quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012
11.000 metros
sobrevoando lausanne a 11.000 metros de altura (!), pode-se reconhecer facilmente o rolex learning center, do sanaa. que prédio!
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segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012
e na madrugada....
entre os dias 26 e 27 de fevereiro, uma boa parte da população brasileira aprendeu que 50% de chance não é 100%.
quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012
RIP Luis Mansilla
Algumas arquiteturas são arrebatadoras, grandiosas, encantadoras; assim é o MUSAC em Leon. Já havíamos visitado os edifícios históricos e os museus da cidade, deixamos o MUSAC para o final, já na rota de saída para continuar a viagem em carro. O museu surgiu magistral, após uma sequência longa de quadras que poderiam estar em qualquer cidade da Espanha, em uma generosa abertura espacial.
As cores dos vidros nos volumes que formam a "fachada principal" do edifício remetem em uma primeira e rápida percepção às cores do Brandhorst Museum em Munique, mas enquanto o projeto de Sauerbruch & Hutton tratam o compacto volume com uma pele total - interrompida apenas por poucas áreas de esquadrias de vidro -, os vidros coloridos do MUSAC estao limitados à área de entrada do público, sendo utilizado o vidro incolor para os outros volumes que compoem o edifício: a arquitetura se recusa irônicamente a ser cenário urbano e elabora ao mesmo tempo uma acusação cheia de desdém a qualquer contextualismo. Muito bom.
É verdade que o MUSAC está coberto de descriçoes que relacionam seus vidros coloridos aos vitrais da catedral da cidade, mas desde que as cores dos vidros de sua fachada jamais são percebidas no interior do edifício, fica claro mais uma vez que tais "discursos ligados ao lugar" pouco tem a ver com o museu.
Entrando no museu, o usuário se depara com um dos saguoes mais bonitos do mundo, em um espaço onde a leveza construtiva associada aos grandes vãos de abertura e à inversão tectônica entre o interior e o exterior, já garantiria em boa parte um imenso destaque ao edifício.
Mas é na relação entre a simplicidade da geometria da unidade básica de composição em planta-baixa - um paralelogramo - e o impressionante espaço labiríntico formado pelas salas de exposição e pátios que a arquitetura do MUSAC se faz. Por sorte, estive ali quando um artista influenciado por ideias de filósofos franceses propôs para o espaço de uma das alas do museu um vazio com variaçoes de iluminação como "obra de arte": que prazer ter podido percebê-lo desta maneira, como puro espaço (e esta foi uma das poucas coisas interessantes que já vi surgir a partir destas ideias filosóficas que estão em moda no mundo das línguas latinas há uns 25 anos.....).
No fundo, a maestria deste prédio pode ser medida pela impressão mais forte que a sua planta deixa: tenho a suspeita que se um estudante de arquitetura propusesse algo assim como solução de projeto para um exercício nas universidades mundo afora, não seria tão facilmente aceito pelos docentes.
O MUSAC é arquitetura, na sua mais precisa e transcendental compreensão. Uma grande aula, um edifício como poucos até agora no século XXI. Quem for visitá-lo, não deixe de prestar atenção na antecâmara da entrada, ao lado direito de quem entra, onde está instalado o charmoso porta-guarda-chuvas: ali sim, uma lição de como e em que intensidade a arquitetura deve se relacionar com a cultura local.
É uma tristeza saber que um dos seus autores, Luis Mansilla, morreu hoje tão jovem.
As cores dos vidros nos volumes que formam a "fachada principal" do edifício remetem em uma primeira e rápida percepção às cores do Brandhorst Museum em Munique, mas enquanto o projeto de Sauerbruch & Hutton tratam o compacto volume com uma pele total - interrompida apenas por poucas áreas de esquadrias de vidro -, os vidros coloridos do MUSAC estao limitados à área de entrada do público, sendo utilizado o vidro incolor para os outros volumes que compoem o edifício: a arquitetura se recusa irônicamente a ser cenário urbano e elabora ao mesmo tempo uma acusação cheia de desdém a qualquer contextualismo. Muito bom.
É verdade que o MUSAC está coberto de descriçoes que relacionam seus vidros coloridos aos vitrais da catedral da cidade, mas desde que as cores dos vidros de sua fachada jamais são percebidas no interior do edifício, fica claro mais uma vez que tais "discursos ligados ao lugar" pouco tem a ver com o museu.
Entrando no museu, o usuário se depara com um dos saguoes mais bonitos do mundo, em um espaço onde a leveza construtiva associada aos grandes vãos de abertura e à inversão tectônica entre o interior e o exterior, já garantiria em boa parte um imenso destaque ao edifício.
Mas é na relação entre a simplicidade da geometria da unidade básica de composição em planta-baixa - um paralelogramo - e o impressionante espaço labiríntico formado pelas salas de exposição e pátios que a arquitetura do MUSAC se faz. Por sorte, estive ali quando um artista influenciado por ideias de filósofos franceses propôs para o espaço de uma das alas do museu um vazio com variaçoes de iluminação como "obra de arte": que prazer ter podido percebê-lo desta maneira, como puro espaço (e esta foi uma das poucas coisas interessantes que já vi surgir a partir destas ideias filosóficas que estão em moda no mundo das línguas latinas há uns 25 anos.....).
No fundo, a maestria deste prédio pode ser medida pela impressão mais forte que a sua planta deixa: tenho a suspeita que se um estudante de arquitetura propusesse algo assim como solução de projeto para um exercício nas universidades mundo afora, não seria tão facilmente aceito pelos docentes.
O MUSAC é arquitetura, na sua mais precisa e transcendental compreensão. Uma grande aula, um edifício como poucos até agora no século XXI. Quem for visitá-lo, não deixe de prestar atenção na antecâmara da entrada, ao lado direito de quem entra, onde está instalado o charmoso porta-guarda-chuvas: ali sim, uma lição de como e em que intensidade a arquitetura deve se relacionar com a cultura local.
É uma tristeza saber que um dos seus autores, Luis Mansilla, morreu hoje tão jovem.
porta-guarda-chuvas do MUSAC |
sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012
cordas, carnaval e música
Tenho lido nas últimas semanas, em especial a partir das questoes levantadas pelo movimento Desocupa Salvador / Praça de Ondina, uma série de cobranças e acusaçoes às "estrelas do axé music", de ontem e de hoje, sobre os über-camarotes e as cordas dos blocos de carnaval; a última destas cobranças, e talvez a mais forte, sintetizava uma certa indignação à entrevista de Bell Marques a um jornal local através de um gráfico que associa uma foto do cantor a uma forca, com o trocadilho A CORDA.
Sem em nenhum momento concordar com o ponto de vista destas "estrelas", compreendo-as perfeitamente, da mesma maneira que não posso compreender a cobrança dirigidas a elas; mais ainda, por exemplo, não vejo diferença entre pagar um abadá para sair no Inter ou no Eva e arrecadar dinheiro entre pessoas privadas através das redes sociais para o financiamento do Microtrio (por mais que eu goste do Microtrio). Explico.
Sou da geração que viu escolas de samba na rua da ajuda, apaches com a bola de neve na praça municipal, macacão de posto de gasolina como roupa do bloco traz os montes, internacionais e corujas exculsivamente masculinos e vestidos de marinheiros, concurso de traveca às 15 horas da tarde nas escadas do palácio dos esportes, luis caldas e a banda acordes verdes em 1983 cantando a música do bloco beijo. E depois todo o que vem daí em diante (este aí significa o período de consolidação de um fenômeno gestado entre Moraes Moreira ter se tornado o primeiro cantor de trio e Luis Caldas ter clip no fantástico), embora mesmo esta história venha sendo muitas vezes distorcida em prol de leituras ideologicamente "racializadas".
O que fica claro a partir do sucesso com a fórmula da nova música de carnaval consolidada no início dos anos 80 é que ela se transformou em um produto pop - diferente de toda a outra música de carnaval do país, a exemplo dos frevos pernambucanos ou os sambas-enredos do Rio -, e que a corda do bloco no espaço de carnaval de rua em Salvador se tornou cada vez mais impermeável, sendo esta uma base fundamental para a ascensão da outra. Fiz uma exposiçao bastante detalhada deste "desenvolvimento" no artigo “De muquiranas, piratas e marinheiros a gays: o espaço dos homossexuais dentro do carnaval de Salvador nos últimos 25 anos”, que apresentei no SILACC 2010 – Simpósio Ibero Americano Cidade e Cultura: novas espacialidades e territorialidades urbanas.
Como cobrar assim das "estrelas do axé", que mais que cantores de carnaval de Salvador são astros do pop brasileiro, cuja construção da carreira está ontologicamente associada à corda do carnaval como construção de um espaço privilegiado dentro da festa que afirmou e construiu o sucesso comercial destas "estrelas" (e somente assim se explica que o Chiclete com Banana seja a banda mais popular, de sucesso mais prolongado e cujo abadá seja o mais caro de todos os blocos), que eles se posicionem contra a corda e o camarote, o aprimoramento final da separação, cuja especificidade espacial e sua exarcebação porém nao deixam de trazer a própria implosao do sistema, como o estamos vendo?
Em artigo publicado ontem, Messias Bandeira se dirige exatemente a quem se deve dirigir em toda esta polêmica: a quem paga blocos e camarotes. Eu me orgulho de, na condição de alguém que sempre gostou muito de carnaval e nunca suportou ouvir as músicas do carnaval um dia sequer fora do período da festa, ter descumprido minha regra de nunca ter pago para sair num bloco de carnaval uma úncia vez, com Os Mascarados. Mas creio que esta é uma culpa pequena.
O mecanismo da corda, que o camarote como seu extremo acaba por contraditoriamente ameaçá-lo, uma vez que ele ameaça o espaço fora da corda e não o de dentro da corda, não está pautado necessária- ou exclusivamente na discriminação social; ele foi um mecanismo de construção de um produto pop em uma sociedade - a baiana ou mesmo a soteropolitana - que nao possuía uma classe média robusta. Se querem o fim das cordas, reinventem o carnaval, tirando do foco da festa o seu produto pop básico, sua música, e por consequência, sua possibilidade de consumo. Com todas as suas consequências.
Sem em nenhum momento concordar com o ponto de vista destas "estrelas", compreendo-as perfeitamente, da mesma maneira que não posso compreender a cobrança dirigidas a elas; mais ainda, por exemplo, não vejo diferença entre pagar um abadá para sair no Inter ou no Eva e arrecadar dinheiro entre pessoas privadas através das redes sociais para o financiamento do Microtrio (por mais que eu goste do Microtrio). Explico.
Sou da geração que viu escolas de samba na rua da ajuda, apaches com a bola de neve na praça municipal, macacão de posto de gasolina como roupa do bloco traz os montes, internacionais e corujas exculsivamente masculinos e vestidos de marinheiros, concurso de traveca às 15 horas da tarde nas escadas do palácio dos esportes, luis caldas e a banda acordes verdes em 1983 cantando a música do bloco beijo. E depois todo o que vem daí em diante (este aí significa o período de consolidação de um fenômeno gestado entre Moraes Moreira ter se tornado o primeiro cantor de trio e Luis Caldas ter clip no fantástico), embora mesmo esta história venha sendo muitas vezes distorcida em prol de leituras ideologicamente "racializadas".
O que fica claro a partir do sucesso com a fórmula da nova música de carnaval consolidada no início dos anos 80 é que ela se transformou em um produto pop - diferente de toda a outra música de carnaval do país, a exemplo dos frevos pernambucanos ou os sambas-enredos do Rio -, e que a corda do bloco no espaço de carnaval de rua em Salvador se tornou cada vez mais impermeável, sendo esta uma base fundamental para a ascensão da outra. Fiz uma exposiçao bastante detalhada deste "desenvolvimento" no artigo “De muquiranas, piratas e marinheiros a gays: o espaço dos homossexuais dentro do carnaval de Salvador nos últimos 25 anos”, que apresentei no SILACC 2010 – Simpósio Ibero Americano Cidade e Cultura: novas espacialidades e territorialidades urbanas.
Como cobrar assim das "estrelas do axé", que mais que cantores de carnaval de Salvador são astros do pop brasileiro, cuja construção da carreira está ontologicamente associada à corda do carnaval como construção de um espaço privilegiado dentro da festa que afirmou e construiu o sucesso comercial destas "estrelas" (e somente assim se explica que o Chiclete com Banana seja a banda mais popular, de sucesso mais prolongado e cujo abadá seja o mais caro de todos os blocos), que eles se posicionem contra a corda e o camarote, o aprimoramento final da separação, cuja especificidade espacial e sua exarcebação porém nao deixam de trazer a própria implosao do sistema, como o estamos vendo?
Em artigo publicado ontem, Messias Bandeira se dirige exatemente a quem se deve dirigir em toda esta polêmica: a quem paga blocos e camarotes. Eu me orgulho de, na condição de alguém que sempre gostou muito de carnaval e nunca suportou ouvir as músicas do carnaval um dia sequer fora do período da festa, ter descumprido minha regra de nunca ter pago para sair num bloco de carnaval uma úncia vez, com Os Mascarados. Mas creio que esta é uma culpa pequena.
O mecanismo da corda, que o camarote como seu extremo acaba por contraditoriamente ameaçá-lo, uma vez que ele ameaça o espaço fora da corda e não o de dentro da corda, não está pautado necessária- ou exclusivamente na discriminação social; ele foi um mecanismo de construção de um produto pop em uma sociedade - a baiana ou mesmo a soteropolitana - que nao possuía uma classe média robusta. Se querem o fim das cordas, reinventem o carnaval, tirando do foco da festa o seu produto pop básico, sua música, e por consequência, sua possibilidade de consumo. Com todas as suas consequências.
domingo, 5 de fevereiro de 2012
born to die, impressoes rapidas sobre o disco de LdR
a primeira coisa que se constata ao ouvir o disco de Lana del Rey é que ela também tem que "cantar-falar como quem inveja negros que sofrem horrores no gueto do harlem": pelo visto a pressao da gravadora é tao grande que mesmo uma branquela rica da costa leste tem que ser acompanhada das super monótonas marcacoes rítmicas a la hip-hop/rap para poder ter um lançamento mundial como ela teve. quem diria que em tempos ainda anteriores ao fechamento do megaupload & co as gravadoras teriam tanta influência sobre a producao das faixas... e ainda teve gente que nao quis acreditar na mocinha de lábios grossos quando ela disse que tudo era fake...
as faixas sao tao obviamente comercialmente produzidas que infelizmente tive que lembrar da única vez que escutei o disco da cantora brasileira de visual mega-super-über-gobi de carreira impulsionada por caetano, milton e a novela das oito: era um disco tao careta, tao conservador nos arranjos, que até um disco de Simone poderia parecer mais moderninho. é óbvio que Lana del Rey nao está neste nivel de conservadorismo na producao, mas que se arriscaram pouco, ah sim, muito pouco.
ao menos LdR nao imita as vaporosas adolescentes da segunda metade da década de 90 e tampouco o ouvinte tem que escutar uma respiracao ofegante-de-motel no intervalo entre cada verso. isso já é alguma coisa. bom mesmo é ver que, apesar do anunciado nas imagens dos videos e nas referencias Elvis e Jim, o disco nao cai numa estética retro-nostálgica óbvia.
por enquanto, entretanto, as imagens que vem de LdR sao mais interessantes do que a música. que venha o próximo.
as faixas sao tao obviamente comercialmente produzidas que infelizmente tive que lembrar da única vez que escutei o disco da cantora brasileira de visual mega-super-über-gobi de carreira impulsionada por caetano, milton e a novela das oito: era um disco tao careta, tao conservador nos arranjos, que até um disco de Simone poderia parecer mais moderninho. é óbvio que Lana del Rey nao está neste nivel de conservadorismo na producao, mas que se arriscaram pouco, ah sim, muito pouco.
ao menos LdR nao imita as vaporosas adolescentes da segunda metade da década de 90 e tampouco o ouvinte tem que escutar uma respiracao ofegante-de-motel no intervalo entre cada verso. isso já é alguma coisa. bom mesmo é ver que, apesar do anunciado nas imagens dos videos e nas referencias Elvis e Jim, o disco nao cai numa estética retro-nostálgica óbvia.
por enquanto, entretanto, as imagens que vem de LdR sao mais interessantes do que a música. que venha o próximo.
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porque ninguém é mais menino
a última coisa que yoanny venha a ser é ingênua; qualquer pessoa sabe das ideologias, "negócios" e arrogâncias que dominam as cabeças de um partido com as pretensões que conhecemos, sintetizados estes dias pela lucidez de LeoJaime no twitter. ao publicar áudio com a 19a negativa do governo cubano de impedi-la sair do país, mais do que a situação, é ela própria que se coloca no centro de tudo. "it's you, it's you, it's all for you" com outro significado, é claro. é porque eu continuo achando que a bahia jamais seria motivo para alguém sair de seu país, mesmo que fosse apenas por três ou quatro dias. como vimos nos últimos dias, melhor para ela em seu confinamento na ilha, do que passeando pela praça da piedade em salvador.
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