sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Koolhaas em Sao Paulo, ou Lagos é aqui (nao o Haiti)

Pelo visto pouca gente leu os livros de Koolhaas, para tanta indignação ou incômodo por conta da semelhança apontada pelo arquiteto entre São Paulo, Lagos, Jacarta e Manila.
Deve ter muita gente mesmo acreditando neste papo de que o crescimento do PIB resolverá todos os problemas da nação, mesmo que boa parte desta crença cada vez mais me pareça uma maneira de tentar recalcar a culpa de quem parou a reflexão antes da hora. Refletindo só um pouquinho, qualquer um pode ver que isso não vai dar certo.
Lagos é algo mais que a Feira de São Joaquim, certo?
Porque se o incômodo ou a indignação é com o conteúdo do livro, porque então trazer Koolhaas ao Brasil se não queriam escutar a constatação mais óbvia que ele podia ter feito?
Caetano disse há muito tempo atrás, na canção que fala da cidade, que narciso acha feio o que não é espelho; o brasil de hoje insiste em não enfrentar o espelho, achando ruim quando alguém o obriga. Recusa feia.
Uma das piores coisas que há é exatamente isso, arrogância sem motivo. Ignorância, bobagem.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

inglaterra X brasil, a semana

Nas redes sociais circulou esta semana um pequeno parágrafo que dizia que os acontecimentos em londres, nas bolsas européias e o rebaixamento da credibilidade financeira dos EUA eram os grandes sinais de como o mundo se torna cada vez mais brasileiro.
Nesta mesma semana assistimos a como os policiais do Rio de Janeiro atiraram contra um ônibus sequestrado, ferindo gravemente cidadãos reféns sem que os sequestradores tivessem disparado uma única bala. Hoje acordamos com a notícia do assassinato brutal da juíza que combatia os grupos de extermínio na região metropolitana do Rio.
Enquanto isso, na Inglaterra, depois de 4 dias de incêndios e depedraçoes, o congresso discutia se à polícia seria liberado o uso de balas de borracha (!) contra os saqueadores. Mesmo sem atirar em ninguém, foram presas centenas de pessoas e contra a maioria delas a justiça já está trabalhando, inclusive contra aqueles menores de idade.
Ah, doce ilusão que tudo seria assim tão fácil.... para chegar ao brasil, a ladeira íngrime ainda é muito, muito longa e os freios ainda estão funcionando muito bem. Mesmo com os brasileiros tentando por tachinhas no meio da rua.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

SPAN, uma (muito) pequena exposicao de arquitetura

Em cartaz no MAK, em Viena, uma exposição sobre o trabalho de SPAN, o escritório de arquitetura que assinou o pavilhão austríaco, muito bom por sinal, na exposição mundial de Xangai no ano passado. A foto da galeria no flyer do museu prometia muito, chegando lá a surpresa foi grande: o forro plotado, em forma de concha, que domina todo o espaço reservado para a exposição, abriga quase nada: duas tvs e uma plotagem 3D. A plotagem 3D é bem interessante, apresentada na altura de uma cama e com padroes naturais, pode ser lida como uma colcha cujos padroes florais ganharam tridimensionalidade ou um relevo de uma planeta distante representado em escala: legal mesmo é ver a sequência linear de ação do equipamento de fresagem sobre o material.
Nas TVs sao apresentadas em forma de loop contínuo duas animaçoes: uma delas mostra uma estrutura para lá de orgânica, extremamente próxima esteticamente ao Alien dos filmes, que vai sofrendo uma metamorfose contínua. A outra animação parte de imagens aéreas de cidades - uma delas Barcelona (afff......) - para descrever a metamorfose da estrtura urbana contaminada por um desenho como o mostrado na primeira animação.
Muito estranho na estrutura alienígena é a sua simetria, absoluta, que leva inclusive cada imagem parada a parecer uma prancha do teste de rorschach: porque algo tão assumidamente orgânico não pode ser mais adaptável, menos ligado a um eixo rotacional de movimento e um eixo de simetria de composição?
Na segunda animação, a metamorfose, que surge como um vento sobre as cidades, acaba gerando uma associação maior de destruição cancerígena do que de uma alternativa não racionalizada para o espaço urbano.
Sim, as perspectivas do mundo não são mesmo muito boas atualmente. Mas eu nunca vi com tão pouco se montar uma exposição de arquitetura.