segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

2012: o ano em que Leo Kret nao se reelegeu

ou todo mundo no bate-cabeça
estávamos no centro, no olho, no meio do vendaval - ou da tempestade, ou da chuvinha boba mesmo (este meio se refere ao tempo, não ao espaço; ali, já sabemos, é tudo quietinho) quando Any e eu resolvemos escrever o Bate-Cabeça, o singelo manifesto para Salvador, que publicamos aqui neste blog, no chronos e na revista minha cidade no vitruvius. Em um ano, digamos, fora do calendário normal (embora infelizmente esta caracterização tenha tudo para mudar...), havia um interesse grande na área, em diversas frentes, em oferecer (?) uma mãozinha técnica aos políticos que concorriam à prefeitura daquela que é a cidade-capital-do-fim-do-mundo. Como sabemos hoje, pelo visto não se pretendia falar com todos os políticos, Leo Kret nao se reelegeu e tampouco o governador do estado conseguiu empurrar goela abaixo sua política de sequestro da capital.
O interessante é ver agora ecoar por todos os lados a mensagem principal contida no Bate-Cabeça; com uma certeza eu fico: participação democrática, se estivéssemos em outra constelação política, não seria neste momento, dias antes de 2013 iniciar, tão aclamada assim. Talvez alguns estivessem desde já cantando odes a viadutos, quem sabe. Ou caladinhos diante deles.
Fico mesmo chateado que Leo Kret nao tenha sido reeleita. Porque ela representa. E porque não será assim fácil deixar de ter razão para continuar a bater cabeças.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

espaço, esta abstração fascinante

Você pode ler sparação onde você quiser, especialmente se você estiver convencido da ideia de que a melhor solução para a separação é a própria separação. Os espaços construídos cotidianamente (não o espaço, esta abstração fascinante) em uma cidade como Salvador, sejam eles projetados por arquitetos ou não, tomam, nas últimas três décadas, como pressuposto para a sua realização o imperioso ato de separar : são as grades, os muros, os condomínios fechados, as administrações destes condomínios estruturadas para que os moradores não precisem "ir à rua", o desprezo oficial e cultural pela calçada, pela praia, o fetiche do automóvel (separação móvel no espaço) contra o ônibus, enfim, quase tudo que organiza o cotidiano de um soteropolitano médio. Alguém até mesmo poderia obviamente citar o shopping center como espaço privilegiado pelos cidadãos para lazer e consumo, com as suas estratificações sociais possíveis no interior do edifício privado, como um ícone desta supressão do espaço público.
O limite mais evidente destas separações ficou marcado pela época em que a prefeitura da cidade resolveu cercar de grades (que se pretendiam mais amenas por serem artísticas) as praças no centro da cidade, como o Campo Grande ou a Piedade. O Teatro Castro Alves também foi gradeado, pouca coisa sobrou de acesso livre ao púlico. Podemos imaginar que nas cenas que se desenvolvem nestes espaços construídos - organizados para a separação - os atores apresentam certas recorrências, de um lado e do outro do muro ou da grade, em uma cidade extremamente desigual do ponto de vista social. Podemos inclusive calibrar nossa observação através da imaginação para enxergar somente os tipos recorrentes e deixar de lado talvez o que há de interessante na variação; seria uma escolha.
Quando arquitetos se debruçam sobre espaços abertos, sem grades ou outros obstáculos maiores ao acesso, e realizam propostas que mantém o caráter de livre acesso a este espaço, já seria um grande motivo para comemoração em uma cidade cujos elementos mais básicos faltam, como é o caso de Salvador. Realizar um projeto para uma praça e conservar o seu caráter público é portanto eminentemente salutar: é conservar no projeto a chance de que qualquer pessoa acesse o espaço da praça. Agora uns, em outro instante, outros, mais adiante, outros dos outros: no espaço público aberto, sem grades ou muros, o usuário pode ser qualquer um, basta entrar. Um pouquinho de imaginação, curiosidade e reflexão pode ser útil para vislumbrar gente a mais diferente possível em um espaço de praça sem cercas a partir de uma imagem qualquer. Alguém pode até imainar o auxílio mais contemporâneo da videovigilância para a manutenção das separações, mas diante de uma única imagem, que não faz nenhuma referência a tal equipamento, isso seria pura imaginação de quem queira construir a separação. Pois sempre haverá quem queira ver separação em tudo, mesmo numa praça aberta. Talvez mudar as lentes ajude. Mas talvez seja necessário mesmo deixar de lado a má vontade.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

RIP Oscar Niemeyer 5.12.2012


Estive ao lado de Oscar Niemeyer uma única vez em 1998, no seu escritório. Fiquei bem pertinho dele, para ouvir com exatidão o que ele falava (pois ele falava bem baixinho) e traduzir ao alemão, para o grupo de estudantes e professores da Universidade Técnica de Viena, em excursão pelo Brasil, da qual eu também fazia parte. Antes de começar, ele me perguntou se eu era arquiteto, para ter certeza que eu iria traduzir bem. No meu duplo nervosismo, de estar ao lado dele e de traduzir a sua fala ao alemão, uma palavra não consegui lembrar de jeito nenhum: corrimão em alemão (Niemeyer falava neste momento da beleza da escada do Itamaraty). Fiz um gesto, e todo mundo entendeu e falou quase em coro: Geländer!
RIP Oscar Niemeyer