sexta-feira, 25 de junho de 2010

bahia profunda, coletânea 7

quase finalizando #bahiaprofunda
cheiro de chocolate da fábrica chadler ao redor do largo de Roma
água de côco em amaralina
nao gostar (de verdade ou nao) nem um pouquinho das escolas de samba do rio de janeiro
bife de fígado acebolado do Moreira, e o Moreira em si
esporte clube ypiranga
estudar no CMS e ficar roxo de raiva ao ser confundido com estudante do colégio da polícia militar
padre hans, do vieira
comprar pão feito por um espanhol
       

quinta-feira, 24 de junho de 2010

bahia profunda, coletânea 6

esta nao é ainda a última coletânea do #bahiaprofunda :
usar “paes mendonça” como sinônimo de supermercado
miseráveis esperando por pão às terças-feiras na porta de São Francisco
carnaval descrito em "chuva, suor e cerveja"
mulatas claras de cabelo alisado e que nunca tomam sol na esperança de passarem por brancas
almocar na lanchonete subterranea da LOBRAS da av. sete
perfumar o carro com cheirinho do iguatemi
ter poupanca na aspeb e cantar a musica da abelha
pista de patinacao do iguatemi     

domingo, 20 de junho de 2010

bahia profunda, coletânea 5

#bahiaprofunda, quinta parte:
o menino mercando na praia: “ói o capelinha aí”
comprar pinguim de geladeira na Baixa dos Sapateiros
definitivamente: jiribatuba
guaraná fratelli vita
amaralina (nem pituba, nem rio vermelho); para ser mais exato, ubaranas!
o cheiro de madeira velha mofada misturado com o do esgoto mal canalizado no centro histórico 
   

bahia profunda, coletânea 4

#bahiaprofunda já segue vida própria no twitter; continuo aqui a coletânea das minhas contribuicoes:
o cheiro enjoado das árvores do Campo Grande
ter que decidir o que é melhor: subir/descer pelo plano inclinado Gonçalves ou pelo Elevador Lacerda?
achar que interior é antônimo de capital e não de litoral
esperar, esperar ou fazer esperar, fazer esperar, como se isso não tivesse importância ou conseqüência alguma
não pode faltar: os extintos banquinhos e mesas de madeira pintados pelos barraqueiros para as festas de largo 
ter tido medo da mulher de roxo     

sexta-feira, 18 de junho de 2010

bahia profunda, coletânea 3

a lama nos pés na feira de sao joaquim
em setembro, 7 meninos sentados no chao comendo caruru com a mao servido em bacia
comprar na rua 1 litro de umbu medido em lata de óleo de soja
sariguê no quintal, jacaré no dique, revoada de periquitos na pituba
itapoan antes das casas feias, e a eterna dúvida entre itapoã, itapuã ou itapoan
festa de largo da pituba, especialmente quando aconteceu na área do estacionamento do jardim dos namorados    

quinta-feira, 17 de junho de 2010

bahia profunda, coletânea 2

fila do ferry para a ilha de itaparica antes do sistema de hora marcada
sempre se referir a salvador como bahia
o caboclo e a cabocla (tinha que ter mesmo os dois, um nao bastava nao?)
adornar e perfumar a casa com galhos de pitanga pro natal
o vendedor de acaçá mercando pela rua no fim da tarde
a kombi de sorvete da primavera    

bahia profunda, coletânea 1


faz tempo a bahia resume-se a um comercial de tv; o que seria entao a bahia profunda?
acarajé fora do Rio Vermelho
cheiro de xixi na rua do paraíso durante o carnaval
terminal de linhas urbanas na praca de sé
estacao de trens da calcada, atravessar a passagem subterrânea
morar em brotas e ir a praia da pituba
tomar milkshake na cubana do elevador lacerda sentado nas cadeiras metálicas

sexta-feira, 4 de junho de 2010

O danúbio que nao é azul também deságua no mar

É difícil dissociar a imagem de Viena da valsa escrita em 1866 por Johann Strauss, o segundo, An der schönen blauen Donau, em portugues simplesmente O Danúbio azul. A ela está associada toda a Viena da segunda metade do século XIX, da arquitetura historicista e monumental da Ringstrasse, os grandes bailes das últimas décadas da aristocracia e, por extensao, toda a cultura vinda de outros séculos e armazenada pelos Habsburgos, mais conhecida do turista em geral através das inúmeras igrejas e palácios barrocos espalhadas pela cidade. O Danúbio azul é, por assim dizer, a trilha sonora absoluta do turista básico que passa umas 48 horas pela cidade olhando os pontos turísticos elementares.
Entre o fim da Primeira Guerra Mundial e o início dos anos 30, quando em uma guerra civil os austro-facistas chegaram ao poder, Viena passou porém por uma grande transformacao de gestao e cultura sob o governo do partido socialista, período conhecido como Viena Vermelha. Para quem nao é turista básico, um passeio por qualquer bairro da cidade irá revelar a principal heranca desta época: os grandes Höfe, ou blocos de apartamentos para a classe operária. O maior deles, o Karl-Marx-Hof tem 1 quilômetro de extensao. As milhares de unidades habitacionais, construídas em parte em sistema de mutirao, contavam e ainda contam com lavanderia comunitária, jardim de infancia, biblioteca, escola, jardins e uma insercao urbana excelente do ponto de vista dos transportes e toda a infra-estrutura em geral. A qualidade destas habitacoes, hoje, quase 100 anos depois, ainda é impressionante, especialmente se pensarmos na quantidade realizada em pouco mais de 13 anos.
Bem, faz alguns dias o governo do Estado da Bahia lancou na TV mais uma de suas inúmeras propagandas, onde, ao som do Danúbio Azul, sao alardeadas em uma sequencia animada por pessoas muito sorridentes, as suas realizacoes, entre elas e repetidamente imagens de casinhas feitas para pobres, mais ou menos naquele padrao inferior a básico que conhecemos de uns trinta ou quarenta anos atrás: porta e janela, telhado duas águas, um apinhado de casas enfileiradas esperando a favelizacao. Eu nao consegui ainda perceber que ligacao há com a trilha sonora: porque e como a valsa de Strauss serve de pano de fundo para aquilo tudo? Alguem no governo, e na agencia de publicidade, acha que a melodia mais vulgar entre todas as valsas vienenses - por si só, um gênero nao tao cultuado - dá algum ar de nobreza, solenidade ou importância àquilo que está sendo mostrado? Acham que só a música e a publicidade já basta para isso? Mas como conferir tais qualidades a tais casinhas?
A publicidade do governo da Bahia parece ver a realidade como um turista básico vai conhecer Viena, tudo lindo, tudo imperial, tudo barroco, uma orquestra com músicos vestidos de Mozart executando o Danúbio Azul. Nem precisa ir ver o Danúbio, que nao atravessa o centro da cidade mesmo. E mostra que ela nada percebe ou compreende do que é necessário ser feito em termos de arquitetura para a populacao, porque se vangloriar do que é mostrado, é de sofrer.
Mas talvez eles apenas tenham ficado na dúvida de que trilha sonora escolher: um jingle como o do ex-governador de três letras eles nao emplacaram; Na Baixa dos Sapateiros ninguém mais conhece, Sao Salvador de Caymmi também nao funciona mais; o resto é axé ou pagode. Tinha Camisa de Venus, com Controle Total, mas aí já nao dá, né?