segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Gonzalo Rubalcaba Trio, Konzerthaus, viena, 30 de janeiro de 2011

Jorge Schwartz, de passagem por Viena, nos convidou para o show de Gonzalo Rubalcaba, de quem não conhecia nada. Noite super fria em Viena, fomos buscar Jorge no hotel, dali ao Café Schwarzenberg - obrigatório para o público antes dos concertos - e meia hora antes do início do show, ao Konzerthaus; impossível entrar neste prédio e não pensar em Jelinek e Haneke (alguém aqui poe a mão no bolso do casaco sem medo?). Bem, Jorge ficou impressionado já na bilheteria, pois os ingressos foram entregues apenas com a cópia do email, sem que houvesse sido pedido qualquer documento de identificação. É a cidade onde não há nenhuma barreira física de acesso aos transportes públicos, lembrem-se.
Konzerthaus lotado, o trio (piano, baixo e bateria) entra já aplaudido e começa o show de jazz tão atemporal, tão americano, que o que tinha de "ritmo" na bateria me fez lembrar os discos de João Carlos e Victor Assis Brasil que conheci no início da década de 1980. Bem, este não é o tipo de música que escuto, mas eles foram muito, muito profissionais nesta modalidade cujo brilhantismo deve estar na perfeição de fazer parecer improviso o que é extrema e detalhadamente ensaiado. Técnica acima de tudo a serviço de uma música bem "desestruturada".
Uma pequena parte do público começou a sair depois da terceira música, mas devem ter sido os que compraram ingresso para "um show de um cubano" sem saber o que iam escutar, pois os que ficaram até o final aplaudiram entusiasticamente, e ganharam dois bis: o show programado para pouco mais de uma hora chegou a duas horas de duração.
Foi muito interessante, ainda que minha cota deste tipo de jazz esteja preenchida para os próximos tempos. Na saída, nenhum sinal de cacos de vidro. E rumo ao Savoy!

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

ditado bosníaco ou uma versão europeia de um ditado baiano

Esta semana finalmente encontrei com Mladen, o amigo da TU da época que estudei aqui em Viena. Mladen é professor no instituto de tecnologia e construção na faculdade de arquitetura e comentando com ele sobre a palestra do Mr. Big em Munique, ele falou que todo este mundo das estrelas da arquitetura se explica através de um ditado bosníaco, que diz o seguinte:
Um pai, veterano ladrão de cofres de bancos, leva o filho pela primeira vez para acompanhá-lo em seu ganha-pão. Como é a sua primeira vez, o filho está muito nervoso, tem muito medo da polícia, sua frio, olha para todos os lados, e não consegue se concentrar direito para aprender o ofício. O treinamento se repete por mais algumas vezes, e o nervosismo do filho sequer diminui. Um tanto irritado, lá pela quinta ou sexta vez em que o filho o acompanha, o pai lhe diz seriamente: "olha, não procure atrapalhar as coisas, nós fazemos aqui o nosso trabalho, e a polícia faz lá o trabalho dela!"
De minha avó, que conhece muitos provérbios, ditados e expressoes, já ouvi repetidas vezes uma variação mais econômica e bem brasileira da mesma ideia do provérbio bosníaco: "eles são brancos, eles que se entendam."

sábado, 22 de janeiro de 2011

bjarke ingels (o Mr. BIG) em munique, 20 de janeiro de 2011

Foi Diego, super fã, que me chamou a atenção para a data do evento, um dia antes da longa noite de arquitetura em Munique; escrevi para Gabriela, que está fazendo intercâmbio na TUM, e marquei para nos encontrarmos antes para um café, e graças a ela cheguei na hora certa (havia confundido com o horário da abertura da exposição, às 20:00). Antes de ir à TUM, passei na livraria da Architekturgalerie e comprei o livro de Bjarke, yes is more.
Chegamos alguns minutos antes da hora marcada, às 18:30, o Audi Max que logo depois viria a lotar recebia cada espectador com um pequeno envelope fixado na mesa à sua frente: dentro, um comercial em forma de pequeno libreto na mesma linguagem e artefinal de yes is more da empresa de tintas patrocinadora do evento.
Após a apresentação um tanto deslumbrada, um tanto insegura feita pela decana da faculdade de arquitetura, Bjarke Ingels começou sua apresentação em inglês visivelmente nervoso, quase gaguejando diante da numerosa platéia (poucos estudantes de arquitetura da TUM devem ter faltado ao evento), mas somente para depois de quinze minutos demonstrar a segurança do mais novo superstar da arquitetura, que fecha contratos com os políticos poderosos mundo afora. Aos 37 anos.
A imagem de abertura não poderia ser outra que não a de uma animação sobre o reaproveitamento dos recursos naturais feita com os já legendários ícones a la apple que se tornaram uma marca da arquitetura-BIG e que puxou o conhecido mote de que a sustentabilidade não precisa ser sofrida e sim tem que dar prazer.
Com um talento de comunicação inquestionável - inclusive por ser capaz de prender a platéia com uma palestra que ele já deve ter repetido algumas vezes - Bjarke foi comentando seus projetos realizados mais conhecidos (entre eles pavilhão dinamarquês na exposição de Pequim, the mountain, infinity loop) e outros ainda em desenvolvimento (o scala tower, um museu para a capital do cazaquistão, the housing bridge, edifício de apartamentos para o river front em Nova Iorque etc), alternando excelentes animaçoes com fotomontagens de qualidade não menor. Destaque para as 97 maquetes de ideias distintas para a realização do projeto da scala tower e para a pista de esqui proposta como teto da usina de energia no porto de Copenhague.
Em alguns momentos a simplicidade e o frescor com que os projetos foram apresentados faziam lembrar um estudante diante de professores apresentando um TFG, mas ainda assim prevalecia os novos ares da arquitetura internacional que parecem tão distantes da universidade e da produção de arquitetura brasileiras: a obra do BIG, apresentada em conjunto e com tanta vivacidade, é um novo vigor em grande escala do rejuvenescimento trazido pelo MvRdV há mais de quinze anos, apimentado com estratégias de big player aprendidas no OMA.
Os projetos foram apresentados em todo o seu processo de concepção, com base em uma experimentação livre, contínua e investigadora, ainda que os critérios de seleção das ideias não tenham sido explicitados com a mesma clareza (Darwin aparece na palestra e no livro como uma referência).
Em algum momento ficou claro que uma parte significativa do sucesso de Bjarke Ingels está no seu talento como homem de negócios, muito além da arquitetura e muito independente dela. Tenho a impressão que se ele estivesse na informática, estaria concorrendo com facebook e google, ou seria um dos donos destas empresas. Ao mesmo tempo, não pude deixar de fazer um paralelo com o sucesso comercial de Sidney Quintella: mais uma vez para verificar o quanto os contextos culturais, a modalidade de ação dos construtores, cultura dos usuários e distintas formaçoes acadêmicas acompanham compreensoes distintas da arquitetura. Os resultados estão aí para comprovar esta tese.
Aqui e ali uma pequena pitada de arrogância, mas nada demais, normal até para quem tão jovem já construiu tanto e tem tanto sucesso. E no fundo havia o lado positivo de não ser uma típica palestra onde arquitetos falam mais do que não construiram, normalmente num tom melancólico-negativista.
Super aplaudido no final, Bjarke e a universidade convidaram para a abertura da exposição em seguida, na pequena Architekturgalerie, para onde todos os presentes foram curtir a cerveja de graça no pátio, sob forte nevada. A exposição, é óbvio, não dava para ser vista nestas condiçoes. Voltar para ver com calma.

sábado, 15 de janeiro de 2011

Me leve a qualquer lugar: Tennis, ao vivo em Munique, 14 de janeiro de 2011

"muito, muito obrigado. A nossa banda existe há apenas 8 meses e nós temos 13 cançoes e já as tocamos todas hoje à noite, infelizmente não temos nada mais para tocar! Muito, muito obrigado": com mais ou menos estas palavras Patrick Riley, guitarrista da banda Tennis, retornou ao palco ontem à noite para agradecer os aplausos e se desculpar por não poder oferecer um bis. Não deixou de ser um charme, mas para um repertório deste tamanho é a única atitude correta depois de um show de pouco menos de uma hora que foi incrível de tão emocionante, vigoroso, e dançante (no Brasil teria sido um show dançante, tenho certeza, mas na Alemanha...).
Os três subiram ao palco do clube 59:1 sem nenhum alarde pouco antes das 22:00 horas e as cerca de 200 pessoas da plateia se aglomeraram à frente da banda, que abriu o show visivelmente nervosa, cumprimentando a platéia apenas depois do primeiro número, Take me somewhre, também primeira do disco. Na seqüência das cançoes, Alaina, vestida em um conjutinho escuro de saia e blusa justos que a levaria a ser confundida no Brasil com uma testemunha de jeová, foi soltando cada vez mais a voz - aqui e acolá, ao vivo, você pode lembrar da voz de Cindy Lauper - e entre um refrão e outro, durante os solos de Patrick, ela dançou alucinadamente como se fazia nos anos 60, tão fiel à época como a sua música o é à surf music.
Entre uma canção e outra, as explicaçoes de como foram escritas ou sobre o texto, sem deixar de lado as quase ingênuas, quase teatrais histórias sobre o tempo que passaram velejando. E um sorrisinho nervoso de quem pode beirar o histerismo. Adorei.
O som da banda ao vivo é muito mais forte e limpo que as gravaçoes do cd sugerem (ali tem um efeito vintage talvez exagerado) e os vocais muito mais soltos, o que já se pode ver nas faixas do daytrotter. James Barone, o baterista, manda muito, preenchendo com bastantes variacoes o pano de fundo, Patrick é muito bom guitarrista - e tocou algumas cançoes de maneira bastante distinta das gravaçoes - e Alaina comanda tudo com seu teclado que faz as linhas do baixo e alguns solos (dez para a mudança de velocidade na introdução de South Carolina). Não deixa de parecer que o teclado é o novo auxílio luxuoso depois da formação guitarra-bateria de alguns anos atrás.
South Carolina é até agora a minha preferida, com o inesperável verso the little ilands lees, e foi muito, muito bom ouvi-la ao vivo, mas o público vibrou mesmo com o "hit" da banda, Marathon. Foram muito aplaudidos durante toda a noite e não foi possível disfarçar a empolgação e a crescente segurança no palco, bem de quem está começando. Super legal.
Terminado o show, como Patrick voltou ao palco e dali não saiu mais, conversando uma ou outra coisa com as pessoas, fui ao balcão onde vendiam cds, comprei um e fui até ele para pedir um autógrafo, que ganhei com direito a dedicatória e tudo (e com uma letra a mais no meu nome). Fui embora feliz.
Ao vivo, Tennis mostra porque em tão pouco tempo já faz sua primeira turnê européia; redondinhos na realização de uma estética, mostram que podem mais que isso. Que venham outros ventos. E que viva a internet e o daytrotter.
PS o clube 59:1 é um lugar bem interessante, passando por Munique, vale a pena conferir a programação.

comprados desde dezembro

de tênis ao show de Tennis

o autógrafo

domingo, 9 de janeiro de 2011

pausa sobre salvador

Nesta semana que passou as críticas ao prefeito e à cidade de Salvador têm se multiplicado: Michele, in-digna-díssima, pôs a boca no trombone e Fábio indicou um blog chamado Salvador Caótica, com um texto muito bom sobre a cidade, ambos no twitter. Assino em baixo de tudo o que Michele falou, com toda a razão, e não é possível discordar do texto do Salvador Caótica. Mas por mais que eu não veja razão prática para outra coisa senão a crítica, minha empolgação se manteve contida.
Nestes primeiros dias do ano a imprensa oficial - a financiada através de propaganda pelo governo estadual - destacou com um vigor fora do comum a desaprovação das contas da prefeitura e os protestos dos "estudantes organizados" contra o aumento da passagem de ônibus. Dá para não ser contra a atual prefeitura?
Difícil. Mas desde que o governo do estado através de seu órgão que cuida dos recursos hídricos tentou atrapalhar a obra de tapamento do rio no Imbuí pouco tempo depois de ter aprovado sem restriçoes a obra de tapamento do rio da Avenida Centenário - estando entre os dois tapamentos, o "grande evento político" do rompimento da aliança entre o grupo que está à frente do estado da bahia e o grupo que está a frente da prefeitura - percebi que estávamos à porta de uma situação velha conhecida na cidade.
Tal clima estava presente na entrevista da atual presidente do país quando, em visita a Salvador para o início das obras dos viadutos e avenidas que partindo da rótula do abacaxi chegam ao porto destruindo e enfeiando mais a cidade, ela afirmou que para esta obra ela garantia que não faltaria recursos, em uma clara referência ao metrô, obra na qual a prefeitura está envolvida.
No dia 22 de dezembro passado, há pouco mais de duas semanas, presenciei no Rio Vermelho às 21:30 o roubo de um automóvel: rua cheia de gente, muitos carros estacionados, e os ladroes tiveram toda a calma para diante de umas 20 pessoas tomar a chave da mão da dona do carro, entrar, ligar o carro e sair. Nenhum policial ao redor, até Ondina, direção que tomamos depois de deixar imediatamente o Rio Vermelho.
Estou seguro que tudo isso não vai mudar até o dia das eleiçoes para prefeito, ao contrário, só deve piorar. A história ensina: assim o fez ACM com Lídice, quando ela era prefeita. Quem vive em Salvador hoje percebe há muito tempo o que está acontecendo de novo.
Por isso cada crítica hoje tem o potencial de ajudar quem estrangula a cidade. Quem foi aliado durante anos do atual prefeito e antes não via problema algum em sua gestão. Até achou lindo o tapamento do rio da Centenário.
Tenho um pequeno trabalho acadêmico sobre Salvador para publicar e queria ainda escrever aqui uma pequena comparação dos preços dos transportes públicos. Mas estou me decidindo a não tecer mais nenhum comentário crítico sobre a cidade até o dia da eleição para prefeito.