Acabo de conferir a constituição federal, artigo 5° que diz o seguinte:
"Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, ..."
Era só mesmo para conferir, mas estava na dúvida se este artigo tinha sido alterado. Explico.
Ontem o governo austríaco anunciou mais um pacote econômico. O maior corte nos gastos do governo foi no Bolsa Família deles. Sim, países ricos e decadentes (com taxa de crescimento natural negativa) distribuem Bolsas Famílias aos seus cidadãos. Até ontem, na rica Áustria, uma família recebia cerca de 130 euros por mês por filho até que este chegue aos 26 anos de idade. Sim, até os 26 anos de idade. Passei da manchete ao texto porque estava curioso para saber como tinha sido o corte: a partir de hoje este benefício será pago somente até a idade de 24 anos.
Lá porém todos os cidadãos são iguais perante a lei. Ricos, médios e pobres recebem o mesmo valor, pois cada criança, cada cidadão permanece igual perante o Estado.
Imagina se fosse no Brasil, onde o Estado através do Bolsa Família já estabelece uma diferença entre os cidadãos, que critério seria usado para um corte destes? A cor dos olhos? A estatura alcançada aos 16 anos de idade? As preferências sexuais? O número de abortos ilegais praticados pela mãe? Pertencer a uma ou outra religião? Ah, sim, eu estava esquecendo, a renda familiar?
Acho que um dos maiores legados do governo atual é ter descumprido ostensivamente o artigo 5 da constituição federal do país. Foram várias leis, vários programas, várias bolsas que criaram desigualdades entre os cidadãos perante o Estado. O Brasil se tornou um país mais desigual. Porque o cidadão não é só o que ele pode comprar.
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
o governo da desigualdade ou que venham os tênis novos
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domingo, 24 de outubro de 2010
WER BIN ICH? ou o 1° dia do FIAC-BA 2010
wir wissen dass es etwas dahinter gibt; und dazwischen. O espetáculo de dança e teatro Tim Acy, da artista Antje Pfundtner, repete várias vezes a pergunta-título deste comentário (Quem sou eu?) mas abre avisando que há algo por trás, há algo para além do palco, daquela encenação.
Se a moldura do espetáculo posta na sua abertura é a da ampliação, da conexão para o mundo de fora, a do encerramento é a do efeito do duplo, do clone imperfeito, que de novo e de uma outra maneira, suave agora, pergunta Quem eu sou?
Da mesma maneira que as molduras estão claramente evidenciadas, o espetáculo é preciso, rico e deslumbrante na variação rítmica, formal e cênica, ao mesmo tempo que mantêm um fio condutor claro apoiado na coreografia. O seu exercício é radicalmente moderno e formal, durante o espetáculo eu pensava: ocidental, e que ótimo!
Pfundtner dá um show de interpretação e dança (e é tão importante não separá-los!), destaque para o sentar-se sobre a mesa e o bicho-papão-de-pelúcia.
Objetos, figurino, instrumentos musicais, cenografia não estão a serviço de uma pergunta simples sobre superficialidades. Moderno que é, o público não pode esperar respostas: é o público quem as dá, num frenético questionário de sim ou não. Alguma semelhança?
Sim, o eu que se pergunta quem sou eu em Tim Acy pode ser um macaco que passeia pelo universo de Jeff Koons. O sujeito no universo de consumo, aquele glorificado pela nossa política, esta mesma do sim ou não daqui a uma semana. Ainda neverá por muito tempo.
Extasiado com Tim Acy e por isso com um certo receio, nos dirigimos à Escola de Teatro para assistir à peça Comida Alemana, texto de Thomas Bernhard e encenada por um grupo chileno (e isso porque Fábio tinha comprado o ingresso e não foi e herdei o seu ingresso). Grata surpresa, depois da abertura com os atores cantando Erlkönig de Schubert, o texto permaneceu em alemão, como antes na sala do coro.
De novo, uma encenação excelente, com uma direção segura e expressiva, com atores em um desempenho coletivo e individual tão destacados quanto primorosos, inclusive cantando os Lieder de Schubert!, sem esquecer que eles estavam interpretando em alemão!
A compressão espacial é o centro da interpretação do texto, daí o exercício fantástico da direção de atores, como chamou a atenção Celso Jr. A opção por manter o texto em original é a outra - luxuosa - decisão da direção, que marca o espetáculo: o contínuo com o texto dos Lieder e a manutenção da força expressiva do jogo retórico através da repetição e ritmo que marca a obra do maior dramaturgo de língua alemã garantem a teatralidade tão distante daquilo que é o mais comum na cena teatral local. Gostei muito!
A abertura do fiac não poderia ser mais felizmente diversa daquela do ano passado; há um ano atrás, depois daquela peça de choques fakes e texto horrível, eu havia jurado ficar muito tempo longe do teatro. Ontem saí do Canela-Campo Grande me perguntando com que coragem um festival é aberto com duas encenaçoes de nível tão alto, tão excelentes. Tomara que continue assim!
Se a moldura do espetáculo posta na sua abertura é a da ampliação, da conexão para o mundo de fora, a do encerramento é a do efeito do duplo, do clone imperfeito, que de novo e de uma outra maneira, suave agora, pergunta Quem eu sou?
Da mesma maneira que as molduras estão claramente evidenciadas, o espetáculo é preciso, rico e deslumbrante na variação rítmica, formal e cênica, ao mesmo tempo que mantêm um fio condutor claro apoiado na coreografia. O seu exercício é radicalmente moderno e formal, durante o espetáculo eu pensava: ocidental, e que ótimo!
Pfundtner dá um show de interpretação e dança (e é tão importante não separá-los!), destaque para o sentar-se sobre a mesa e o bicho-papão-de-pelúcia.
Objetos, figurino, instrumentos musicais, cenografia não estão a serviço de uma pergunta simples sobre superficialidades. Moderno que é, o público não pode esperar respostas: é o público quem as dá, num frenético questionário de sim ou não. Alguma semelhança?
Sim, o eu que se pergunta quem sou eu em Tim Acy pode ser um macaco que passeia pelo universo de Jeff Koons. O sujeito no universo de consumo, aquele glorificado pela nossa política, esta mesma do sim ou não daqui a uma semana. Ainda neverá por muito tempo.
Extasiado com Tim Acy e por isso com um certo receio, nos dirigimos à Escola de Teatro para assistir à peça Comida Alemana, texto de Thomas Bernhard e encenada por um grupo chileno (e isso porque Fábio tinha comprado o ingresso e não foi e herdei o seu ingresso). Grata surpresa, depois da abertura com os atores cantando Erlkönig de Schubert, o texto permaneceu em alemão, como antes na sala do coro.
De novo, uma encenação excelente, com uma direção segura e expressiva, com atores em um desempenho coletivo e individual tão destacados quanto primorosos, inclusive cantando os Lieder de Schubert!, sem esquecer que eles estavam interpretando em alemão!
A compressão espacial é o centro da interpretação do texto, daí o exercício fantástico da direção de atores, como chamou a atenção Celso Jr. A opção por manter o texto em original é a outra - luxuosa - decisão da direção, que marca o espetáculo: o contínuo com o texto dos Lieder e a manutenção da força expressiva do jogo retórico através da repetição e ritmo que marca a obra do maior dramaturgo de língua alemã garantem a teatralidade tão distante daquilo que é o mais comum na cena teatral local. Gostei muito!
A abertura do fiac não poderia ser mais felizmente diversa daquela do ano passado; há um ano atrás, depois daquela peça de choques fakes e texto horrível, eu havia jurado ficar muito tempo longe do teatro. Ontem saí do Canela-Campo Grande me perguntando com que coragem um festival é aberto com duas encenaçoes de nível tão alto, tão excelentes. Tomara que continue assim!
quinta-feira, 21 de outubro de 2010
cuba - seja, não! - é aqui ou mais um apagão no Rio Vermelho
Já são incontáveis os apagoes no Rio Vermelho desde aquele que durou 11 horas. O de ontem à noite durou 3 horas, das 21:30 às 0:30. Isso aqui é só um registro de que Cuba é mesmo aqui (e estou seguro que as chuvas de Salvador são mais poderosas que os furacoes do Caribe, outra explicação não há): apagoes, monopólio de serviço, cidadãos transformados em Sr. K. Que todos tenham um bom dia.
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segunda-feira, 18 de outubro de 2010
das diferenças entre plano e ação ou porque outra vez não ao PT
José Luis Zapatero, primeiro-ministro espanhol, chegou ao poder através das eleiçoes de 14 de março de 2004 inesperadamente, pois até o dia 11 de março, dia em que Madrid foi atacada pela Al Qaeda, o partido conservador liderava todas as pesquisas com uma ampla margem. Acontece que os conservadores tentaram tirar proveito político das mortes, atribuindo nas primeiras horas a autoria das explosoes ao ETA. Os espanhóis não perdoaram tamanha monstruosidade, elegendo os socialistas.
Apenas 15 meses depois, no dia 30 de junho de 2005, o parlamento espanhol aprovava a lei que permitia o matrimônio entre pessoas do mesmo sexo, que foi publicada no dia 2 de julho, entrando em vigor no dia seguinte, 3 de julho de 2005. E isso ocorreu não sem disputa acirrada: a Igreja Católica organizou imensas passeatas, moblizando centenas de milhares de pessoas com os velhos clichês homofóbicos. Mas o governo socialista não recuou e manteve a promessa da campanha.
E é sempre bom lembrar: a lei aprovada pelo parlamento espanhol, conhecida como lei 13/2005 (o que é bem irônico para nós), foi absolutamente pautada pela diretriz de estabelecer a igualdade entre os cidadãos; em vez de criar instituiçoes legais que gerassem modificaçoes em centenas de leis com o intuito de manter determinadas diferenças entre os casais heterossexuais e homossexuais, como havia sido a prática em outros países da Europa, a Espanha optou por alteraçoes mínimas no Código Civil, trocando os termos marido e mulher por cônjuges e pai e mãe por progenitores. Assim, e somente assim, estava garantida a igualdade entre os cidadãos perante a lei.
Em 1995, dez anos antes da grande data espanhola, a deputada federal Marta Suplicy, do PT, apresentou ao congresso brasileiro o projeto de lei n°1151, que prevê a parceria civil entre pessoas do mesmo sexo, um contrato de 2a categoria em comparação ao casamento, seguindo o modelo das leis que àquela época tão distante haviam sido aprovadas em alguns poucos países europeus.
15 anos depois, em 2010, este projeto de lei, há muito caduco, ainda se encontra na fila de espera para ser levado à votação, e só não foi arquivado definitivamente graças ao empenho do há muito falecido Luis Eduardo Magalhães. De lá para cá, Lula garantiu às "bases católicas" nas eleiçoes de 1998 que ele não deixaria o projeto de sua "companheira" de partido ir adiante, em troca de apoio e votos. Depois disso, Lula chegou ao poder com as eleiçoes de 2002 e estará no poder até dezembro de 2010, em um período de exatamente 8 anos, ou 96 meses.
Nestes 96 meses, o governo Lula autorizou a realização de conferências (para isso alguém precisa de autorização?), elaborou programas e programas, apoiou paradas gays, tudo explicadinho através de um documento que recebi de um petista em função da minha indignação pública frente ao compromisso da candidata Dilma com os "sentimentos religiosos" dos representantes das igrejas em funcionamento no país.
Efetivamente, frente ao Estado brasileiro os homossexuais hoje têm a mesma situação legal que há 15 anos atrás, a de cidadão de segunda classe. O governo Lula nada fez para acabar com esta desigualdade entre os cidadãos.
O que eu queria mesmo é comparar o que se pode fazer e efetivamente foi feito em 15 meses com o que não se fez em 15 anos. As condiçoes de aprovação política que Lula teve durante todo o seu mandato teria permitido a ele peitar esta e várias outras políticas igualitárias no Brasil, mas ele não fez. Zapatero o fez em 15 meses, porque este era um tema realmente importante para ele e para o partido socialista espanhol. Este tema nunca foi e até hoje não é importante para o PT, não sou eu que digo, são estes 15 anos, a ausência de fatos deste 15 anos. E o compromisso da candidata do PT com as igrejas evangélicas é a garantia de que se ela for eleita nada será feito nos próximos 4 anos.
Sim, eu sei que ainda terei como contraponto de alguns que outras questoes eram mais importantes (fome, bolsas, cotas, e outras desigualdades mais), mas isso só é a prova que para o PT a igualdade de direitos civis para os homossexuais não tem importância.
Outros ainda podem dizer que a Espanha é país de primeiro mundo com outro padrão material e necessidades diferentes do Brasil, pobre terceiro-mundista. Bem, nos mesmos anos 80 em que o Brasil saía da ditadura, a Espanha saía de outra ditadura muito mais prolongada, obscura e retrógada. E nos anos 70, as famílias de imigrantes espanhóis na Bahia ainda enviavam genêros alimentícios para os parentes que ficaram na Península Ibérica. Era talvez o primeiro bolsa-família do Brasil.
Escrevi tudo isso porque ontem, em pleno show de Los Hermanos, encontrei por acaso uma amiga petista que pela primeira vez se mostrou para mim ferrenha. Foi um encontro que me deixou muito incomodado, porque ela não conseguia admitir que eu pudesse ter outra opinião política que a dela. Tenho medo disso, quero ter a liberdade de ser igual e discordante e não perder a amiga.
15 meses não são 15 anos. Não mesmo.
Apenas 15 meses depois, no dia 30 de junho de 2005, o parlamento espanhol aprovava a lei que permitia o matrimônio entre pessoas do mesmo sexo, que foi publicada no dia 2 de julho, entrando em vigor no dia seguinte, 3 de julho de 2005. E isso ocorreu não sem disputa acirrada: a Igreja Católica organizou imensas passeatas, moblizando centenas de milhares de pessoas com os velhos clichês homofóbicos. Mas o governo socialista não recuou e manteve a promessa da campanha.
E é sempre bom lembrar: a lei aprovada pelo parlamento espanhol, conhecida como lei 13/2005 (o que é bem irônico para nós), foi absolutamente pautada pela diretriz de estabelecer a igualdade entre os cidadãos; em vez de criar instituiçoes legais que gerassem modificaçoes em centenas de leis com o intuito de manter determinadas diferenças entre os casais heterossexuais e homossexuais, como havia sido a prática em outros países da Europa, a Espanha optou por alteraçoes mínimas no Código Civil, trocando os termos marido e mulher por cônjuges e pai e mãe por progenitores. Assim, e somente assim, estava garantida a igualdade entre os cidadãos perante a lei.
Em 1995, dez anos antes da grande data espanhola, a deputada federal Marta Suplicy, do PT, apresentou ao congresso brasileiro o projeto de lei n°1151, que prevê a parceria civil entre pessoas do mesmo sexo, um contrato de 2a categoria em comparação ao casamento, seguindo o modelo das leis que àquela época tão distante haviam sido aprovadas em alguns poucos países europeus.
15 anos depois, em 2010, este projeto de lei, há muito caduco, ainda se encontra na fila de espera para ser levado à votação, e só não foi arquivado definitivamente graças ao empenho do há muito falecido Luis Eduardo Magalhães. De lá para cá, Lula garantiu às "bases católicas" nas eleiçoes de 1998 que ele não deixaria o projeto de sua "companheira" de partido ir adiante, em troca de apoio e votos. Depois disso, Lula chegou ao poder com as eleiçoes de 2002 e estará no poder até dezembro de 2010, em um período de exatamente 8 anos, ou 96 meses.
Nestes 96 meses, o governo Lula autorizou a realização de conferências (para isso alguém precisa de autorização?), elaborou programas e programas, apoiou paradas gays, tudo explicadinho através de um documento que recebi de um petista em função da minha indignação pública frente ao compromisso da candidata Dilma com os "sentimentos religiosos" dos representantes das igrejas em funcionamento no país.
Efetivamente, frente ao Estado brasileiro os homossexuais hoje têm a mesma situação legal que há 15 anos atrás, a de cidadão de segunda classe. O governo Lula nada fez para acabar com esta desigualdade entre os cidadãos.
O que eu queria mesmo é comparar o que se pode fazer e efetivamente foi feito em 15 meses com o que não se fez em 15 anos. As condiçoes de aprovação política que Lula teve durante todo o seu mandato teria permitido a ele peitar esta e várias outras políticas igualitárias no Brasil, mas ele não fez. Zapatero o fez em 15 meses, porque este era um tema realmente importante para ele e para o partido socialista espanhol. Este tema nunca foi e até hoje não é importante para o PT, não sou eu que digo, são estes 15 anos, a ausência de fatos deste 15 anos. E o compromisso da candidata do PT com as igrejas evangélicas é a garantia de que se ela for eleita nada será feito nos próximos 4 anos.
Sim, eu sei que ainda terei como contraponto de alguns que outras questoes eram mais importantes (fome, bolsas, cotas, e outras desigualdades mais), mas isso só é a prova que para o PT a igualdade de direitos civis para os homossexuais não tem importância.
Outros ainda podem dizer que a Espanha é país de primeiro mundo com outro padrão material e necessidades diferentes do Brasil, pobre terceiro-mundista. Bem, nos mesmos anos 80 em que o Brasil saía da ditadura, a Espanha saía de outra ditadura muito mais prolongada, obscura e retrógada. E nos anos 70, as famílias de imigrantes espanhóis na Bahia ainda enviavam genêros alimentícios para os parentes que ficaram na Península Ibérica. Era talvez o primeiro bolsa-família do Brasil.
Escrevi tudo isso porque ontem, em pleno show de Los Hermanos, encontrei por acaso uma amiga petista que pela primeira vez se mostrou para mim ferrenha. Foi um encontro que me deixou muito incomodado, porque ela não conseguia admitir que eu pudesse ter outra opinião política que a dela. Tenho medo disso, quero ter a liberdade de ser igual e discordante e não perder a amiga.
15 meses não são 15 anos. Não mesmo.
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quinta-feira, 14 de outubro de 2010
a pequenez do fim do mundo
Vargas Llosa voltou hoje àquele mesmo cantinho da edição online do maior jornal de circulação do fim do mundo. E ele só voltou porque uma das funçoes básicas do fim do mundo é afirmar a sua condição mesquinha, orientada-ao-próprio-umbigo e burra. O autor de A Casa Verde volta em um artigo que narra uma entrevista sua a outro periódico nacional (é claro que o periódico do fim do mundo não tem jornalistas para isso), onde simpaticamente ele é obrigado a responder sobre que autores brasileiros ele considera merecedores do Nobel. E porque ele cita Jorge Amado é que este jornal de nome vespertino resolveu fazer disso um artigo. Sim, e eles finalmente registraram que A Guerra do Fim do Mundo é a história do Conselheiro e de Canudos. E para a pequenez do jornal de depois do meio-dia, este livro tem destaque porque explicaria toda a América Latina (e Vargas Llosa disse isso pensando em outra coisa, estou seguro), mas para tal periódico é como se isso fosse motivo de se orgulhar da Bahia. Realmente ninguém ali deve ter lido o livro. É o fim do mundo, e sem perspectiva de deixar de sê-lo. E todos (quase todos) acham-no legal.
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quarta-feira, 13 de outubro de 2010
fraternidade, igualdade e liberdade
Diferente de muitas opinioes que tenho lido de jornalistas e escutado de amigos, acho que o aborto sim é um tema importantíssimo para ser tratado em eleiçoes, efetivamente por ser um tema que trata de como a sociedade entende questoes de sua vida em comum. E a descriminalização do aborto pôde vir a ser um tema de eleiçoes no Brasil graças exatamente à estabilidade financeira e crescimento econômico dos últimos 16 anos: pela primeira vez não se trata de inflação ou miséria, temos tempo e ar para falar de outras coisas. Isso já seria um avanço.
Avanço este completamente aniquilado pelas forças políticas de maior peso no país, que se entregam sem nenhum pudor às associaçoes mais conservadoras e reacionárias (cuja finalidade única é a autoperpetuação como estrutura de poder sobre as massas) em troca de garantia de votos. Desta vez nem o PV segurou a bandeira de uma sociedade mais livre, igualitária, respeitosa das individualidades. O cenário político organizado é definitivamente o pior possível.
Até hoje o foco central estava na supressão da liberdade da mulher em decidir sobre uma gravidez. Os partidos fazem neste exato momento a opção - escolhem mesmo - pela morte de centenas de cidadãs que fazem aborto clandestino no país. A hipocrisia é mesmo o fio de condução da moral de quem pratica o mensalão. Erenice deve ser a santa parideira de filhos tão pródigos.
Mas hoje, para não deixar dúvidas do medo que esta gente está de deixar de mamar no poder, a monstruosidade não vacilou em demonstrar que não tem limites para sua ganância de poder. Tudo bem que Freud e os filósofos mais contemporâneos venham a explicar uma ação de tamanha repressão à maioria do eleitorado (as mulheres) como forma de garantir votos, mas aproveitar a chance e atacar os homossexuais, avisando-os mais uma vez que sob mais um governo do PT eles continuarão como cidadãos de segunda classe, é algo claramente vil: 10% da população, desde sempre descriminada, é muito menos do que os mais de 50% de mulheres. Mas será que eles fazem a conta assim: "se fazemos algo tao em contra as mulheres contando que elas votem no nosso partido, entao talvez se fizermos algo parecido com os gays, eles também irao votar em nós" ?
Pode ser que eles pensem desta maneira, não duvido nada, afinal a Sra. Dilma se orgulha da monstruosidade que é o Minha Casa, Minha vida (lá dela). Mas tenho certeza também que neste caso, os gays não se comportarão de acordo com o esquema que eles imaginam para as mulheres. A reação já começou.
E isto não é para mim nenhuma surpresa: o que está nos jornais de hoje, do pacto de Dilma com as forças obscuras do medo, é o mesmo PT de ao menos desde 1998, um partido declaradamente contra os direitos LGBT: naquela ocasião, Lula afirmou publicamente que, para nao perder os votos dos católicos, ele jamais iria deixar ser aprovado o projeto de parceira civil de Marta Suplicy, que está lá até hoje, caduco, inútil.
E digo mais: já é hora de vermos que não dá para perpetuar as políticas de desigualdade implantadas pelo PT: está na hora de todas as crianças, pobres, não tão pobres, médias médias ou não, terem direito igual ao bolsa-família, como é o caso dos países da Europa onde tais auxílios à infância são tradição: todas as crianças recebem o mesmo valor, para algumas famílias isso representa muito e ajuda, para outras nem tanto, mas as crianças, os cidadãos, permanecem iguais perante o Estado. Mas este é o governo que instaurou por lei diferenças raciais entre os brasileiros. Sim, eu sei que eles vão contraargumentar que é para o bem. Eu sei que isso não funciona.
Mas o dia de hoje é o coroamento final do acelerado processo de norte-americanização da sociedade brasileira conduzida pelo PT. Claro que eles só estão transferindo aquilo que os EUA tem de pior, as coisas boas nem sonhar. O dia de hoje completa o cenário: em seu acordo com os fundamentalistas religiosos, Dilma é a versão tupiniqui de Bush.
Vamos interromper este processo, pela saúde social do país, pelo respeito e pela igualdade de direitos.
Avanço este completamente aniquilado pelas forças políticas de maior peso no país, que se entregam sem nenhum pudor às associaçoes mais conservadoras e reacionárias (cuja finalidade única é a autoperpetuação como estrutura de poder sobre as massas) em troca de garantia de votos. Desta vez nem o PV segurou a bandeira de uma sociedade mais livre, igualitária, respeitosa das individualidades. O cenário político organizado é definitivamente o pior possível.
Até hoje o foco central estava na supressão da liberdade da mulher em decidir sobre uma gravidez. Os partidos fazem neste exato momento a opção - escolhem mesmo - pela morte de centenas de cidadãs que fazem aborto clandestino no país. A hipocrisia é mesmo o fio de condução da moral de quem pratica o mensalão. Erenice deve ser a santa parideira de filhos tão pródigos.
Mas hoje, para não deixar dúvidas do medo que esta gente está de deixar de mamar no poder, a monstruosidade não vacilou em demonstrar que não tem limites para sua ganância de poder. Tudo bem que Freud e os filósofos mais contemporâneos venham a explicar uma ação de tamanha repressão à maioria do eleitorado (as mulheres) como forma de garantir votos, mas aproveitar a chance e atacar os homossexuais, avisando-os mais uma vez que sob mais um governo do PT eles continuarão como cidadãos de segunda classe, é algo claramente vil: 10% da população, desde sempre descriminada, é muito menos do que os mais de 50% de mulheres. Mas será que eles fazem a conta assim: "se fazemos algo tao em contra as mulheres contando que elas votem no nosso partido, entao talvez se fizermos algo parecido com os gays, eles também irao votar em nós" ?
Pode ser que eles pensem desta maneira, não duvido nada, afinal a Sra. Dilma se orgulha da monstruosidade que é o Minha Casa, Minha vida (lá dela). Mas tenho certeza também que neste caso, os gays não se comportarão de acordo com o esquema que eles imaginam para as mulheres. A reação já começou.
E isto não é para mim nenhuma surpresa: o que está nos jornais de hoje, do pacto de Dilma com as forças obscuras do medo, é o mesmo PT de ao menos desde 1998, um partido declaradamente contra os direitos LGBT: naquela ocasião, Lula afirmou publicamente que, para nao perder os votos dos católicos, ele jamais iria deixar ser aprovado o projeto de parceira civil de Marta Suplicy, que está lá até hoje, caduco, inútil.
E digo mais: já é hora de vermos que não dá para perpetuar as políticas de desigualdade implantadas pelo PT: está na hora de todas as crianças, pobres, não tão pobres, médias médias ou não, terem direito igual ao bolsa-família, como é o caso dos países da Europa onde tais auxílios à infância são tradição: todas as crianças recebem o mesmo valor, para algumas famílias isso representa muito e ajuda, para outras nem tanto, mas as crianças, os cidadãos, permanecem iguais perante o Estado. Mas este é o governo que instaurou por lei diferenças raciais entre os brasileiros. Sim, eu sei que eles vão contraargumentar que é para o bem. Eu sei que isso não funciona.
Mas o dia de hoje é o coroamento final do acelerado processo de norte-americanização da sociedade brasileira conduzida pelo PT. Claro que eles só estão transferindo aquilo que os EUA tem de pior, as coisas boas nem sonhar. O dia de hoje completa o cenário: em seu acordo com os fundamentalistas religiosos, Dilma é a versão tupiniqui de Bush.
Vamos interromper este processo, pela saúde social do país, pelo respeito e pela igualdade de direitos.
segunda-feira, 11 de outubro de 2010
e o debate entre os candidatos à presidência me incomodou
estava tudo muito "agressivo-contido", cheio de perguntas não respondidas, mas no final, a candidata do governo conseguiu me incomodar; aqui o registro da minha reação no twitter:
eu sou contra a idéia de tolerância como mote de uma sociedade; tolerante é a sociedade norte-americana: branco de um lado, preto do outro.
quem tolera, nao interage, nao convive: apenas nao extermina o outro, deixa o outro viver.
uma sociedade baseada na tolerância é uma sociedade dividida!
tolerancia, como resume @sergiosobreira, é disfarce de preconceito! #abaixoatolerancia.
a sociedade brasileira nunca foi baseada na tolerância, o governo de Lula é quem tenta a todo custo fazer com que isso aconteça.
imigrantes, como o pai de dilma, nao sobreviviam sem aprender a língua, sem adotar a cultura local, por isso, o Brasil nunca foi tolerante.
no novo mundo, o Brasil sempre foi, em oposicao aos EUA, um país onde nunca prevaleceu a nocao de tolerância.
um candidato que faz apelo à tolerância, é um candidato que quer aniquilar o Brasil em sua experiência histórica.
eu sou contra a idéia de tolerância como mote de uma sociedade; tolerante é a sociedade norte-americana: branco de um lado, preto do outro.
quem tolera, nao interage, nao convive: apenas nao extermina o outro, deixa o outro viver.
uma sociedade baseada na tolerância é uma sociedade dividida!
tolerancia, como resume @sergiosobreira, é disfarce de preconceito! #abaixoatolerancia.
a sociedade brasileira nunca foi baseada na tolerância, o governo de Lula é quem tenta a todo custo fazer com que isso aconteça.
imigrantes, como o pai de dilma, nao sobreviviam sem aprender a língua, sem adotar a cultura local, por isso, o Brasil nunca foi tolerante.
no novo mundo, o Brasil sempre foi, em oposicao aos EUA, um país onde nunca prevaleceu a nocao de tolerância.
um candidato que faz apelo à tolerância, é um candidato que quer aniquilar o Brasil em sua experiência histórica.
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sexta-feira, 8 de outubro de 2010
o fim do mundo, como nós o conhecemos, e achamos bom
O jornal de maior circulação no fim do mundo confirmou hoje que o fim do mundo continuará onde está por muito tempo.
Nele, a notícia do prêmio nobel de literatura concedido a Mario Vargas Llosa nao se tornou manchete, ficou como um link diminuto ao lado de Durval Lelys, do mesmo tamanho, ou seja, sendo dada a mesma importância.
O curioso leitor que abrisse este texto deparava-se com uma tradução da AFP, sem nenhuma alteração. Agora há pouco, já à meia-noite de quinta para sexta, o tal texto estava um pouco modificado, mas nada de falar do livro do autor sobre o qual os meios de comunicação brasileiros em uma ocasião com esta não podem deixar de comentar: A Guerra do Fim do Mundo.
Não é necessário explicar, mas provavelmente nenhum escritor agraciado com o nobel de literatura tenha antes de Vargas Llosa escrito um livro cuja história se passe na Bahia. É aqui mesmo, no fim do mundo. Condição à qual esta terra insiste em se agarrar, já que no seu jornal de maior circulação parece que ninguém deve saber disso. Creio que ninguém nesta redação deve tê-lo lido, de outra maneira não se explica tal omissão. É o fim do mundo.
Nele, a notícia do prêmio nobel de literatura concedido a Mario Vargas Llosa nao se tornou manchete, ficou como um link diminuto ao lado de Durval Lelys, do mesmo tamanho, ou seja, sendo dada a mesma importância.
O curioso leitor que abrisse este texto deparava-se com uma tradução da AFP, sem nenhuma alteração. Agora há pouco, já à meia-noite de quinta para sexta, o tal texto estava um pouco modificado, mas nada de falar do livro do autor sobre o qual os meios de comunicação brasileiros em uma ocasião com esta não podem deixar de comentar: A Guerra do Fim do Mundo.
Não é necessário explicar, mas provavelmente nenhum escritor agraciado com o nobel de literatura tenha antes de Vargas Llosa escrito um livro cuja história se passe na Bahia. É aqui mesmo, no fim do mundo. Condição à qual esta terra insiste em se agarrar, já que no seu jornal de maior circulação parece que ninguém deve saber disso. Creio que ninguém nesta redação deve tê-lo lido, de outra maneira não se explica tal omissão. É o fim do mundo.
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quinta-feira, 7 de outubro de 2010
Sensacional!!!
Começar um dia com uma notícia destas é demais: aquele que para mim é o melhor escritor vivo do mundo ganha o Prêmio Nobel de Literatura!
Parabéns a Mario Vargas Llosa!
Longe de ser um conhecedor de literatura, mas bastaria La Casa Verde (já escrevi aqui sobre o livro, quando o li: http://drmukti.blogspot.com/2007/12/la-selvtica.html) para garantir ao escritor peruano estar entre os melhores e mais reconhecidos. La Casa Verde, insisto, estabelece um patamar altíssimo de embate para toda esta esquerda rasa da américa latina.
Sim, porque, como no ano passado, com a premiação de Herta Müller, o prêmio nobel de literatura tem sempre uma conotação política. A grande diferença é que Vargas Llosa é um grande escritor, enquanto o livro mais famoso de Müller não chega sequer ao nível mais elementar dos livros dos quais ela tenta se aproximar formalmente.
Seria maravilhoso se no Brasil entre o primeiro e o segundo turno das eleiçoes presidenciais esta premiação gerasse alguma repercussão no debate político. Sei que é pura ilusão minha. Mas se servir para que mais pessoas o leiam, já é um efeito de bom tamanho.
E para quem é brasileiro e ainda nao leu, Tia Julia e o Escrivinhador e A Guerra do Fim do Mundo são obras fundamentais.
Grande notícia, logo pela manhã! Ganhei meu dia!
Una vez más, Felicitaciones a Vargas Llosa!
Parabéns a Mario Vargas Llosa!
Longe de ser um conhecedor de literatura, mas bastaria La Casa Verde (já escrevi aqui sobre o livro, quando o li: http://drmukti.blogspot.com/2007/12/la-selvtica.html) para garantir ao escritor peruano estar entre os melhores e mais reconhecidos. La Casa Verde, insisto, estabelece um patamar altíssimo de embate para toda esta esquerda rasa da américa latina.
Sim, porque, como no ano passado, com a premiação de Herta Müller, o prêmio nobel de literatura tem sempre uma conotação política. A grande diferença é que Vargas Llosa é um grande escritor, enquanto o livro mais famoso de Müller não chega sequer ao nível mais elementar dos livros dos quais ela tenta se aproximar formalmente.
Seria maravilhoso se no Brasil entre o primeiro e o segundo turno das eleiçoes presidenciais esta premiação gerasse alguma repercussão no debate político. Sei que é pura ilusão minha. Mas se servir para que mais pessoas o leiam, já é um efeito de bom tamanho.
E para quem é brasileiro e ainda nao leu, Tia Julia e o Escrivinhador e A Guerra do Fim do Mundo são obras fundamentais.
Grande notícia, logo pela manhã! Ganhei meu dia!
Una vez más, Felicitaciones a Vargas Llosa!
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segunda-feira, 4 de outubro de 2010
o primeiro dia do fim da república do tênis novo ao tanquinho
O atual governo foi eleito prometendo a cada brasileiro a chance de possuir um tênis novo. Lembro-me como hoje da primeira vez que escutei a propaganda política no rádio, onde uma voz jovem masculina proclamava de maneira extremamente engajada a necessidade a ser satisfeita de ter um tênis novo.
Além do tom entre política estudantil e pastor protestante com megafone na mão em praça pública, o que era bem assustador, estranhei a idéia do tênis novo: tinha que pensar naqueles tênis bem brancos que os mauricinhos e patricinhas dos anos 80 usavam para fazer aeróbica, algo muito, muito cafona (isso foi muito antes do revival dos anos 80 de uns 2 anos pra cá). Era como se o grunge nunca tivesse existido ou o Nirvana nunca tivesse estado no Brasil. A noção do tênis novo era acima de tudo desprovida de qualquer senso estético.
Mas isso não era tudo, é claro. Eu não conseguia entender à época como a propaganda de um partido dito de esquerda podia investir simbolicamente em algo tão burguês, no fetiche do consumo, e de algo tão assustadoramente feio. Isso o mensalão, o BF e a falta de investimento em educação vieram explicar depois.
Mas o governo hoje pode ser orgulhoso de além de um tênis novo branquinho ser também o patrocinador através da suspensão dos impostos de um eletrodoméstico tipicamente nacional (talvez exista na China ou Índia também, não sei nem quero saber), que é o tanquinho. Um tanquinho instalado num apartamento vagabundo do minha casa, minha vida (lá dele): esta é a nova classe média.
O tanquinho não existe na Europa; aliás, a maioria das máquinas de lavar à venda no Brasil, com tampa superior e tambor com eixo vertical, quase não se vêem por lá. Lá as pessoas têm máquinas com eixo horizontal, eletrodoméstico para poucos por aqui. O tanquinho do Brasil de Lula é como aquele carro indiano que foi anunciado como o mais barato do mundo: apenas que para seguir as normas de segurança vigentes na Europa e pagar os impostos devidos, ele sairia mais caro que os modelos mais baratos já no mercado.
Desconfio que a chamada maior conquista do governo Lula seja uma invenção: a nova classe média: um grupo que acha que comprando um tanquinho e morando no minha casa, minha vida (lá dele), resolve-se a vida. De tênis novo no pé. Comprar, comprar, comprar. Só isso. E sonhar com o carro indiano.
Além do tom entre política estudantil e pastor protestante com megafone na mão em praça pública, o que era bem assustador, estranhei a idéia do tênis novo: tinha que pensar naqueles tênis bem brancos que os mauricinhos e patricinhas dos anos 80 usavam para fazer aeróbica, algo muito, muito cafona (isso foi muito antes do revival dos anos 80 de uns 2 anos pra cá). Era como se o grunge nunca tivesse existido ou o Nirvana nunca tivesse estado no Brasil. A noção do tênis novo era acima de tudo desprovida de qualquer senso estético.
Mas isso não era tudo, é claro. Eu não conseguia entender à época como a propaganda de um partido dito de esquerda podia investir simbolicamente em algo tão burguês, no fetiche do consumo, e de algo tão assustadoramente feio. Isso o mensalão, o BF e a falta de investimento em educação vieram explicar depois.
Mas o governo hoje pode ser orgulhoso de além de um tênis novo branquinho ser também o patrocinador através da suspensão dos impostos de um eletrodoméstico tipicamente nacional (talvez exista na China ou Índia também, não sei nem quero saber), que é o tanquinho. Um tanquinho instalado num apartamento vagabundo do minha casa, minha vida (lá dele): esta é a nova classe média.
O tanquinho não existe na Europa; aliás, a maioria das máquinas de lavar à venda no Brasil, com tampa superior e tambor com eixo vertical, quase não se vêem por lá. Lá as pessoas têm máquinas com eixo horizontal, eletrodoméstico para poucos por aqui. O tanquinho do Brasil de Lula é como aquele carro indiano que foi anunciado como o mais barato do mundo: apenas que para seguir as normas de segurança vigentes na Europa e pagar os impostos devidos, ele sairia mais caro que os modelos mais baratos já no mercado.
Desconfio que a chamada maior conquista do governo Lula seja uma invenção: a nova classe média: um grupo que acha que comprando um tanquinho e morando no minha casa, minha vida (lá dele), resolve-se a vida. De tênis novo no pé. Comprar, comprar, comprar. Só isso. E sonhar com o carro indiano.
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