segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

odete roitman ni mim ou como assisti 3 vezes seguidas a "It's Kind of a Funny Story"

Tudo já começou no saguão do aeroporto em Munique, com brasileiras correndo com salto alto para ir ao banheiro mesmo estando com o cartão de embarque na mão, muito antes de qualquer chamada para o vôo a Lisboa. Bem, deste grupo de viagem, dois sentaram na fila exatamente atrás de onde eu estava sentado e, por azar meu, ao lado de um brasileiro que mora na Alemanha há alguns anos, resultado: conversaram todas as três horas até Lisboa em altíssimo volume sobre todas as banalidades que uma conversa desta pode ter: o cúmulo foi eles terem contado que, na noite anterior em um bar, o garçom tinha vindo pedir que eles falassem mais baixo. Eu quase me virei para dizer que desta experiência eles nao tinham aprendido nada, mas deixei pra lá, eles, o que eu queria ler e o tempo que eu queria cochilar.
Bem, já era quase de se esperar que o vôo seguinte, entre Lisboa e Salvador, não fosse muito diferente, contando com o acréscimo da típica fauna que vem ao Brasil para o carnaval: sim, lá estavam eles, os grupos de turistas italianos a busca de sexo com mulatas. Na fila para embarque, que já estava formada quando cheguei, tentava imaginar quem era o(a) solitário(a) que teria o assento com letra A ao lado do meu com letra B. Não consegui identificar ninguém que pudesse ser neutro o suficiente em comportamento para uma boa viagem; todos os meus medos se confirmaram: ao chegar ao lugar onde passaria as próximas horas, ali estava já uma profissional do sexo made in brazil que insistia em falar com os funcionários da TAP e comigo em francês (sim ela tentou, até que respondi em voz alta que ela falasse comigo em português, o que a fez calar). Se ficasse nisso, menos mal, mas cada movimento que ela fez era uma cotovelada que eu recebia. Com que alegria ouvi a mensagem do piloto ainda antes da decolagem que, graças aos ventos alíseos, o vôo iria durar uma hora a menos, o que realmente aconteceu.
Como a minha vizinha não conseguia usar os apetrechos eletrônicos e ela insistia em falar comigo em francês (olha, eu ouvi ela falar com as amigas em português do Brasil, acreditem em mim), então a solução foi por os fones no ouvido e pedir para não ser interrompido por causa do filme que estava passando (exatamente este tipo de gente que não vê problema algum em interromper a sua leitura, mas acha que um filme na TV tem que ser respeitado, "porque depois não passa de novo") e assim assisti duas vezes e meia o filme It's Kind of a Funny Story e metade do filme Secretariat, a história do cavalo mais rápido de todos os tempos.
It's Kind of a Funny Story tem Zach Galifianakis no elenco, o que em si já é um grande motivo para ver um filme. Sou fã. Mas o filme é muito bom, independente desta razão que me fez parar o seletor imediatamente ao vê-lo na tela. A partir de então, minha vizinha passou a ser apenas as cotoveladas. It's Kind of a Funny Story é daqueles filmes que mostram porque cinema está para os EUA assim como samba está para o Brasil: os outros podem tentar fazer, mas quem pode, pode. Ritmo, trilha sonora, inserção de desenhos, atuação do elenco, história e roteiro, o conjunto é montado com uma sensibilidade que mantém com maestria ficção e compromisso social (sim, isso mesmo) em um equilíbrio que não é fácil de conseguir (tudo aquilo que a globo faz da pior maneira possível com os temas didático-pedagógicos nas novelas das oito / das nove).
O filme conta a experiência durante pouco menos de uma semana de um adolescente que se interna voluntariamente em um hospital psiquiátrico para tratar tendências suicidas. O tema individual é muito bem inserido no espaço social do hospital e, ainda que o que podemos ver da reflexão pessoal do personagem principal talvez pareça pouco profundo, a perspectiva permanece a de um adolescente que, como diz uma das personagens, está ali acumulando experiência; super condensada, super intensa, super ágil, para caber em um filme. Emocionante, positivo e de bom humor, além de ser um filme daqueles que deveriam passar nas escolas, It's Kind of a Funny Story foi perfeito para me levar a outro lugar (nem aquele onde eu estava e nem aquele para onde eu estava indo).

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

sobre a famosa demissão no jornal do fim do mundo, o Vespertino

Arquitetos em Salvador vivem há décadas sob jugo do mercado imobiliário e ninguém diz ou faz nada em contra.
Há aqueles arquitetos que colaboram e sempre colabraram com o mercado imobiliário, como há jornalistas e jornais que também o fazem e sempre o fizeram.
Os que colaboram ostensivamente com o mercado imobiliário nao fazem coisa boa nem para a arquitetura nem para a imprensa, e principalmente nada de bom para a cidade.
Mas porque as pessoas escolhem uma opção de organização social (atraves das eleiçoes) que só dá mais peso ao mercado imobiliário?
Pois, os que votaram nos autores e empreendedores do Minha Casa, Minha Vida (lá dela), votaram pela possibilidade de demissão do jornalista de A Tarde. Uma coisa implica a outra. É assim.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

próximas eleiçoes

depois dos oito anos do governo lula, tive que resignar e aceitar que "ninguém, ninguém é cidadão", nem chegará a ser nos próximos tempos: a única condição política hoje de um brasileiro é a de consumidor: dinheiro, mesmo pouquinho, que dê para comprar uma falsa máquina de lavar (o nacionalíssimo tanquinho), este é o único elemento que dá lastro a alguma nossa definição coletiva.
Daí que já tenho definido a quem darei meu voto nas eleiçoes para presidente daqui a quatro anos: voto em quem prometer trazer para o Brasil - e não somente para Rio e São Paulo - filiais do IKEA e do H&M. Para a felicidade da nação!

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

calatrava jamais

Hoje fiz mais de 200 fotos de um edifício horroroso, o impacto foi tamanho que nao consegui parar de fotografar; sim, com intençoes didáticas de tentar guardar ao máximo a impressão de como uma arquitetura não deve ser: trata-se de um shopping center combinado com edifício de escritórios, em Oviedo, Espanha, de autoria de Santiago Calatrava.
Ter estado diante deste edifício hoje me fez entender muitas coisas: as críticas européias à obra de Niemeyer nos anos 50, o fantasma da tipologia que assombra e nina a arquitetura desde os anos 60 e o erro que é tudo aquilo que pode, ou melhor, precisa ser entendido sob a epígrafe "late modern".
É estranho diante de tal coisa ainda entender a arquitetura como algo que passa por um processo decisório coletivo bem amplo antes de ser construída, pois aquilo parece vontade exclusiva do arquiteto que a projetou; em outras palavras: ninguém de bom senso esteve ali envolvido para evitar aquilo?
O edifício em questão pode ser entendido muito simplesmente: desperdício, desperdício, desperdício. Um horror.
E tive que pensar no Rio de Janeiro: alguém precisa fazer com que o tal museu na beira do mar não venha a ser construído; para o bem da cidade, que já sofre tanto com uma insanidade musical-arquitetônica na Barra. Niguém merece dose dupla do que não presta.