sábado, 26 de março de 2011

eu só quero amor, amor, amor (impressoes da calourada 2011)

Não foi possível almoçar: saímos Any e eu da aula direto para o super calor de mormaço de meio-dia do estacionamento do PAF, onde encontramos Fábio com a montagem do stand de arquitetura já no lugar (que media 7m² a menos que o previsto, mas que ao menos era de esquina). Desdobramos a fita-painel para a posicao projetada, inserimos a primeira maquete (e as outras mais tarde quando Renata chegou), levantamos primeiro a divisória lateral, depois a do fundo, e passamos a tarde ali torcendo para a chuva nao cair, o que efetivamente aconteceu. O stand foi um sucesso, o que nos motivou ainda mais a ficar para os shows de a cor do som e otto.
Desmontados e devidamente despachados os painéis, começou no palco principal uma daquelas coisas chatérrimas que algumas pessoas fazem achando que está divertindo alguém, que demora muito tempo sempre e que ninguém precisa um dia na vida ter escutado. A banda de abertura, cujo nome não me lembro, não nos fez levantar das cadeiras de plástico que tomamos para nossas em um dos stands esvaziados.
Finalmente quando anunciado o show de A Cor do Som, fomos para perto do palco, tinha que ser ali para vê-los todos reunidos novamente depois de tanto tempo (para mim, pelo menos). E que show! Armandinho, como se ainda precisasse ser dito, mais uma vez mostrou porque é o maior instrumentista que esse lugar já teve ou terá, especialmente naquelas cançoes instrumentais ao estilo próprio influenciado pelo rock progressista dos anos 70. É claro que o ponto alto estava, para além de vê-los ali reunidos, nos super sucessos que mostram como pop um dia teve qualidade neste país: dentro da minha cabeça, beleza pura, zero, azul de jezebel. Além disso, é impossível não pensar e sentir o quanto a música de carnaval poderia ter sido nos últimos 20 anos, é essa lacuna imensa que retrofoguetes e baianasystem tentar superar com uma ponte de imenso vão sobre um mar de lama. Eu queria mais do show até agora (a propósito, para quem estiver em salvador, hoje tem mais, na ribeira).
Depois veio Otto, com seu jeito mondrongo-sensual de ser ao tirar a camisa, dar uma reboladinha e molhar o cabelo com água mineral: haja coreografia! Otto ao vivo é sempre uma coisa muito distinta das gravaçoes, o que já vale por si. O som meio desleixado, meio incongruente da banda tinha seu charme, esteticamente parecia ser aquilo mesmo o que o público queria, e nao era mal, apenas era muito contrastante com a perfeicao hard-baiano-rock-pop-glamour-carnaval de A Cor do Som momentos antes. Filosófico ao se dirigir aos universitários, Otto foi tocando um hit atrás do outro (meu preferido da noite: o celular de naná), e a platéia curtiu muito. Muito, muito bom.
Se o serviço do único bar tivesse sido melhor (atendimento mal humorado, bebidas quentes), a festa teria sido exemplar. Nada não, eu só quero amor, amor, amor, dentro da minha cabeça.

terça-feira, 22 de março de 2011

Do osso do inverno

Começou a chover em Salvador e fui ver O Inverno da Alma (Winter's bone), e nada poderia ser mais preciso para marcar tamanha distância entre as duas situaçoes. O Inverno da Alma - que se passa num inverno de verdade, e não em um outono de 31°C - é um dos filmes mais estadounidenses que já vi. Nao dá para chamar de norte-americano, pois seria muito difícil transpor o que o diretor tem na cabeça para o Canadá ou México.
Há momentos de certa angústia que fazem lembrar A tempestade de gelo, mas dois filmes não poderiam ser mais opostos.
Pense na idéia mais arcaica e rural e branca que você pode ter dos EUA e pense na devastação que as drogas podem fazer neste espaço social. O filme é, entre outras coisas, sobre isso. E lembre da idéia que os americanos têm sobre ser um povo eleito por deus (por quem, mesmo?), capaz de através de sua pureza vencer todos os obstáculos. O filme, se visto daí, assume ares de tragédia grega tomada para si pela nação estadounidense. Aí eu fiquei com medo. Porque o filme teria tudo para ser um excelente filme (fotografia, atores, trilha sonora, até mesmo o roteiro adaptado), mas o classicismo e a redenção ali são verdadeiramente assustadores. O filme pode ser duplamente apavorante.
Como podem ser tão ingênuos os filmes do sertão brasileiro.

sábado, 19 de março de 2011

obama no brasil ou pura poesia

Hoje tive a impresão que a questão central da visita de Obama ao Brasil eram os vestidos de Dilma e Michele. Não gostei de nenhum dos dois (dos primeiros, hoje pela manhã). E como não tenho muito interesse ou paciência por Obama ou Dilma, acho que dificilmente verei outros vestidos para poder comparar melhor. A grande sensação dessa visita pelo visto será mesmo a desistência do presidente dos EUA em falar em espaço público, aberto, à população do Rio. Depois de ele ter tomado banho no superpoluído Golfo do México, eu só ia sair da minha rotina para vê-lo no noticiário da TV se ele fosse tomar banho no piscinão de Ramos. Aí sim íamos ter o que falar.
Mas Obama chegou num momento muito atribulado da sociedade brasileira: graças a Maria Bethânia estamos todos muito ocupados com poesia, não dá para dar ao Mr. President a atenção que ele talvez merecesse. A poesia nos espera.

terça-feira, 8 de março de 2011

segunda de carnaval, entre a tv e o twitter

Ontem trabalhei mais que assisti ao carnaval na tv. Acabei vendo as três primeiras escolas de samba, até o toró cair sobre o Rio, mas estava mais concentrado no twitter, Diego enviando links para pesadelos arquitetônicos locais, coisas de quem tá em casa só esperando o carnaval passar. João enviando um site legal de defesa do FKK, onde você passa o mouse sobre a foto da pessoa vestida e ela aparece nua (dá a sensação engraçada de que ninguém usa roupa íntima).
Mas deu para se divertir com a tropa de elite gay e o relacionamento de king kong com monga, no salgueiro. Não vi pessoa que sambasse, era toda uma reprodução de coreografias de musicais do cinema, especialmente na glamourosa escada, mas samba mesmo, sei não. Já o que tinha visto à tarde do carnaval local era bem estranho: o cantor meu xará do psirico vestido de gueixa, mas nada cortês, querendo passar por cima da mudança do garcia. Foi o dia dos atrasadinhos apressados no carnaval. Era segunda-feira.

segunda-feira, 7 de março de 2011

domingo do carnaval de 2011 (em frente à tv)

Claro que não dá para ver as transmissoes de tv locais, ainda não pretendo cometer um atentado nem me suicidar. Assisti à transmissão da globo do carnaval da sapucaí, coisa que nunca havia feito e cuja razão era todo o hype ao redor de Paulo Barros (eu não estava aqui no ano passado).
A globo do rio parecia que tinha se inspirado na tv bahia: os repórteres de esporte com conceitos estéticos muito duvidosos (uma achou algo bonito porque era tudo do mesmo tamanho...) ou histerias incontroláveis. De qualquer forma, todos muito mal vestidos: a chefe da caixa de vidro estava fantasiada de marta do futebol e o homem que sempre está de paletó, tinha uma fantasia de homem maduro meio derrubado e mal vestido.
As pessoas que comentavam não diziam nada. E o pior foi o tratamento de coitadinha dado à Portela, escorria pieguice. Não entendo nada do carnaval do Rio (para mim é toda uma cultura muito distante, como se fosse algo assim da Índia, com regras que precisam ser estudadas e que nada tem a ver com o seu cotidiano: alteridade é a palavrinha), queria apenas ver o trabalho do carnavalesco da unidos da tijuca.
A primeira coisa que me impressionou foi uma certa dificuldade de edição de imagens ao vivo: os resumos nos telejornais funcionam bem melhor. As duas primeiras escolas passaram, a melodia dos sambas não se consegue perceber, os temas eram meio xoxos, e nao vi muita coisa interessante: aliás achei de gosto duvidoso a comissão de frente da imperatriz. Depois veio a portela, com aquela noção de usar as cores da escola nas fantasias que deve ser algo tradicional.
A transmissão da tv caprichou na expectativa com a unidos da tijuca. A comissão de frente foi mostrada à exaustão, tirando o tempo de transmissão das outras partes da escola. Ainda não entendi a relação entre o tema do medo e o cinema, que para mim parece ter sido o tema mesmo da escola (como se só sentíssemos medo no cinema, é isso?). Tudo muito elaborado, impacto visual e interpretação teatral, mas nada de samba, não vi ninguém sambando. As cores da escola, diferente da portela, eram como se não existissem. Além das cabeças cortáveis da comissão de frente (ou os repórteres da globo são muito burros ou eles fazem o público de burro, pois depois de ver duas vezes, qualquer pessoa podia sacar qual era o truque), os gorilas, o tubarão, freddy krüger, almas penadas, espantalhos, dinossauros, a mesa inclinada e móvel com bruxos (muito legal o efeito cênico do movimento), ali estavam ainda idiana jones, que ao menos sofre com algum medo nos filmes, e priscila. Não entendi. Quem tem medo de priscila? Os homofóbicos? Mas ela fica assim alinhada com os monstros e a pedra de que Indiana Jones fugia? Eu ainda estou com o "Como assim?" sem resposta.
Teatral, tudo era muito livre, em associaçoes e liberdade de expressão, mas o conceito era muito desarrumado, sem uma linha consistente de transcrição. O cara tem muita liberdade e criatividade, e se perde algumas vezes. O que foi aquela ala do cinema nacional? Aquele povo vestido de passeata era tão fora de tudo que vinha antes e que veio depois, com Zé do Caixão, que não há como inseri-lo no conjunto.
Fui dormir assim que Paulo Barros deu uma entrevista, super feliz, com razão. Mas tinha que pensar: "Quem tem medo de Priscila, a rainha do deserto?" Quem?

domingo, 6 de março de 2011

sábado do carnaval de 2011

Rogério e eu chegamos a conclusão que neste carnaval há duas novidades: os incontáveis mototáxis na av. centenário e as bolas quadradas no circuito, à frente dos blocos. Os primeiros causaram muito barulho, as segundas, assombro.
Ontem acordei muito cedo depois de dormir muito pouco: ao meio-dia estávamos eu Rogério e Roberto a caminho da praia, a minha primeira da época pós-barracas. Gostei, e nao foi pouco. Na praia a equipe de uma empresa que fabrica entre outras coisas máquinas fotográficas digitais fez uma foto nossa. E de todo mundo - que era pouca gente - que estava ali. A única coisa da praia pós-barraca é que os arremedos de barraca que lá estao cobram preços exorbitantes por qualquer coisa. E tudo parece meio clandestino, você até pode ter a sensação de estar fazendo algo ilícito. Divertido se não fosse caro.
Voltamos para almoçar e depois de descanso lá fomos nós de táxi-engarrafamento da garibaldi à barra avenida. Do cristo ao farol, vimos um trio que era melhor ter esquecido (logo isso será realidade, não é de preocupar) e como não sei a ordem exata, Parangolé passou, depois a Timbalada lotadíssima que ninguém podia dançar dentro das cordas e por isso o bloco muito, muito desanimado. Nao sei agora se já esqueci algo, mas antes de chegar ao Farol ainda veio Carlinhos Brown acompanhado daquela coisa asquerosa e inútil que sao aqueles três seres humanos pintados de azul: aquilo tudo era mais um evento publicitário do que um bloco de carnaval ou sei lá que nome brown dá àquilo: de qualquer forma, uma tristeza quando a publicidade toma conta de tudo e a coisa mesma torna-se secundária.
Na curva do farol passou um bloco de abadá amarelo, mas sabe lá que banda tocava. Só sei que tocava "minha pequena eva", como quase todo ano a "música mais tocada deste carnaval", o que dá um certo tom pós-moderno/restart/"eu sei lá de onde vem isso" à coisa toda. Esquisito. No farol estavam já todos, erámos quase os últimos. Vieram entao a mulher maravilha, o superhomem, batman, robin, e outros não-tão-super heróis lá em cima do trio. O que eles tocaram nem precisa dizer.
Eu também nao sei mais se ainda veio outro trio, só lembro de ver a ultrapassagem de fórmula 1 do trio de daniela contra um outro pouco antes do farol. Ela chegou mandando ver, mas a partir dali foi toda aquela coisa do teatro, um falatório desnecessário e sem fim, um saco! Moreno apareceu nessa hora e disse que ia logo embora.
Claro que descemos acompanhando, era o que tinha para fazer; perdi-me de todos, quando pude constatar mais uma vez que o dinheiro mais mal gasto em publicidade do governo é o da campanha para nao se fazer xixi na rua: vai fazer aonde pelo amor de deus????? Depois disso ainda encontrei vicente, reencontrei rogério e roberto, encontrei beto, breno, e depois me perdi de novo. Era hora de voltar para casa. Desta vez sem o milagre do ônibus. Carnaval agora talvez somente em 2012: ainda nao sei como é o calendário ano que vem.

sábado, 5 de março de 2011

sexta do carnaval de 2011

dormi muito pouco, o que já não é novidade; feijoada deliciosa na casa de Rogério, que simpatia de convite (e tem alguém mais querido neste mundo?); depois tentei descansar em casa, saí cedo, por volta das 19:00 horas para a Barra, caminhando até lá, claro. Muito calor, aquele vento úmido e pesado que não deixa dúvida que já é março.
Do que vi (ou não quis ver nem lembrar): Netinho ia chegando no cristo, com menos de um minuto dei a volta e passei pela outra rua. Depois Ivete, que fez as pessoas dançarem como sempre, mas que parecia meio cansada no burocratismo com que pronunciava palavroes. Na sequência, um trio com música eletrônica daquelas que tocam em qualquer boitezinha em salvador (para que pagar por isso no carnaval?). Depois veio a cantora lacttosa, cujo trio deve ser o único que tem a potência imensa dos trios de uns 15 ou 20 anos atrás: tapei meus ouvidos para a sua passagem (é verdade que faria o mesmo se fosse um radinho de pilha). Depois veio a banda do superman e da mulher maravilha (só isso mesmo) e o trio elétrico super comprido com a banda Jammil sobre ele (as pessoas até dançaram, mas nao é a minha....). Aí veio o Eva, que conseguiu o primeiro ponto alto da noite do Farol: todo mundo pulou.
Aqui e ali chuviscava, mas nada que ninguém quisesse perceber. Passaram ainda o homem que fala a língua da xuxa - é tao estranho que ele seja cantor, mas afinal estamos no fim do mundo - e uma banda toda fantasiada de árvore (ou aquilo que eu sem óculos achei que pareciam mais bem bananeiras que árvores) antes de Psirico, o grande show da noite (mas alguém precisa dizer a este meu xará que ele precisa falar menos, tá imitando brown demais nisso, o povo tá ali para dançar... e como dançou!). Deixei Ricardo lá esperando viviane trípodi (fetiche dele), mas antes disso veio a chuva e um trio com uma mulher cujo nome poderia ser usado em shows de transformistas. Fernando ainda disse numa crueldade sem fim que o nome dela  não tinha o L no meio.
João chegou depois da chuva, e logo depois deixei o carnaval. Ainda tive a sorte de um ônibus completamente vazio fazer um retorno à minha frente na centenário: nao precisei subir ladeira.

sexta-feira, 4 de março de 2011

no meio do carnaval

como acontece todo ano e de acordo com o que está publicado em famoso livro, já repetiram hoje na TV a mesma história deturpada. Por isso estou aqui apenas para reafirmar como as coisas aconteceram: sem Moraes Moreira, Luis Caldas, Sarajane, Paul Simon ou Chiclete com Banana, apenas para citar alguns, ninguém fora da bahia nunca teria prestado atencao aos tambores do pelourinho ou da liberdade. Foi assim que aconteceu, por mais que tentem negar.

quinta-feira, 3 de março de 2011

a violência como regra do jogo social

como vejo as coisas (sim, não sou sociólogo nem antropólogo): creio que herdamos, entre tantas, duas características estruturais dos nossos colonizadores ibéricos: um certo desprezo por tudo que é público (o xixi na rua como ícone) e a desconfiança como relação fundamental entre as pessoas e entre o estado e os cidadãos (a cultura da fotocópia autenticada).
Por aqui, em terras americanas, a violência foi acrescentada, e atua como expressão do irracional numa sociedade por demais pragmática, funcional (aquela que foi estabelecida com a exclusiva finalidade comercial). Aquela arquitetura super elementar de três vãos de porta iguais que é recorrente na chapada diamantina ou em minas gerais completa-se com a exploração dos escravos e o extermínio dos índios.
A violência é uma das nossas (significando aqui nós, os brasileiros) expressoes do irracional mais fortes e disseminadas: através dela nos relacionamos com frequência com o outro. Tão forte que nos grandes centros urbanos - que só surgiram por aqui em meados do século XX e que são um agravante de muita coisa em função simplesmente da densidade populacional - a violência tende a eliminar o convívio social: quem pode, estabelece a grade como separação, elemento cuja eficácia é condição mais que elementar para a moradia, trabalho e diversão da classe média.
Mas de vez em quando a classe média brasileira tenta ir conhecer o mundo lá fora, ver "a vida como ela é" e sai das suas blindagens, muitas vezes sem nenhum preparo para a coisa. E também sem nenhuma informação sobre a coisa. Na maioria das vezes caem no espaço sem lei criado por eles mesmos para os outros, o espaço regido pela violência, e se dão mal (não conheço estatísticas, mas este encontro entre público e privado que os chat rooms oferece tem levado a um sem número de crimes especialmente no brasil). Depois voltam pra casa (ou para os noticiários de tv e as mídias outras, porque eles sim têm acesso direto a tudo isso) e vão choramingar da violência, que "os outros" (que são eles mesmos) não os respeitam - de confiança nem falar - e que as regras (hahahaha) não foram cumpridas. A palavrinha chave é "Absurdo!"
Do seu discurso, fica claro que imaginam alguma transformação, mas também que querem passar por tudo sem dor ou sofrimento. O difícil é imaginar isso em um espaço regido menos pelas regras e mais pela violência.
Assim vejo os ciclistas atropelados em porto alegre. Bem vindo ao brasil que vocês criaram para os outros.