segunda-feira, 24 de junho de 2013

urna transparente, a minha

Nenhum dos candidatos em que votei até hoje conseguiu ser eleito.
Nas últimas eleições presidenciais, por exemplo, votei em um candidato que teve 0,86% dos votos.
Nos anos 90, votando no único partido que defendia como um dos principais pontos do seu programa a igualdade de direitos civis para todos os brasileiros, nunca tive a companhia de mais de 1% dos meus compatriotas.
Portanto, compartilho com poucos brasileiros as perspectivas futuras e valores deste coletivo. E isso não é problema algum.
Como nunca fui, não sou e nem pretendo ser militante de partido algum, na hora do voto, decido com espírito crítico em que partido e em quem votar.
Isso me permite analisar as diferentes esferas de poder, que no Brasil têm eleições simultâneas, e votar em uma mesma eleição para diferentes partidos, por exemplo, para o cargo de governador de estado e para o cargo de deputado federal.
Nas últimas eleições, meus dois derrotados candidatos a prefeito e a vereador eram de partidos distintos.
Enquanto o país for uma democracia, espera-se que este livre pensar, desamarrado das doutrinas partidárias, seja o da maioria. Ele garante o avanço, o debate. Não é à toa que em ditaduras monopartidárias, como em Cuba ou na Alemanha Nazista ou na Alemanha Comunista, é necessário que muita gente seja membro do partido que terroriza a população.
Por isso, no momento em que as pessoas vão às ruas com suas reivindicações, eu imagino que o melhor que os partidos políticos teriam a fazer é escutar, ler e obsevar o que as pessoas têm para dizer. Alguns deles não fazem isso por arrogância, por se entenderem como entidades iluminadas acima da população. Outros simplesmente não querem demonstração nenhuma.
Se em tempos normais, a liberdade de opinião é um dos pilares da democracia, em tempos de crise, ainda mais.
Sem a liberdade de expressão agora, sem a liberdade de cada um ir à rua protestar, o que será das eleições futuras?

sexta-feira, 21 de junho de 2013

agora querem instalar catracas de acesso à multidão

A pior coisa que tenho lido nas últimas 36 horas é a arrogância de muita gente que, se colocando em instância moral superior por se autodenominar "de esquerda", quer criar agora uma catraca nas manifestações: para esta gente, inclusive para o deputado-big-brother, eles se acham na posição de determinar quem tem o direito de protestar, porque eles crêem ter critério para estabelecer o que eles entendem como uma razão justa para os protestos.
O movimento que é originalmente por catracas livres agora quer então instalar catracas na multidão?
Ora a rua é pública e a liberdade de expressão é um dos direitos fundamentais do ser humano. Existe muita raiva contida no Brasil, o aumento das tarifas de ônibus foi uma gota d'água muito pequena.
Voces estão com medo de quê? Com medo de conhecer o Brasil como ele é? De enfrentar na política real, na política de ação, as distintas insatisfações com o país?
Se há extrema-direita se manifestando, é porque nao houve educação suficiente para que tais ideias abomináveis - como aquelas apoiadas pelo governo e defendidas pelo Pastor Marcos Feliciano - se propagassem.
Vocês que toleraram este governo petisita, vocês que o elegeram, criaram terreno fácil para isso, apoairam um governo de intolerância e de falta de diálogo.
Agora querer reprimir a liberdade de expressão, querer impedir que TODOS tenham voz, isso faz de vocês os agentes que então estão preparando o golpe final. O golpe deste status quo contra o qual as pessoas estão nas ruas.
#liberdadedeexpressaoédireitofundamental
#cadaumtemsuaqueixa
#vempraruavocêtambémvem
#VerasQueUmFilhoTeuNaoFogeALuta

quinta-feira, 20 de junho de 2013

A Ponte para Itaparica é o nosso Parque Gezi

Temos na Bahia uma pauta urgente, que é equivalente ao Parque Gezi em Istambul. Precisamos impedir que o Governo do Estado da Bahia construa a Ponte para Itaparica. É preciso que as ruas exijam isto do governador da Bahia e do prefeito de Salvador. 
Os gastos com a Ponte sao estratosféricos, a Ponte não tem nenhum argumento técnico do ponto de vista dos transportes e da economia que a sustente enquanto projeto de uma sociedade; a ponte só interessa às empreteiras que a irão construir e depois destruirão a Ilha de Itaparica com arranha-céus. E aos políticos que estão no poder, as razões todos devem saber.
O Prof. Paulo Ormindo vem esclarecendo em uma série de artigos publicados na imprensa todos os argumentos contrários à insanidade que é construir esta ponte.
Portanto, vamos à rua protestar também contra a Ponte para a Ilha de Itaparica, precisamos nos defender deste absurdo e ainda podemos conseguir isso. As manifestações em Salvador só devem parar quando este projeto for definitivamente arquivado.
A Ponte para Itaparica é o nosso Parque Gezi.
Contra a Ponte para Itaparica, #VEMPRARUA !!!!

terça-feira, 18 de junho de 2013

depois do grande protesto de segunda-feira, dia 17 de junho

Multiplicaram-se hoje os textos de filósofos, sociólogos e afins querendo identificar (o que seria determinar) um foco para o movimento. Eles tentam obviamente fazer com que as pessoas acreditem que os manifestantes estão nas ruas apenas pelas altas tarifas dos transportes públicos. Eles insistem em tentar neutralizar o movimento gerando uma compreensão de que existe um alvo, um foco, um objetivo preciso no movimento.
Como são textos bem escritos, a tentação de acreditar nisso é fácil. Eu queria que um destes filósofos, sociólogos, etc apresentasse uma solução rápida e imediata, e de preferência sem nenhum prejuízo às massas, para as horas intermináveis que as pessoas perdem no trânsito, uma solução tão prática e imediata quanto o efeito que terá uma provável redução das tarifas. Baixar as tarifas hoje (mesmo que o governo para isso venha a abrir mão de parte do financiamento da campanha do ano que vem) é algo fácil de fazer, e se as pessoas acreditarem que o foco é este, entao será mais fácil depois conduzir a população que não está nas ruas contra quem está se manifestando. 
O mote será: as tarifas foram abaixadas, porque estes vândalos não param de demonstrar?
As pessoas estão protestando contra as horas e horas de vida perdidas no engarrafamento, contra a arrogância ditatorial do governo, que insiste em se ver na posição de "condução iluminada das massas ignorantes e famintas por bens de consumo", contra um mal-estar imenso de viver em cidades como Salvador ou São Paulo, com medo, sem opção de lazer, sem área verde, sem escolas públicas que prestem, sem tranquilidade para se ter um cotidiano simples. 
Não tem foco, porque as necessidades e os desconfortos, reprimidos através do efeito moralista e anestesiante conseguido com a chantagem social elaborada a partir das frágeis satisfações materialistas para os mais pobres, são muitas e imensas e variadas. É preciso que reafirmemos todo o tempo esta multiplicidade das reivindicações, é preciso dar vazão a tudo que até agora foi reprimido em nome de um assistencialismo frágil, incapaz de resistir a 20 centavos. Porque não é disso que estamos falando!

domingo, 16 de junho de 2013

2012: o ano que não acabou

No ano passado, em 2012, as universidades federais se levantaram contra o governo: depois de dois anos de enrolação, o governo insistia em não tratar com seriedade as negociações que deveriam discutir as condições de trabalho extremamente precarizadas pela expansão universitária sem qualidade, a recuperação do salário, defasado pela inflação acumulada, o modelo de financiamento de universidades privadas através do PROUNI, uma nova carreira, alguns dos pontos de uma vasta pauta de reivindicações. Estudantes e técnicos se juntaram aos professores em um movimento extremamente vigoroso; o gelo foi quebrado.
A greve atingiu praticamente 100% das universidades e originou uma onda de greve em várias categorias do funcionalismo público federal. Como todos sabemos, o governo petista sequer negociou com o sindicato dos professores, mantendo-se indiferente à urgência das questões levantadas pelo movimento em todos os setores da universidade.
Na Bahia, vivemos aquele momento de uma perspectiva especial. O governo do estado, também petista, reprimiu violentamente as greves dos policiais e dos professores. Quem acompanhou o movimento na universidade deve lembrar ainda hoje do depoimento de um dos líderes dos professores estaduais em uma assembleia na Reitoria: aquele depoimento, que falava de forte repressão e uso da violência contra os professores, foi um grande incentivo para quem ali esteve continuar a lutar.
Além disso, os professores da UFBA tiveram o seu direito de reunião ameaçados, através de um mandato judicial, que incluía a solicitação de uso da força policial, contra 16 professores que compunham o comando de greve. A truculência, que ia muito além da negação do diálogo, foi sentida na Bahia naquele momento nos dois níveis, federal e estadual.
Em termos nacionais, olhando da perspectiva do que está acontecendo hoje, a greve nas universidades, dirigida contra a política do atual governo, funcionou como uma abertura de vanguarda para a possibilidade de crítica ampla e direta contra um projeto político que se prevê perene por muitos anos à frente do Estado.
As universidades em greve, assim como as escolas no Estado da Bahia, disseminaram esta possibilidade de crítica por muitos lares. Quando a classe média brasileira - a nova e a velha - viu a classe média turca reclamar para si com tanta veemência um parque e suas árvores (eles não estão lutando contra uma ditadura no sentido clássico do termo, como foi o caso dos países da primavera árabe, eles estão em um país aparentemente "democrático" como o nosso), ela percebeu que era chegado o momento de ir às ruas. Os 20 centavos foram somente uma feliz coincidência.