Um piloto de avião comercial surtou hoje nos EUA: foi necessário que o co-piloto o trancasse fora da cabine, na área dos passageiros, para que o vôo pudesse seguir com segurança. Em seu "delírio", em um estado de crise de pânico ou de burnout causado por stress, que lhe impossibilitava de conduzir a aeronave, o piloto gritou aos passageiros que todos morreriam porque o avião estava sendo perseguido por afegãos e terroristas mulçumanos.
O interessante desta história é que ele não fez recurso a uma imagem pessoal, ligada à sua história privada apenas, como expressão sintomática daquilo que ele estava sentindo: o piloto recorreu ao grande culto do medo coletivo nos EUA, ao menos desde o fatídico 11 de setembro, que associa avioes, terrorismo islamista, o iraque e o afeganistão. A construção do delírio se apoia em imagens compreensivas porém irracionais, compartilhadas - ou seria melhor dizer aceitas - por aquela comunidade; é bem verdade que de uma maneira tão obsessiva, que uma grande parte dos passageiros poderia mesmo acreditar no "delírio" do piloto. Apenas o contexto - cultural, da época - explica a recorrência que o piloto fez a estas imagens em seu momento de surto.
Se usarmos o surto como metáfora (e apenas como metáfora, pois não cabe aqui nenhum diagnóstico de qualquer situação ou pessoa), poderemos entender a força do contexto na construção da forma de apresentação de um projeto que ocupou a faculdade de arquitetura e os postings nas redes sociais nos últimos dois dias. Prestem atenção, olhem ao redor, e vocês perceberão o contexto que explica direitinho a performance da sunga de carne / carne de sunga / sunga-gaga / gaga-carne.
Menos mal que, como os passageiros do avião, ainda há por aqui quem saiba fazer a distinção entre a situação de "delírio" (no âmbito local, também apenas metafórico) e os requisitos necessários para que um avião seja conduzido ou um edifício seja projetado. Ainda.