segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

2012: o ano em que Leo Kret nao se reelegeu

ou todo mundo no bate-cabeça
estávamos no centro, no olho, no meio do vendaval - ou da tempestade, ou da chuvinha boba mesmo (este meio se refere ao tempo, não ao espaço; ali, já sabemos, é tudo quietinho) quando Any e eu resolvemos escrever o Bate-Cabeça, o singelo manifesto para Salvador, que publicamos aqui neste blog, no chronos e na revista minha cidade no vitruvius. Em um ano, digamos, fora do calendário normal (embora infelizmente esta caracterização tenha tudo para mudar...), havia um interesse grande na área, em diversas frentes, em oferecer (?) uma mãozinha técnica aos políticos que concorriam à prefeitura daquela que é a cidade-capital-do-fim-do-mundo. Como sabemos hoje, pelo visto não se pretendia falar com todos os políticos, Leo Kret nao se reelegeu e tampouco o governador do estado conseguiu empurrar goela abaixo sua política de sequestro da capital.
O interessante é ver agora ecoar por todos os lados a mensagem principal contida no Bate-Cabeça; com uma certeza eu fico: participação democrática, se estivéssemos em outra constelação política, não seria neste momento, dias antes de 2013 iniciar, tão aclamada assim. Talvez alguns estivessem desde já cantando odes a viadutos, quem sabe. Ou caladinhos diante deles.
Fico mesmo chateado que Leo Kret nao tenha sido reeleita. Porque ela representa. E porque não será assim fácil deixar de ter razão para continuar a bater cabeças.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

espaço, esta abstração fascinante

Você pode ler sparação onde você quiser, especialmente se você estiver convencido da ideia de que a melhor solução para a separação é a própria separação. Os espaços construídos cotidianamente (não o espaço, esta abstração fascinante) em uma cidade como Salvador, sejam eles projetados por arquitetos ou não, tomam, nas últimas três décadas, como pressuposto para a sua realização o imperioso ato de separar : são as grades, os muros, os condomínios fechados, as administrações destes condomínios estruturadas para que os moradores não precisem "ir à rua", o desprezo oficial e cultural pela calçada, pela praia, o fetiche do automóvel (separação móvel no espaço) contra o ônibus, enfim, quase tudo que organiza o cotidiano de um soteropolitano médio. Alguém até mesmo poderia obviamente citar o shopping center como espaço privilegiado pelos cidadãos para lazer e consumo, com as suas estratificações sociais possíveis no interior do edifício privado, como um ícone desta supressão do espaço público.
O limite mais evidente destas separações ficou marcado pela época em que a prefeitura da cidade resolveu cercar de grades (que se pretendiam mais amenas por serem artísticas) as praças no centro da cidade, como o Campo Grande ou a Piedade. O Teatro Castro Alves também foi gradeado, pouca coisa sobrou de acesso livre ao púlico. Podemos imaginar que nas cenas que se desenvolvem nestes espaços construídos - organizados para a separação - os atores apresentam certas recorrências, de um lado e do outro do muro ou da grade, em uma cidade extremamente desigual do ponto de vista social. Podemos inclusive calibrar nossa observação através da imaginação para enxergar somente os tipos recorrentes e deixar de lado talvez o que há de interessante na variação; seria uma escolha.
Quando arquitetos se debruçam sobre espaços abertos, sem grades ou outros obstáculos maiores ao acesso, e realizam propostas que mantém o caráter de livre acesso a este espaço, já seria um grande motivo para comemoração em uma cidade cujos elementos mais básicos faltam, como é o caso de Salvador. Realizar um projeto para uma praça e conservar o seu caráter público é portanto eminentemente salutar: é conservar no projeto a chance de que qualquer pessoa acesse o espaço da praça. Agora uns, em outro instante, outros, mais adiante, outros dos outros: no espaço público aberto, sem grades ou muros, o usuário pode ser qualquer um, basta entrar. Um pouquinho de imaginação, curiosidade e reflexão pode ser útil para vislumbrar gente a mais diferente possível em um espaço de praça sem cercas a partir de uma imagem qualquer. Alguém pode até imainar o auxílio mais contemporâneo da videovigilância para a manutenção das separações, mas diante de uma única imagem, que não faz nenhuma referência a tal equipamento, isso seria pura imaginação de quem queira construir a separação. Pois sempre haverá quem queira ver separação em tudo, mesmo numa praça aberta. Talvez mudar as lentes ajude. Mas talvez seja necessário mesmo deixar de lado a má vontade.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

RIP Oscar Niemeyer 5.12.2012


Estive ao lado de Oscar Niemeyer uma única vez em 1998, no seu escritório. Fiquei bem pertinho dele, para ouvir com exatidão o que ele falava (pois ele falava bem baixinho) e traduzir ao alemão, para o grupo de estudantes e professores da Universidade Técnica de Viena, em excursão pelo Brasil, da qual eu também fazia parte. Antes de começar, ele me perguntou se eu era arquiteto, para ter certeza que eu iria traduzir bem. No meu duplo nervosismo, de estar ao lado dele e de traduzir a sua fala ao alemão, uma palavra não consegui lembrar de jeito nenhum: corrimão em alemão (Niemeyer falava neste momento da beleza da escada do Itamaraty). Fiz um gesto, e todo mundo entendeu e falou quase em coro: Geländer!
RIP Oscar Niemeyer

terça-feira, 13 de novembro de 2012

miopia

Creio que a personificacao dos efeitos da crise europeia na figura da chanceler alema um dos maiores exemplos de miopia política que deve haver, especialmente porque a Alemanha passou por estas mesmas medidas de austeridade, mas nao no governo de Merkel, e sim no governo do SOCIALISTA Gerhard Schröder, que exerceu entre 1998 e 2005 o cargo que Merkel ocupa. Merkel hoje tem um país de economia mais robusta e ao mesmo tempo menos "solidário" graças às reformas de Schröder. Deveriam reclamar dele.

sábado, 10 de novembro de 2012

beleza, beleza, beleza

Aconteceu esta semana, na fala do arquiteto João Filgueiras Lima, o Lelé, por ocasião da abertura, no foyer do Teatro Castro Alves, da exposição do Museu da Casa Brasileira sobre sua obra. Quase da mesma maneira com que Pelé disse "love, love, love", a célebre frase imortalizada na canção de Caetano Veloso, Lelé disse "beleza, beleza, beleza".

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Igualdade de Direitos na Bahia

E desde ontem existe igualdade de direitos para os cidadãos do estado da Bahia. A importância deste ato da Justiça é muito maior do que o que está descrito no artigo. Tomando como base a decisão do STF, que garantiu o status de união estável às relações homoafetivas, a justiça baiana resolveu dar este passo adiante. Mas se engana quem atribui à Justiça toda esta conquista: se não fosse a ação do governador do Estado do Rio de Janeiro para garantir a igualdade de direito aos seus funcionários homossexuais nada disso teria acontecido. Por isso, desde 1995, quando Lula afirmou que o PT nao apoiaria o projeto de lei de Marta Suplicy de parceria civil para pessoas do mesmo sexo para nao perder os votos da base religiosa, está claro o caráter eleitoreiro, não-emancipatório e homofóbico desta agremiação. Desde então faço oposição a este partido, que é francamente descomprometido com a luta contra o preconceito e o estabelecimento da igualdade de direitos e deveres de todos os cidadãos. Parece uma coincidência que esta decisão da Justiça baiana venha um dia depois da condenação da cúpula PTralha por causa do crime conhecido como mensalão. Mas não é: eles sempre só queriam o poder para si, a qualquer custo! Viva a igualdade de direitos, parabéns a Sergio Cabral Filho e foraPT!!!!
Aqui o registro do jornal A Tarde da publicação da normatização ontem, 10 de outubro de 2012: Casamento Civil Gay é legalizado na Bahia.

domingo, 30 de setembro de 2012

Jorge Amado no MAM

Fui este fim de semana à exposição em homenagem aos 100 anos de Jorge Amado, em cartaz no MAM - Solar do Unhão até 14 de outubro. Não tinha lido nada antes, apenas ouvi comentários ligeiros não tão elogiosos. Bem, à exceção da tão-repetida-que-ninugém-aguenta-mais parede feita de garrafas de azeite de dendê (algum candidato a prefeito poderia prometer a proibição de tal emprego por artistas de garrafas de vidro preenchidas de dendê, quem sabe conseguiria alguns votos...), a exposição é muito agradável e mesmo interessante.
Como é difícil fazer uma exposição sobre a obra de um escritor - ainda mais quando a exposição está na cidade que abriga um centro cultural sobre o autor - o conceito já consolidado das exposições do Museu da Língua Portuguesa-SP, o de uma instalação didática, parace funcionar bem.
Ao lado das inevitáveis mesa com exemplares para manuseio e vitrines com edições em línguas estrangeiras (embora com exemplares limitados) e dos guarda-chuvas sonoros (não tão eficientes), a exposição tem uma sala de fotografias e documentos históricos muito bonita, acompanhada da interessante substituição do nome do senhor do bomfim nas fitinhas pelos nomes dos personagens dos livros de Jorge Amado e de uma inodora porém visualmente vigorosa parede de cacau (em estantes-simulações-de-gabião).
Talvez o fim de semana com o elevado número de visitantes não seja o momento ideal para visitar uma mostra baseada em vídeo, como é o caso da parte da exposição alojada no solar. O ponto alto por isso talvez sejam as três salas na igreja, uma sobre as passagens relativas a sexo nos livros, outra sobre os escritos de jornal, com a simulação das máquinas de impressão, e a terceira sobre as denominações múltiplas das múltiplas cores de pele no Brasil na obra do autor, confrontadas com aquelas citadas espontaneamente em um censo nos anos 70. Nos dias de hoje, quase uma provocação. Isso é muito bom.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Bate-cabeça: arquitetura, urbanismo e política na era de Leo Kret ou um singelo manifesto para Salvador


por Márcio C. Campos e Any B. Ivo


Representação: política e cidade
Com as eleições de outubro próximo, chega ao fim a legislatura marcada por um fato inovador e significativo para a representação política em Salvador nos últimos dez anos, a eleição da vereadora Leo Kret. Desde então, Leo Kret pode ser vista como elemento-chave para o entendimento atual da vitalidade e da natureza da democracia em terras soteropolitanas. Em uma cidade onde a elite passou as últimas quatro décadas tentando convencer a população que o sentido maior da existência deste coletivo social era o “carnaval”, a população da cidade finalmente escolheu indicar para um cargo representativo alguém que incorporasse a sua visão do carnaval.
É assim que o estranhamento à eleição de Léo Kret ganha novo sentido: distante daquilo que acontece nos camarotes milionários do circuito Barra-Ondina ou dentro dos blocos “de cordas”, turistas ou locais, ou dos afoxés e blocos afros, Léo Kret tem a capacidade de representar o que efetivamente há de popular – ou seja, relativo às massas citadinas – no carnaval de Salvador. A resistência e mesmo o desprezo contra uma figura eminentemente popular como a da vereadora, por parte da pequena elite intelectual da cidade – tradicionalmente envolvida com o discurso esquerdista vinculado à oposição ao carlismo – é tão significativa que tem duas consequências imediatas: poucos provavelmente conhecem a sua atuação no seu mandato e outros sequer começaram a ler este singelo manifesto ou já deixaram de lê-lo antes mesmo desta frase ou, se o continuam a fazê-lo, não o tomam em sério. É essa insignificância atribuída pela cegueira da elite intelectual e suas amarras históricas que continuam fazendo de personagens como Léo Kret em Salvador e Tiririca no cenário político nacional, acontecimentos políticos “estranhados”.
Dentro da constituição ideológica que insiste em fazer do carnaval a expressão quase que totalizante do genius loci de Salvador, a eleição de Leo Kret, a dançarina transexual estrela do bate-cabelo, participante do “trio reality”, muito além de um protesto ou deboche – ou de mero atestado de falência de consciência política, como o querem muitos – é uma verdadeira afirmação popular, ou melhor, é a expressão de um novo pop além dos puxadores de blocos da classe média, de cantores intelectuais ecológicos, ou ainda, de cantores “de raízes” construídas nas análises de intelectuais. A eleição de Leo Kret, para além da representação dos pobres que moram em habitações de autoconstrução ou em conjuntos habitacionais de baixa renda, é a ampliação irônica tanto da base de gênero (representando mulheres, homens, transexuais e gays ao mesmo tempo), como da étnica. Os 12.860 votos recebidos pela “vereadora do guetho e do povão”, que defende “direitos iguais, nem menos, nem mais”, em lugar de representarem a falência da política, expressam politicamente mais uma afirmação e fortalecimento de uma nova cultura do “guetho” e da periferia. Em nome da imagem da Câmara de Vereadores, vez ou outra, a vereadora tem seu mandato ameaçado. Os erros de concordância fazem parte do pacote de deboche de uma sociedade que aceita “Os livro” ou “Nós pega o peixe” como frases ensinadas nos livros didáticos distribuídos pelo Ministério da Educação e defendidas como reconhecimento do português do “Povo”.
Os limites impostos a esta representação política, às reais possibilidades de transformação da cultura política estabelecida que um mandato exercido por alguém cuja candidatura foi construída a partir de sua popularidade fora da política, como é o caso da vereadora Léo Kret, estão estabelecidos em distintos planos. Dois destes planos estão determinados já pela própria razão de sua eleição, que é o processo duplo de fazer da festa popular que é o carnaval, a essência da vida urbana da cidade e transformar seu caráter na direção de uma elitização de gostos e costumes, gestão predatória e concentração de lucros advindos de tal gestão. Outro plano, mais elementar, e que é a base que permite que este processo aconteça, é o do retrocesso nos processos de democratização da gestão pública, reconhecível tanto no plano nacional, como especialmente resistente e amplificado nos planos estaduais e municipais. Ou seja, estes limites expressam uma lacuna entre as representações e os representados, tendo como instância mediadora a democracia instrumentalizada e não como princípio. Neste contexto, a eleição de Léo Kret é resignificada como alegoria.

Arquitetura e Urbanismo
Longe do popular, arquitetos e urbanistas estiveram tradicionalmente à disposição de colaborar com o poder. A grande razão para isso, como nos ensina Mary McLeod em seu ensaio fundamental sobre a relação entre arquitetura e política, cujo título nos serve como referência para uma divertida apropriação, é a grande soma de dinheiro envolvida em cada trabalho do arquiteto e do urbanista. Poderosos, ricos e pessoas com boas conexões com o poder constituíram na história a mais constante clientela deste profissional.
A partir das grandes transformações sociais que estabeleceram no mundo os regimes democráticos modernos, arquitetos passaram a trabalhar também para a grande massa da sociedade, estando a possibilidade e a qualidade de sua contribuição diretamente ligadas à maturação e profundidade do processo de democratização de cada sociedade. Aqui podemos comparar a situação de Salvador e Curitiba no intervalo de tempo dos anos oitenta até a atualidade. Se a final dos anos oitenta a atuação de Lelé na capital baiana pode ser comparada ao trabalho iniciado por Jaime Lerner, em Curitiba, a continuidade no trato com o urbano na capital paranaense está em franco contraste com a completa ausência de propostas efetivamente voltadas para o coletivo, nas últimas duas décadas, em Salvador.
Sem dúvida, este é um sintoma que revela o pouco que avançamos – ou mesmo retrocedemos – em termos de democratização da gestão municipal desde a efervescência do período imediatamente posterior à ditadura militar. Muito menos se reconhecem na recente história da capital baiana mecanismos eficientes e garantidores da construção democrática na cidade ou mesmo aqueles que efetivamente contribuíssem para a construção de uma cidade democrática.
Desta forma, o que se pode perceber no espaço urbano é, antes de mais nada, o reflexo da eficiência dos instrumentos democráticos de gestão de uma cidade. Na Salvador das últimas duas décadas, a contribuição profissional dos arquitetos e urbanistas para a transformação do espaço urbano foi, de acordo com tal relação, ao mesmo tempo fruto e elemento dinamizador da extrema fragilidade da democracia local. Esta pode ser reconhecida na deficiência dos mecanismos de controle em prol do bem comum que teriam como base de ação o Plano Diretor Urbano e a Lei de Uso do Solo, ambos ainda mais esvaziados recentemente dos princípios de interesse do coletivo. Trabalhando nos limites da moldura estabelecida por esta prática, seja sob encargo das empresas do setor imobiliário, seja operando dentro da máquina pública, ou, ainda, fazendo as vezes de um assistente social junto às comunidades carentes, a produção dos arquitetos e urbanistas guarda pouquíssimo campo de contribuição para a cidade. Projetando condomínios fechados, edifícios com recuos e índices de utilização, inimagináveis em outras cidades ou viadutos uns sobre os outros, participando da aniquilação da cobertura verde no território do município, elaborando milhares de peças técnicas destinadas a serem engavetadas, redigindo pareceres destinados a serem ignorados, a produção técnica do profissional de arquitetura e urbanismo – as transformações físicas no espaço – não alcança de maneira positiva a comunidade da cidade e não consegue contribuir para a melhoria das condições de vida de seus moradores. A razão principal dessa dissociação reside no fato de a cidade vir sendo governada sem o mínimo de esforço sério de democratização. A contraface dessa ausência se expressa por um processo centralizador e personalizado, tecnocrático e antiparticipativo, que estabelece a moldura para a ausência de um planejamento efetivo, o que, por sua vez, dá a abertura necessária ao avanço dos modelos empreendedores de cidade, cada vez mais elitizados e segregadores da polis.  É assim que, por exemplo, realiza-se a inversão perversa pela qual a gestão do “carnaval” se torna modelo reduzido, campo de experimentação ou “vanguarda radical” da gestão da cidade.
A ausência de qualquer critério que pudesse garantir localmente alguma qualidade para a produção da urbe é par da maneira como foi decidido o destino do Estádio da Fonte Nova, tanto a sua demolição como a escolha do que seria construído depois.  Aquilo que foi exposto em um shopping center na cidade sob o título de Salvador Capital Mundial, “oferecido” à prefeitura, só pode ser compreendido como um enorme “presente de grego”. Sua mais recente versão em escala arquitetônica é o processo decisório que levou à escolha do projeto de arquitetura do temeroso edifício para o novo terminal de passageiros no cais do porto de Salvador.  A ausência de instrumentos que garantam a transparência e o cumprimento das regras democráticas na escolha de projetos para edifícios e intervenções urbanas, com ou sem financiamento público, é a medida do pouco que há a contribuir através da produção profissional para a coletividade. Urge um compromisso do coletivo social com a vontade de democratização e resgate da civitas.

Participação e Democracia
Uma jovem comentou outro dia: moramos num país democrático, onde cada um tem o direito de fazer o que quer. Em outra ocasião foi dito que respeitar e reconhecer as deliberações coletivas seria uma decisão do fórum íntimo.  Ou seja, cada vez mais, a noção corrente de democracia passa do reconhecimento da vontade da maioria, ou da difícil tarefa de construir diálogos, para uma instância que se restringe a salvaguardar interesses particulares. Dessa forma, desloca-se a ideia de democracia do campo coletivo para a esfera individual, num mundo extremamente marcado pela valorização do individual. Soma-se a esse cenário a instrumentalização da participação como elemento chave à construção simbólica de democracia.
Participação, o ato de participar, traz intrinsecamente um paradoxo que irá permanecer nos ordenamentos coletivos: se por um lado significa comunicar ou informar, abrange também a ideia de partilhar, de compartilhar ou de tornar-se parte de algo. Esses dois sentidos originários da palavra, quando transpostos para os arranjos e ordenamentos coletivos, servem a duas posturas distintas e divergentes, com resultados práticos bastante diversos: por um lado, a comunicação ou a informação sobre deliberações como base para a legitimação de uma gestão participativa e, por outro lado, o desejo e a expectativa de ser parte, de compartilhar direitos e responsabilidades, de partilhar dos processos decisórios por grande parte da população historicamente excluída. Frente a essas duas dimensões da política, “democracia” e “participação”, faz-se necessário reaprender na prática o que é a experiência da cidadania, a participação efetiva como direito de todos e princípio originário dos processos decisórios que como condição de pertencimento e de polis.
O reaprendizado e o constante, porém lento, processo de enraizamento da democracia é árduo e desafiador, pois significa na prática reconhecer previamente a possibilidade de abrir mão ou perder ou aceitar o outro. A experiência da cidadania e o aprendizado da democracia se dão no cotidiano, no dia-a-dia: no trabalho, nas associações, nas ruas, nos condomínios, nos bairros, etc. Aprende-se a democracia no exercício de escutar, de reconhecer o direito de voz do vizinho, a sua experiência e o seu conhecimento de cidade. É necessário compreender que o discurso técnico, como instrumental político, é acionado em muitos casos para gerar a exclusão, ou seja, para restringir o princípio participativo à condição meramente informativa (quando não desinformativa).
Sendo assim, como qualquer outro cidadão, o primeiro compromisso do arquiteto e urbanista implica na urgente necessidade de uma efetiva democratização do poder, que hoje não pode deixar de passar por uma sincera abertura em direção à ampliação da participação, que venha a constituir um real interesse na democratização da gestão pública. Tal programa político inevitavelmente terá em seu horizonte de ação a retirada das massas populares da condição de “mera clientela”, seja ela política, seja profissional. A democracia a ser construída não virá da parte do sistema político, virá da experiência de cada um na reunião do seu condomínio, da sua associação de moradores da rua, do bairro, na árdua construção de possibilidades de participação democrática nas instâncias mais elementares dos desafios da vida em sociedade.
Dentro daquilo que diz respeito ao campo profissional, cabe ao arquiteto e urbanista um duplo engajamento: se por um lado não há como atuar positivamente em uma cidade sem este horizonte de construção democrática, que no caso de Salvador indica um caminho longo a ser traçado, por outro lado, há que se lutar por uma democratização dentro do seu próprio fazer profissional, tão marcado pelos privilégios de contatos com o poder. Aqui, ao menos duas áreas podem ser imediatamente citadas: a primeira, que diz respeito aos modos e critérios relativos ao acesso ao trabalho, especialmente da destinação de dinheiro público para a área de arquitetura e urbanismo. Faz-se urgente a transparência e abertura, como novos critérios para contratação, que, por exemplo, venham a eliminar a noção perversa da orientação da escolha pelo menor preço determinada pelas licitações e que venham a abrir efetivamente os encargos a toda a comunidade de arquitetos e urbanistas: a palavra-chave é a consolidação do instrumento de concurso público para toda obra com financiamento de origem pública, incluindo obviamente recursos advindos do FGTS para habitação. A segunda diz respeito ao estímulo ao debate, divergência e participação dentro das representações profissionais próprias, marcadas infelizmente por uma cultura de eleições com chapas únicas, superposições de atribuições e pouca participação. Que cada dimensão deste intricado jogo de democratização e participação nas instâncias representativas profissionais não pode ter lugar sem que as outras também entrem em movimento, é mais que evidente.
Defender a participação não é, por fim, apelar para o populismo barato que celebraria o recuo completo da atuação profissional por motivos estéticos, niilistas ou cinicamente paternalistas. A tarefa é árdua e sem resultados imediatos. É nesse sentido que reforçamos a importância de que os arquitetos e urbanistas compreendam o potencial de uma gestão democrática da cidade, reconhecendo o direito a voz de todo e qualquer cidadão à construção de um projeto democrático para uma cidade democrática.  Fortalecer as arenas de participação propositiva mais ampla, levadas realmente a sério, como elemento propulsor dos projetos de cidade é um bom começo. Para uma cidade além do “carnaval”, há muito para “bater as cabeças”.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

dois meses em greve

O teatro pode parecer perfeito, da perspectiva de quem montou a encenação: o patrão acerta com os pelegos que um mês antes das férias eles estariam liberados para organizar uma "greve" no período coincidente com o das férias. Os pelegos fazem de conta que iniciam uma greve na última semana de trabalho do semestre, quando todas as aulas já poderiam ter sido encerradas; juntos com o patrão encenam uma negociação e decidem fechar um acordo uma semana antes de as férias terminarem. Assim, pelo roteiro esquemático deles, as férias viararam greve, para que o patrão e os pelegos não perdessem nada e ainda pudessem dizer aos estudantes que, se fosse por eles, não haveria nenhum atraso no semestre. Acontece que este teatro tem um cenário vagabundo, uma iluminação desastrosa e um diretor sem nenhuma noção de consistência dramática. E ninguém está mais sentado na platéia.

terça-feira, 24 de julho de 2012

thank you, robert venturi

Hoje foi anunciada à imprensa a aposentadoria de Robert Venturi. É muito difícil no campo da arquitetura alguém ter conseguido como Venturi conseguiu incorporar uma decidida postura libertadora, profundamente crítica, renovadora do seu campo a partir dos seus próprios elementos, divertida, otimista e de uma inquietante abertura de comunicação com o gosto popular. Quando estudei arquitetura, seus livros e seus edifícios foram para mim a grande base teórica (sim, no Brasil o descompasso com a produção internacional ao final dos anos 80 era enorme). De vez em quando publico algumas fotos com a tag "robert venturi não sai dos meus olhos", mas isso ocorre muitíssimo mais frequentemente do que a quantidade de vezes em que já usei esta tag pode sugerir. No dia de sua aposentadoria, uma singela homenagem de um admirador. Sim, less is bore.
O site do escritório traz o anúncio http://www.vsba.com/ e os projetos de Venturi a partir de agora estão disponíveis no site http://venturiscottbrown.org/

sábado, 21 de julho de 2012

I love you, my brazil

Michele postou hoje um comentário sobre o novo video do grupo Racionais Mc's, que faz parte da trilha sonora do filme sobre a vida de Marighela e só porque Michele escreveu sobre o lançamento é que assisti ao videoclip e prestei atenção à letra. Além de esteticamente o vídeo ser fraquíssimo (parecendo uma produção global tremida para fazer algum efeito), fiquei bobo ao ver artistas se dispondo a fazer hoje o que Os Incríveis fizeram quarenta anos atrás. Quer dizer, bobo mesmo não fiquei, mas acho que tem muita gente que cai nessa, tanto antes como agora. O bom é saber que Odair José existe. Sem lá lá lá lá e sem armas em punho.

sábado, 30 de junho de 2012

Um mês em greve


Hoje faz um mês que tive uma conversa de mais de duas horas com os estudantes em sala de aula, informando-os sobre as razões da greve que naquele momento se iniciava. De acordo com a decisão da assembleia de professores ocorrida na tarde anterior, no dia 29 de maio – e à qual não pude comparecer em virtude de a data ter sido mudada de última hora, fazendo com que a assembleia acontecesse no mesmo horário em que recuperávamos três pré-bancas de TFG que haviam sido remarcadas em função da greve dos rodoviários na semana anterior –, a greve estava instalada por melhores salários, um novo plano de carreira e melhores condições de trabalho.
Razões suficientes para a greve não precisariam ser explicadas aos estudantes: as condições em que as aulas de atelier II acontecem na sala 9 da Faculdade de Arquitetura, o local daquela conversa, falam por si. Por inércia, comodidade ou resignação é que se pode admitir que aulas de projeto de arquitetura sejam ali ministradas para um grupo de mais de 30 estudantes, em uma sala onde não caberiam mais que 20. Os motivos para esta letargia são muitos, mas não há dúvida que os mais recentes são os mais preocupantes.
Nos primeiros dias de greve, a direção do sindicato dos professores da UFBA deixou bem claro que tudo o que ela (não) havia feito nos dois anos passados de negociação da categoria com o governo revelava o quanto eles estavam comprometidos em defender mais os interesses do patrão do que os dos professores. Diante da crescente adesão à greve no país e da importância da representação sindical para qualquer categoria – posta em total descrédito por esta atuação da diretoria da APUB – não tive dúvida de me engajar pessoalmente na construção da greve. A grande mobilização de pessoas dispostas a lutar por melhores condições de trabalho e a assembleia do dia 26 de junho são grandes eventos em prol da recuperação das dinâmicas reivindicatórias dentro da Universidade. E além dela.
É por isso que as questões relacionadas a esta greve podem ser compreendidas a partir de três esferas imbricadas uma na outra, porém distintas. A primeira delas envolve as questões que unem a pauta nacional de reivindicações, mas que efetivamente são vividas na escala do individual: seja no salário mensal com um poder de compra em declínio vertiginoso, seja na janela quebrada, na ausência de um ventilador (nem pensar em ar condicionado), na inexistência de um escritório de trabalho ou de verbas e condições adequadas para a manutenção do acervo da biblioteca, entre várias outras mazelas vivenciadas cotidianamente.
A segunda delas diz respeito a uma virulenta necessidade de ampliar os processos de democratização na universidade, concretizadas na expressa ansiedade por uma criteriosa avaliação da recente expansão de ofertas de vagas que ocorreu sem o devido planejamento e que teve como consequência a precarização do trabalho dos docentes e dos funcionários técnico-adminstrativos, por uma maior transparência nas contas das fundações, por uma revisão das relações intra- e extrainstitucionais, o que não deixa de atingir a própria atuação do sindicato.
A terceira destas esferas agrupa questões mais amplas, que dizem respeito à situação do país atualmente, canalizando uma grande insatisfação com a destinação dos investimentos públicos (copa do mundo X educação e saúde), por uma reversão fundamental de uma tendência ao aparelhamento político do Estado, pela necessidade de reinserção de uma postura crítica de base diante do cenário político institucionalizado e pela defesa dos direitos trabalhistas; nesta esfera a greve dos docentes universitários é um movimento que vem se juntar à grande luta dos professores do Estado da Bahia, em greve há 80 dias.
Nestas quatro semanas pude testemunhar um movimento surgir com toda a força e se articular para enfrentar as questões imediatas e estruturar o enfrentamento das mais amplas, a partir de objetivos reconhecidos como importantes para o bem comum da categoria. Para quem está fazendo parte desta mobilização, indo às assembleias dos professores, participando das reuniões em suas unidades, é claramente reconhecível o surgimento de uma multidão dentro da universidade, que age nos moldes daquela descrita por Negri e Hardt em seu famoso livro, catalisada por um evento, volátil em sua constituição. A multidão, que tomou corpo no espaço da assembleia do dia 29 de maio, neste caso, é assim percebida também por estar composta em sua grande maioria por novos professores da universidade, que, guardando suas heterogeneidades, como grupo, ainda não havia sido reconhecido. Seus objetivos, portanto, não são tão voláteis como definem os dois autores; uma perspectiva de sua reunião e funcionalização está desde já anunciada.
A sequência de assembleias das últimas quatro semanas teve uma primeira vitória – diante dos desafios, ainda singela – ao conseguir calar a ameaça de criminalização da greve mantida pela direção do sindicato desde o dia 30 de maio contra seus sindicalizados. O absurdo representado por esta situação é apenas um indício do tamanho do desafio imposto. Aos que durante todo este tempo tentaram negar a força desta “multidão”, a grande urgência por uma permanente consciência que não permita um descuido com os mecanismos democráticos e contra o geral populismo que se abateu sobre a coisa pública brasileira, incluindo a universidade, é preciso reconhecer que alguma coisa se rompeu. E isso, mesmo que seja um pequeno primeiro passo, é muito bom.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Homenagem a José Leonardo da Silva

Há dois dias, José Leonardo foi assassinado em Camaçari, porque estava abraçado ao seu irmão gêmeo. 
Brasileiros cheios de ignorância, ódio, estupidez e violência que passavam na rua onde os irmãos estavam, acharam que eles eram um casal gay e resolveram espancá-los até a morte. Seu irmão escapou por sorte.
Neste 28 de junho, dia mundial do orgulho gay, é preciso dizer que cada representante do governo federal, cada pastor evangélico que faz reverberar mensagens de ódio, cada eleitor dos partidos que hoje estão no governo tem sua parcela de culpa na morte de José Leonardo. 
Ele não foi assassinado por três ou quatro imbecis apenas, foram milhões de brasileiros cúmplices em sua morte.
28 de junho
dia do orgulho gay

domingo, 10 de junho de 2012

o legado das copas: elefantes brancos na europa

Este texto, de autoria de Sigi Lützow foi publicado esta semana, no dia 5 de junho, no jornal Der Standard, edições online e em papel. O seu conteúdo é tão interessante para o Brasil em pleno período de realização das obras nos estádios para a Copa do Mundo de 2014, que resolvi traduzi-lo ao português.
Elefantes Brancos na Europa
Da coluna “Coisas para serem vistas”, Sigi Lützow, 5 de junho de 2012, 19:29
A máxima que vale para carros novos, vale também para muitos dos estádios de futebol construídos por ocasião do Campeonato Mundial ou do Europeu: no momento em que ele começa a ser usado, o seu valor é reduzido drasticamente. Uma valorização ao longo dos anos é completamente fora de cogitação. Mas enquanto um carro completamente detonado ainda guarda um determinado valor residual, os estádios postos em utilização apenas geram despesas, que rapidamente podem ultrapassem os custos de construção iniciais.
Conceitos para o uso dos estádios após a sua inauguração interessam à confederação europeia UEFA e à confederação mundial FIFA apenas em casos excepcionais, especialmente quando decisões bizarras precisam ser justificadas. É assim que a escolha do Emirado do Qatar como sede da Copa do Mundo de 2022, que possui uma área que nem chega a ser equivalente à do estado da Alta Áustria (Obs. do tradutor: A Alta Áustria tem uma área equivalente à metade da área do Estado de Sergipe) e que construirá nove estádios novos e ampliará outros três, entre outras coisas, foi justificada com o argumento de que parte dos estádios será desmontada após a Copa do Mundo e serão doados a países em necessidade.Portugal proibiria tal presente vigorosamente. 
O anfitrião da Eurocopa 2004 (o título foi conquistado pela Grécia!) carrega com dificuldades o legado deixado por aquele verão cheio de energia. O legado é tão pesado, que se tornam cada vez mais concretos os planos, de simplesmente demolir os estádios agora completamente desnecessários, onde jogam apenas realmente times da segunda divisão ou, no melhor dos casos, times de segunda categoria da primeira divisão, e, desta maneira, economizar o custo de manutenção.Estes custos de manutenção podem ser substanciais. Na Áustria, o supostamente mais bonito, mas certamente o mais desnecessário estádio de futebol, o Estádio Worthersee, em Klagenfurt, consome a cada ano, pelo menos 500.000 euros somente com a manutenção predial – sem que haja nenhum jogo, diga-se de passagem. 
Apesar do uso moderado ou praticamente inexistente daquele que abrigou apenas três jogos da Eurocopa 2008, sabe-se agora que, para além dos custos de construção de cerca de 50 milhões de euros, foram investidos por fora, graças a um contrato de financiamento junto ao governo federal, outros 15,5 milhões, para a conclusão da bacia de 30.000 lugares.Jogados no lixo devem ser considerados os milhões investidos no estádio Tivoli em Innsbruck, enquanto que o único estádio novo que teria sido justificado para a Eurocopa 2008 , que seria o de Viena, de fato permaneceu no papel. A arena de Salzburgo é, pelo menos, a casa do Red Bull Salzburg, um time com potencial financeiro, o que vem a ser um ponto de referência para o estádio de futebol atual em Kharkiv, na Ucrânia, cuja construção, no entanto, foi em grande medida auto-financiada por parte do seu dono, o time de futebol Metalist.
Mais de dois bilhões de euros foram investidos pela Polônia e pela Ucrânia nos oito estádios onde na próxima sexta-feira se inicia o Campeonato Europeu, sendo que alguns estádios, como a Arena de 220 milhões de euros em Lviv, o estádio oval de Gdansk, que custou 190 milhões de euros e a “coisa” de 210 milhões de euros em Wroclaw, à exceção de seus três ou quatro jogos do Campeonato, foram construídos totalmente acima da demanda futura.Na África do Sul, esses investimentos são chamados de elefantes brancos. Há alguns destes por lá, que desde a Copa do Mundo de 2010 consomem uma média de dois milhões de euros por ano em custos operacionais. Diante da pobreza no país, este é um legado duplamente amargo deixado pelo Rei Futebol, que quase como em nenhum lugar é celebrado cotidianamente como na Alemanha. Por esta razão é que a infraestrutura de estádios para a Copa do Mundo de 2006, o chamado “sonho de verão”, pode ser visto como o único exemplo contrário, positivo. 
(Sigi Lützow, Der Standard, 6/7 Junho 2012)
aqui o link para o texto original, acompanhado de fotos dos 14 estádios
http://derstandard.at/1338558758010/EM-Stadien-als-Problemfaelle-Weisse-Elefanten-in-Europa

terça-feira, 8 de maio de 2012

Muito pior que a extrema-direita grega!

Aconteceu ontem, mais uma vez: às vezes a Rede Globo transmite em cadeia nacional evidências que demonstram como o jornalismo (?!?) produzido pela TV Bahia está integrado à sua programação nacional. Como quase sempre, estas evidências são geradas por aquela senhora que há décadas trabalha em solo italiano e de vez em quando é capaz de chorar emocionada com o papa e a igreja católica....
Pois bem, ontem, no Jornal Nacional, a decana do escritório global em Roma relatou os resultados das eleições na Grécia e as primeiras reações e sinais políticos. Sobre a coletiva de imprensa do chefe do partido da extrema direita grega, a repórter ressaltou a exigência de a imprensa o receber de pé e - aqui é que o padrão TV Bahia surge com toda a força - uma semelhança indiscutível entre o símbolo do referido partido e a suástica nazista.
Acontece que o símbolo do tal partido grego de extrema direita - um luxo, até então reservado aos ricos - é a unidade básica do friso grego, encontrado em qualquer edifício da grécia antiga e em milhões e milhões de fachadas e interiores de edifícios por todo o mundo, em milhares de quilômetros de bordas de tecidos de decoração, em milhares de cenas de filmes de gladiadores de sandália amarrada no tornozelo.
Eu poderia dizer que não sei onde esta senhora estava com a cabeça ao pronunciar tamanho absurdo. Mas eu acho que a questão é mais elementar.

terça-feira, 1 de maio de 2012

a grande exceção: o trio nordestino entrevistado no Bahia Meio Dia

Hoje à hora do almoço assisti a uma entrevista que vai entrar para a história como a grande exceção de tudo o que já foi feito em termos de entrevistas com cantores, músicos ou atores no Bahia Meio Dia (noticiário no horário do almoço na emissora local da Globo). Na entrevista, o Trio Nordestino conseguiu transmitir alguma informação de valor e, pasmem!, com algum conteúdo crítico! Nisso consiste a qualidade de exceção, é claro.
Os músicos deixaram claro ao público televisivo que eles se apresentam com uma banda de baixo, bateria e guitarra somente no Nordeste, porque o público do Nordeste, por motivos estéticos (!), exige que o forró seja tocado deste jeito. O som "precisa" ficar mais "cheio" e, além disso, com a "ajuda" de casais de bailarinos que dançam ao lado da banda, é possível preencher a área do palco. Foi muito bom ouvir os músicos afirmarem que para fazer a música deles, eles não precisam de nada disso.
Falta de cultura é isso: para escutar o Trio Nordestino tocar a música nordestina de acordo com a sua tradição - e em função de sua origem rural esta é uma música da qual se espera isto que está contido na noção de tradicional - é preciso escutá-lo fora do Nordeste. Não é preciso dizer mais nada.


sábado, 28 de abril de 2012

tarsila do amaral e os irmãos campana no CCBB-RJ

No fim de semana passado enfrentei uma hora e meia de fila para ver a exposição de Tarsila do Amaral no Centro Cultural do Banco do Brasil, no Rio de Janeiro, e não valeu a pena (todo este tempo de pé e a fila se desenvolvia por dois lances de escada estreita e em leque, algo bem desconfortável): além da multidão barulhenta - mesmo com o acesso controlado, a relação do número de pessoas com a pequena área da exposição é melhor descrita desta maneira - ver o conjunto das obras ali apresentado acaba por relativizar a importância da artista. Sem o Abaporu, a pequena mostra põe em destaque na primeira das duas salas o quadro Antropofagia, acompanhado de uma série de outros quadros famosos, correspondentes à estética naiv com a qual a pintora é reconhecida. Totens de base triangular no meio da sala atrapalham mais que colaboram com a exposição, pois eles não permitem que se tenha uma boa visão do conjunto, e os quadros dos anos 50 fazem com que toda a série adquira um tom (negativamente) decorativo.
Na segunda sala, que pela lógica deveria ser a primeira, estão obras que fogem ao cânone, obras do início da carreira (sem faltar a "representação do processo de modernização da arte de Tarsila"), fotografias e desenhos. Aqui dois destaques positivos: o geometrizado Procissão, muito bom, e a série de desenhos lindos, contornos de paisagens e cenas, que deixam uma impressão de que a artista foi melhor desenhista que pintora.
Já a exposição do trabalho dos irmãos Fernando e Humberto Campana é sem dúvida recomendável: uma grande panorâmica por todas as fases e expressões dos mais famosos designers brasileiros, muito bem documentada e com todos os seus ícones: já no centro da primeira grande sala, a cadeira favela. O percurso é extremamente bem cuidado sem ser excessivamente pedagógico e onde só foi possível ilustrar partes de uma obra maior através de um ou dois objetos, há fotografias que dão uma noção muito boa do conjunto.
Mas para alguém que passe pela exposição com uma certa velocidade talvez fique a impressão de que há  três ou quatro idéias, no máximo, experimentadas em diferentes materiais e contextos. Sem comprometer em nada, é claro.
Imperdível de qulaquer jeito é a obra de José Rufino, DivortiumAquarum, 2012, exposta na sala Arte Contemporânea. Simplesmente linda (e nem precisava de todo aquele texto explicando-a).

quarta-feira, 28 de março de 2012

ARQ-Gaga ou o poder do Contexto

Um piloto de avião comercial surtou hoje nos EUA: foi necessário que o co-piloto o trancasse fora da cabine, na área dos passageiros, para que o vôo pudesse seguir com segurança. Em seu "delírio", em um estado de crise de pânico ou de burnout causado por stress, que lhe impossibilitava de conduzir a aeronave, o piloto gritou aos passageiros que todos morreriam porque o avião estava sendo perseguido por afegãos e terroristas mulçumanos.
O interessante desta história é que ele não fez recurso a uma imagem pessoal, ligada à sua história privada apenas, como expressão sintomática daquilo que ele estava sentindo: o piloto recorreu ao grande culto do medo coletivo nos EUA, ao menos desde o fatídico 11 de setembro, que associa avioes, terrorismo islamista, o iraque e o afeganistão. A construção do delírio se apoia em imagens compreensivas porém irracionais, compartilhadas - ou seria melhor dizer aceitas - por aquela comunidade; é bem verdade que de uma maneira tão obsessiva, que uma grande parte dos passageiros poderia mesmo acreditar no "delírio" do piloto. Apenas o contexto - cultural, da época - explica a recorrência que o piloto fez a estas imagens em seu momento de surto.
Se usarmos o surto como metáfora (e apenas como metáfora, pois não cabe aqui nenhum diagnóstico de qualquer situação ou pessoa), poderemos entender a força do contexto na construção da forma de apresentação de um projeto que ocupou a faculdade de arquitetura e os postings nas redes sociais nos últimos dois dias. Prestem atenção, olhem ao redor, e vocês perceberão o contexto que explica direitinho a performance da sunga de carne / carne de sunga / sunga-gaga / gaga-carne.
Menos mal que, como os passageiros do avião, ainda há por aqui quem saiba fazer a distinção entre a situação de "delírio" (no âmbito local, também apenas metafórico) e os requisitos necessários para que um avião seja conduzido ou um edifício seja projetado. Ainda.

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

11.000 metros

sobrevoando lausanne a 11.000 metros de altura (!), pode-se reconhecer facilmente o rolex learning center, do sanaa. que prédio!

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

e na madrugada....

entre os dias 26 e 27 de fevereiro, uma boa parte da população brasileira aprendeu que 50% de chance não é 100%.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

RIP Luis Mansilla

Algumas arquiteturas são arrebatadoras, grandiosas, encantadoras; assim é o MUSAC em Leon. Já havíamos visitado os edifícios históricos e os museus da cidade, deixamos o MUSAC para o final, já na rota de saída para continuar a viagem em carro. O museu surgiu magistral, após uma sequência longa de quadras que poderiam estar em qualquer cidade da Espanha, em uma generosa abertura espacial.
As cores dos vidros nos volumes que formam a "fachada principal" do edifício remetem em uma primeira e rápida percepção às cores do Brandhorst Museum em Munique, mas enquanto o projeto de Sauerbruch & Hutton tratam o compacto volume com uma pele total - interrompida apenas por poucas áreas de esquadrias de vidro -, os vidros coloridos do MUSAC estao limitados à área de entrada do público, sendo utilizado o vidro incolor para os outros volumes que compoem o edifício: a arquitetura se recusa irônicamente a ser cenário urbano e elabora ao mesmo tempo uma acusação cheia de desdém a qualquer contextualismo. Muito bom.
É verdade que o MUSAC está coberto de descriçoes que relacionam seus vidros coloridos aos vitrais da catedral da cidade, mas desde que as cores dos vidros de sua fachada jamais são percebidas no interior do edifício, fica claro mais uma vez que tais "discursos ligados ao lugar" pouco tem a ver com o museu.
Entrando no museu, o usuário se depara com um dos saguoes mais bonitos do mundo, em um espaço onde a leveza construtiva associada aos grandes vãos de abertura e à inversão tectônica entre o interior e o exterior, já garantiria em boa parte um imenso destaque ao edifício.
Mas é na relação entre a simplicidade da geometria da unidade básica de composição em planta-baixa - um paralelogramo - e o impressionante espaço labiríntico formado pelas salas de exposição e pátios que a arquitetura do MUSAC se faz. Por sorte, estive ali quando um artista influenciado por ideias de filósofos franceses propôs para o espaço de uma das alas do museu um vazio com variaçoes de iluminação como "obra de arte": que prazer ter podido percebê-lo desta maneira, como puro espaço (e esta foi uma das poucas coisas interessantes que já vi surgir a partir destas ideias filosóficas que estão em moda no mundo das línguas latinas há uns 25 anos.....).
No fundo, a maestria deste prédio pode ser medida pela impressão mais forte que a sua planta deixa: tenho a suspeita que se um estudante de arquitetura propusesse algo assim como solução de projeto para um exercício nas universidades mundo afora, não seria tão facilmente aceito pelos docentes.
O MUSAC é arquitetura, na sua mais precisa e transcendental compreensão. Uma grande aula, um edifício como poucos até agora no século XXI. Quem for visitá-lo, não deixe de prestar atenção na antecâmara da entrada, ao lado direito de quem entra, onde está instalado o charmoso porta-guarda-chuvas: ali sim, uma lição de como e em que intensidade a arquitetura deve se relacionar com a cultura local.
É uma tristeza saber que um dos seus autores, Luis Mansilla, morreu hoje tão jovem.

porta-guarda-chuvas do MUSAC

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

cordas, carnaval e música

Tenho lido nas últimas semanas, em especial a partir das questoes levantadas pelo movimento Desocupa Salvador / Praça de Ondina, uma série de cobranças e acusaçoes às "estrelas do axé music", de ontem e de hoje, sobre os über-camarotes e as cordas dos blocos de carnaval; a última destas cobranças, e talvez a mais forte, sintetizava uma certa indignação à entrevista de Bell Marques a um jornal local através de um gráfico que associa uma foto do cantor a uma forca, com o trocadilho A CORDA.
Sem em nenhum momento concordar com o ponto de vista destas "estrelas", compreendo-as perfeitamente,  da mesma maneira que não posso compreender a cobrança dirigidas a elas; mais ainda, por exemplo, não vejo diferença entre pagar um abadá para sair no Inter ou no Eva e arrecadar dinheiro entre pessoas privadas através das redes sociais para o financiamento do Microtrio (por mais que eu goste do Microtrio). Explico.
Sou da geração que viu escolas de samba na rua da ajuda, apaches com a bola de neve na praça municipal, macacão de posto de gasolina como roupa do bloco traz os montes, internacionais e corujas exculsivamente masculinos e vestidos de marinheiros, concurso de traveca às 15 horas da tarde nas escadas do palácio dos esportes, luis caldas e a banda acordes verdes em 1983 cantando a música do bloco beijo. E depois todo o que vem daí em diante (este aí significa o período de consolidação de um fenômeno gestado entre Moraes Moreira ter se tornado o primeiro cantor de trio e Luis Caldas ter clip no fantástico), embora mesmo esta história venha sendo muitas vezes distorcida em prol de leituras ideologicamente "racializadas".
O que fica claro a partir do sucesso com a fórmula da nova música de carnaval consolidada no início dos anos 80 é que ela se transformou em um produto pop - diferente de toda a outra música de carnaval do país, a exemplo dos frevos pernambucanos ou os sambas-enredos do Rio -, e que a corda do bloco no espaço de carnaval de rua em Salvador se tornou cada vez mais impermeável, sendo esta uma base fundamental para a ascensão da outra. Fiz uma exposiçao bastante detalhada deste "desenvolvimento" no artigo “De muquiranas, piratas e marinheiros a gays: o espaço dos homossexuais dentro do carnaval de Salvador nos últimos 25 anos”, que apresentei no SILACC 2010 – Simpósio Ibero Americano Cidade e Cultura: novas espacialidades e territorialidades urbanas.
Como cobrar assim das "estrelas do axé", que mais que cantores de carnaval de Salvador são astros do pop brasileiro, cuja construção da carreira está ontologicamente associada à corda do carnaval como construção de um espaço privilegiado dentro da festa que afirmou e construiu o sucesso comercial destas "estrelas" (e somente assim se explica que o Chiclete com Banana seja a banda mais popular, de sucesso mais prolongado e cujo abadá seja o mais caro de todos os blocos), que eles se posicionem contra a corda e o camarote, o aprimoramento final da separação, cuja especificidade espacial e sua exarcebação porém nao deixam de trazer a própria implosao do sistema, como o estamos vendo?
Em artigo publicado ontem, Messias Bandeira se dirige exatemente a quem se deve dirigir em toda esta polêmica: a quem paga blocos e camarotes. Eu me orgulho de, na condição de alguém que sempre gostou muito de carnaval e nunca suportou ouvir as músicas do carnaval um dia sequer fora do período da festa, ter descumprido minha regra de nunca ter pago para sair num bloco de carnaval uma úncia vez, com Os Mascarados. Mas creio que esta é uma culpa pequena.
O mecanismo da corda, que o camarote como seu extremo acaba por contraditoriamente ameaçá-lo, uma vez que ele ameaça o espaço fora da corda e não o de dentro da corda, não está pautado necessária- ou exclusivamente na discriminação social; ele foi um mecanismo de construção de um produto pop em uma sociedade - a baiana ou mesmo a soteropolitana - que nao possuía uma classe média robusta. Se querem o fim das cordas, reinventem o carnaval, tirando do foco da festa o seu produto pop básico, sua música, e por consequência, sua possibilidade de consumo. Com todas as suas consequências.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

born to die, impressoes rapidas sobre o disco de LdR

a primeira coisa que se constata ao ouvir o disco de Lana del Rey é que ela também tem que "cantar-falar como quem inveja negros que sofrem horrores no gueto do harlem": pelo visto a pressao da gravadora é tao grande que mesmo uma branquela rica da costa leste tem que ser acompanhada das super monótonas marcacoes rítmicas a la hip-hop/rap para poder ter um lançamento mundial como ela teve. quem diria que em tempos ainda anteriores ao fechamento do megaupload & co as gravadoras teriam tanta influência sobre a producao das faixas... e ainda teve gente que nao quis acreditar na mocinha de lábios grossos quando ela disse que tudo era fake...
as faixas sao tao obviamente comercialmente produzidas que infelizmente tive que lembrar da única vez que escutei o disco da cantora brasileira de visual mega-super-über-gobi de carreira impulsionada por caetano, milton e a novela das oito: era um disco tao careta, tao conservador nos arranjos, que até um disco de Simone poderia parecer mais moderninho. é óbvio que Lana del Rey nao está neste nivel de conservadorismo na producao, mas que se arriscaram pouco, ah sim, muito pouco.
ao menos LdR nao imita as vaporosas adolescentes da segunda metade da década de 90 e tampouco o ouvinte tem que escutar uma respiracao ofegante-de-motel no intervalo entre cada verso. isso já é alguma coisa. bom mesmo é ver que, apesar do anunciado nas imagens dos videos e nas referencias Elvis e Jim, o disco nao cai numa estética retro-nostálgica óbvia.
por enquanto, entretanto, as imagens que vem de LdR sao mais interessantes do que a música. que venha o próximo.

porque ninguém é mais menino

a última coisa que yoanny venha a ser é ingênua; qualquer pessoa sabe das ideologias, "negócios" e arrogâncias que dominam as cabeças de um partido com as pretensões que conhecemos, sintetizados estes dias pela lucidez de LeoJaime no twitter. ao publicar áudio com a 19a negativa do governo cubano de impedi-la sair do país, mais do que a situação, é ela própria que se coloca no centro de tudo. "it's you, it's you, it's all for you" com outro significado, é claro. é porque eu continuo achando que a bahia jamais seria motivo para alguém sair de seu país, mesmo que fosse apenas por três ou quatro dias. como vimos nos últimos dias, melhor para ela em seu confinamento na ilha, do que passeando pela praça da piedade em salvador.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

P.N.E. ou algo "was besonderes"

os brasileiros, se comparados a europeus, agimos com muita velocidade - e muitas vezes por causa disso sem muita crítica - quando o assunto é copiar a última moda vinda dos Estados Unidos. A pior destas modas é provavelmente a de usar termos politicamente corretos, como o tal do afro-descendente: em arquitetura, a abreviatura P.N.E., que originalmente significa pessoa com necessidades especiais, mas que em função do uso corrente nas plantas já passou a significar o próprio sanitário adaptado ao uso para pessoas que utilizam cadeiras de roda, já se tornou tão internalizada que é praticamente uma ofensa alguém usar a expressão deficiente físico ao se referir ao usuário de tais espaços.
Esta semana ouvi pela primeira vez na rádio alguém usar esta expressão em alemão (não que isso seja novo, foi somente a primeira vez que ouvi na rádio): Person mit besonderen Bedürfnissen, o que corresponde exatemente em português à expressão pessoa com necessidades especiais. Acontece que em alemão a expressão bastante comum "Er hält sich für was besonderes" significa, literalmente traduzida, "Ele se acha algo especial" e, no português corriqueiro, algo entre "ele está se achando" e "ele tira uma onda danada". Daí que ao ouvir em alemão a expressão para pessoas com necessidades especiais, era impossível não associar com alguém que quer um sanitário cheio de frescuras ou com coisas muito especiais: papéis higiênicos com determinados perfumes ou estampas, luzes especiais ao redor do espelho ou vasos sanitários assinados por designers famosos.
Pensando mais adiante, lembrei do quanto é difícil ou constrangedor para a maioria das pessoas usar um sanitário público, começando pelas óbvias questoes higiênicas, passando pela falta de privacidade quanto a sons e odores e até mesmo no uso da escova de dentes ou no ato de assoar o nariz. Conheço gente que sequer usa um sanitário público. Deste ponto de vista, ao usar um sanitário público, quase todos se tornam portadores de necessidades especiais, que se tornam especiais somente pelo fato de este ser um espaço de uso coletivo. É mesmo uma idiotice sem tamanho esta idéia do politicamente correto!

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

PRE-ocupa

Há um ano e nove dias atrás escrevi os seguintes parágrafos aqui no blog (o título da postagem é pausa sobre salvador):
"Estou seguro que tudo isso [a situação de cidade sitiada] não vai mudar até o dia das eleiçoes para prefeito, ao contrário, só deve piorar. A história ensina: assim o fez ACM com Lídice, quando ela era prefeita. Quem vive em Salvador hoje percebe há muito tempo o que está acontecendo de novo.
Por isso cada crítica hoje tem o potencial de ajudar quem estrangula a cidade. Quem foi aliado durante anos do atual prefeito e antes não via problema algum em sua gestão. Até achou lindo o tapamento do rio da Centenário."
Pois uma semana depois de ter visto com algum otimismo a reação à tentativa através da justiça (!) de ser impedida uma manifestação em Salvador, já vejo com muito pessimismo o caminho que tudo isso tomou: agora falam de desocupa prefeitura, como se isso apenas fosse resolver o problema da cidade. A demonização do prefeito não serve para nada, a não ser para favorecer quem está em condições no momento de substituí-lo. Por isso, vou manter minha promessa de um ano atrás: Salvador só volta a ser tema de algum comentário crítico depois das eleições para prefeito. PRE-OCUPA.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

feriados e infância

guardo - e imagino que boa parte dos brasileiros que estiveram em um jardim de infância também guarda - uma estranha associação por conta do calendário nacional dos feriados: de alguma maneira ainda acho que o coelho da páscoa tem alguma coisa a ver com os índios.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

viva? morta-viva esta bahia que está ainda lá...

Nos últimos dois dias o tal texto atribuído a caetano veloso, cuja conclusão afirma a bahia estar ainda viva lá, citando a canção de Caymmi, tornou-se quase um viral no facebook. mesmo depois da reportagem de o correio da bahia de hoje, que mostra o estado da praia da barra depois de uma chuva mais forte, o tal do texto continua a ser repostado/compartilhado.
quando o li, só pensei que a única forma de a bahia ainda estar viva lá, era do jeito que morrissey descreve o estado último em well I wonder:
"gasping, dying, but somehow still alive (...) please keep me in mind!"
deste jeito até eu aceito que a bahia esteja viva ainda lá.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

no dia do aniversário

hoje pela primeira vez em minha vida comprei uma maçã por causa do nome: lady pink! falei logo cedo com minha mãe ao telefone. almocei no kyang, com andrea. ganhei um presente que já queria ter ganho há mais de um ano! choveu em viena e em salvador. no final da tarde tomei café com o nussstrudel feito pela minha sogra, que faz o melhor nussstrudel do mundo. recebi dezenas de felicitações carinhosas pelo aniversário. publiquei um texto no site do chronos. jantei uma comida maravilhosa, presente de Jamaree. fui tomar uma cerveja no savoy. e não passei o dia sozinho.