música erudita, mas tem o problema de falarem demais (as rádios de música eletrônica e alternativa são ótimas, mas ganharam corpo apenas na segunda metade dos anos 90 por lá). Apenas com a internet é que minha relação com a rádio começou a mudar.
Mas se este é o ano da rádio, o é graças ao programa de Ricardo Boechat pelas manhãs. Informação e diversão, comentários abertos e incisivos, o tipo de noticiário que há muito tempo faltava. Os comerciais são repetitivos demais e a tal da Hora da Indústria Brasileira, ou algo assim, tem um nível de tédio dos piores momentos da hora do brasil: nada que diminua a condução do programa, dez. Eu já acho que o Boechat da TV deveria dar lugar ao da rádio, e ser acompanhado de gente mais, digamos assim, animada.

distantes....

muita gente no Brasil acha que o Texas é o lugar mais conservador do mundo, algo assim entre o Afeganistão dos Talibãs e a Polônia governada pelos irmãos Kaczynski. Pelo menos hoje esta imagem tem que mudar (para aqueles que até agora não têm idéia de Austin): Annise Parker foi eleita hoje Prefeita de Houston. Annise Parker é lésbica assumida e vai governar uma cidade grande nos Estados Unidos, algo ainda difícil de se imaginar nestas terras tupiniquins, cada vez mais intolerantes e ignorantes. Quem assiste a TV por aqui, abarrotada de falácias de incentivo ao ódio, poderia achar que esta é a terra de Bush. O Brasil parece mesmo cada vez mais perto do Irã.......

sábado, 12 de dezembro de 2009

o ano d ou um balanço musical

este balanço não é sobre arquitetura; neste ano que passei em Salvador depois de algum tempo fora não consigo lembrar de nada no campo da arquitetura local que merecesse entrar em um balanço de 2009.
Por sorte música nao está tão ligada assim ao lugar. E em termos de música, este ano foi o ano da letra d. No Brasil, Diogo Nogueira se tornou o cantor que há tempos fazia falta. Diferente de vários lançamentos de filhos de alguém dos útlimos 10 anos, que só fazem desdizer o ditado "filho de peixe peixinho é" (talvez Martinália seja a exceção entre tantos filhos de estrelas passadas que deveriam ter escolhido outra carreira), Diogo Nogueira é excelente cantor, sabe muito de samba, é simpático e alto astral. As canções de seu disco mostram uma versatilidade grande para quem já fez sucesso com sambas-enredo. O único senão do CD é a recorrência da citação da palavra deus, que eu espero estar ali apenas para dar um toque de discos antigos de sambistas como Cartola. Produção correta, música quase atemporal, quase conservadora, mas na voz de um cara bamba de verdade. Mais um verão do samba.
Fora do Brasil, o que mais curti este ano foi Dent May and his Magnificent Ukelele. Diversão e inteligência com muita irreverência (basta ler o nome da banda) e clips adoráveis. Dent May ... é a minha resposta imediata à pergunta: "o que é que você está curtindo agora?" Quando um desenho é levado cuidadosamente a todas as partes do que está sendo produzido, quando se canta bem, quando o produto pop é inteligente e múltiplo, quando um instrumento é tomado como fetiche-homenagem-deboche, quando a música é displicente, magnética e melódica. E faz rir muito. "I'm an alcoholic....!"

sete dias....

sem computador, estou literalmente desconectado.

domingo, 6 de dezembro de 2009

vem chegando o verão....

em Salvador, são os dias da segunda florada: tudo que tem flor (e nesta cidade é quase nada), está novamente colorido, é para aproveitar, porque agora vai demorar....

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

do começo ao...... fim com uma piada antiga

Assisti a "Do começo ao Fim" na sexta-feira, sala pequena no shopping, bastante cheia considerando o horário da sessão, 23:45. Estava na dúvida se postava algo sobre, o que já diz muito. O filme é uma grande decepção frente ao que o super bem editado trailer prometia: as imagens são bonitas, os atores são bonitos, mas a história..... não tem. Elogiei aqui "De repente Califórnia" (Shelter) por ser um feel good gay-movie, mas considerando o tema do incesto, "Do começo ao Fim" é relax demais..... não precisava terminar em tragédia nem em tristeza, mas se espera alguma dificuldade social em lidar com o tema...... no filme, esta espera é em vão. Ou alguma discussão psicanalítica em torno da figura da mãe, outra vez nada.
Os atores mirins roubam a cena (e por isso esta parte do filme deve ter a duração que tem), a música é excessivamente dramática e alta, Julia Lemmertz sempre muito bem, e chama a atenção por motivos óbvios a profissão do pai do filho mais novo: arquiteto. Combina bem a imagem da profissão com a desejada liberalidade pouco comum para o personagem, embora entre esta imagem e os arquitetos que conheço haja um grande abismo.
Mas isso me fez lembrar uma piada que escutei quando estudante de arquitetura: "existem entre os seres humanos 6 diferentes orientações sexuais: homem que gosta de mulher, mulher que gosta de homem, homem que gosta de homem, mulher que gosta de mulher, Caetano Veloso e arquiteto." Deve ser por aí a naturalidade excessiva do filme; nem na Califórnia!