Assistencialismo e Meritocracia sao dois lados da mesma moeda.
Assistencialismo foi a palavra mais recorrente usada para criticar frontalmente os programas de transferência de renda muitas vezes denominado de "programas sociais" pelo Estado brasileiro. A negatividade do sufixo -ismo é a mesma contida no uso da palavra homossexualismo para designar homossexualidade.
Não consigo imaginar que alguém de sã consciência seja contra a ideia de assistência, ainda mais em uma sociedade. Em casos de catástrofes, prestamos assistência aos necessitados: seja um incêndio, uma enchente, um furacão. Uma pessoa doente ou acidentada precisa de assistência médica, e para verificar como o termo foi "pejorativizado", hoje no Brasil só se usa Plano de Saúde para designar o que há 20 anos se chamava Assistência Médica. Então a ideia de que uma sociedade resolva prestar assistência social (sim, existe inlcusive uma profissão com este nome) às pessoas em condições de vida abaixo da dignidade humana e oferecer a estas pessoas alguma possibilidade de sair desta condição não deveria ser difícil de ser amplamente aceita.
Como nada é muito simples, oferecer o peixe sem ensinar como pescar não pode durar muito tempo, esta é uma medida que só pode ter caráter emergencial. Então há problema sim, com o que uma sociedade faz daquilo que deveria ser assistência social: se a meta social é comprar eletrodomésticos da linha branca, carros e carros e calças de 300 reais e se professores em busca de melhores condições de trabalho são espancados nas ruas pelas polícias, há que se reconhecer que algo de errado está em curso nesta noção de "assistência". Das chantagens eleitorais eu nem pretendo falar.
Bem, o outro lado da moeda é tentar desqualificar toda e qualquer noção de mérito através da palavra meritocracia. O sufixo aqui age de uma maneira mais sutil: com a última sílaba da palavra mérito, a associação é feita imediatamente com aristocracia e nao com democracia. As consequências são as mesmas: da mesma maneira que toda e qualquer assistência torna-se alvo de ódio e incompreensão, aqui o mérito em si passa a ser questionado: em defesa do que é chamado em geral de "reparação" não se pode mais reconhecer mérito algum em ninguém.
Em mérito existe uma noção tão simples como a de assistência: não tem porque entregar o seu computador ao seu dentista para consertar se ele não tem o mérito para isso (no sentido de ele não ter conseguido alcançar o patamar necessário para tal conserto) e, da mesma forma, não se faria o contrário, ou seja, um tratamento de canal com o técnico de informática.
O discurso contra o mérito por trás do uso da palavra meritocracia adora usar o exemplo do acesso às universidades via vestibular. Por este raciocínio, é um erro a universidade ter a chance de escolher os candidatos a estudantes mais bem preparados, porque quem deveria preparar os estudantes o fez de maneira ruim, se o fez. Outro exemplo pode ser visto nos efeitos da transformação da luta feminista em política de cotas em alguns países da Europa Central: a prática deste sistema levou com os anos a uma situação na prática onde em um concurso para uma vaga de professor catedrático nas universidades, caso haja uma mulher inscrita, ela será automaticamente a escolhida, independente mesmo do currículo. As consequências de não escolher o/a/x melhxr professxr pesquisadxr tem efeitos sociais muito maiores do que aqueles para a candidata escolhida.
No Brasil, a falência da capacidade de gerar iguais oportunidades agora é combatida com o ataque a quem tem algum mérito; pela lógica absurda, se você tem algum mérito, você é culpado de alguém não ter, não importa o esforço que você tenha feito para isso. Mérito se tornou xingamento. Tenho a impressão que a única coisa a substituir a ideia de mérito no Brasil é o jeitinho, a lei de Gerson. Até cair o primeiro prédio mal calculado.
Porque afinal enquanto a socidade brasileira for aquela da cópia autenticada, pode-se ir para um lado e para o outro, pouca coisa muda substancialmente. A cópia autenticada é a medida que demonstra a desconfiança como um dos principais elementos de coesão social do país. Por princípio, cada brasileiro vê no outro um Gerson pior. Cada vez mais, com exemplos que demonstram ter bastante mérito para isso.
quinta-feira, 31 de outubro de 2013
domingo, 27 de outubro de 2013
Yoanny, a blogueira cubana, reloaded
O que se viu ontem em Cachoeira, com a agressão ao convidado da Flica ao ponto de um debate sobre livros e ideias ter sido cancelado, foi a repetição do que fizeram com a blogueira cubana Yoanny em Feira de Santana.
O brasil nos últimos anos recrudesceu sua cultura autoritária, mas a bahia dos últimos anos parece ser o berço e a fonte do que há de pior em envenenar a democracia.Nao entendo o debate nao ter acontecido, a Flica deveria ter feito de tudo para garantir a liberdade de opinião, afinal se trata de um evento literário, um evento que alem da liberdade de expressão artística so tem sentido de existir em um campo de liberdade de pensamento. Senão passa a ser apenas palco de propaganda política. Que foi o que aconteceu ontem.
O brasil nos últimos anos recrudesceu sua cultura autoritária, mas a bahia dos últimos anos parece ser o berço e a fonte do que há de pior em envenenar a democracia.Nao entendo o debate nao ter acontecido, a Flica deveria ter feito de tudo para garantir a liberdade de opinião, afinal se trata de um evento literário, um evento que alem da liberdade de expressão artística so tem sentido de existir em um campo de liberdade de pensamento. Senão passa a ser apenas palco de propaganda política. Que foi o que aconteceu ontem.
segunda-feira, 21 de outubro de 2013
Primeiro Campeonato Acriano de Natação, uma ficção
O clube de natação Boto Amazonino, com sede em Rio Branco, fazia tempo não conseguia novos sócios. Ainda que fosse o maior do Estado, com cerca de 290 nadadores em suas aulas para todas as idades, e que possuísse a melhor piscina, ele não era o único; além de existirem clubes menores tanto na capital como em outras cidades, as pessoas do Estado ainda usavam os rios pouco volumosos para treinar, fazendo com que o número aproximado de nadadores registrado na Federação Acriana de Natação fosse de aproximadamente 450 esportistas, vinculados ou não a clubes.
Além de ser o maior, o Clube do Boto Amazonino foi fundado décadas antes de ter sido estabelecida a Federação Acriana de Natação, sobre a qual ele exercia grande influência política. Inspirada então por jogos de pirâmide e estratégias de marketing de massas italianas, a direção do Clube teve uma ideia genial: resolveu convocar, independente da Federação, o inédito Campeonato Acriano de Natação, para todas as idades e modalidades. Para atrair novos sócios para o clube, a estratégia elaborada foi a de cobrar uma taxa para inscrição de não-sócios que fosse o equivalente ao que um sócio paga em mensalidades por 6 meses e, ao mesmo tempo, declarar grátis a inscrição para sócios. Era claro que até um dia antes do certame as pessoas podiam se tornar sócias do clube. Nem precisa dizer que a Federação Acriana de Natação publicou uma declaração em todos os jornais do Estado parabenizando a iniciativa e convocando todos os nadadores a participarem.
O Clube do Boto Amazonino ganhou vários sócios novos. Dois clubes de bairro quase tiveram que fechar as suas portas, pois 50% dos alunos de suas escolinhas se transferiram para o Boto Amazonino, sem nem perceber que com os gastos de transporte coletivo iria sair mais caro passar a frequentar o maior dos clubes do Acre. O rios continuam lá. E teve gente que se recusou a participar da Competição, pois não tinha sido convocada pela Federação. Os Estados de Amazonas e Rondônia, que não são nada bobos, perceberam a jogada e a situação criada e convocaram um Campeonato Amazonense de Natação através de suas Federações, com inscrição grátis. Como porém este outro campeonato só foi lançado dois meses depois daquele promovido pelo Clube do Boto Amazonino, ninguém se queixou. Mas os melhores atletas, depois disso, foram embora do Acre. Fim da História.
PS Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com fatos ou pessoas ou nomes ou situações da vida real terá sido mera coincidência
Além de ser o maior, o Clube do Boto Amazonino foi fundado décadas antes de ter sido estabelecida a Federação Acriana de Natação, sobre a qual ele exercia grande influência política. Inspirada então por jogos de pirâmide e estratégias de marketing de massas italianas, a direção do Clube teve uma ideia genial: resolveu convocar, independente da Federação, o inédito Campeonato Acriano de Natação, para todas as idades e modalidades. Para atrair novos sócios para o clube, a estratégia elaborada foi a de cobrar uma taxa para inscrição de não-sócios que fosse o equivalente ao que um sócio paga em mensalidades por 6 meses e, ao mesmo tempo, declarar grátis a inscrição para sócios. Era claro que até um dia antes do certame as pessoas podiam se tornar sócias do clube. Nem precisa dizer que a Federação Acriana de Natação publicou uma declaração em todos os jornais do Estado parabenizando a iniciativa e convocando todos os nadadores a participarem.
O Clube do Boto Amazonino ganhou vários sócios novos. Dois clubes de bairro quase tiveram que fechar as suas portas, pois 50% dos alunos de suas escolinhas se transferiram para o Boto Amazonino, sem nem perceber que com os gastos de transporte coletivo iria sair mais caro passar a frequentar o maior dos clubes do Acre. O rios continuam lá. E teve gente que se recusou a participar da Competição, pois não tinha sido convocada pela Federação. Os Estados de Amazonas e Rondônia, que não são nada bobos, perceberam a jogada e a situação criada e convocaram um Campeonato Amazonense de Natação através de suas Federações, com inscrição grátis. Como porém este outro campeonato só foi lançado dois meses depois daquele promovido pelo Clube do Boto Amazonino, ninguém se queixou. Mas os melhores atletas, depois disso, foram embora do Acre. Fim da História.
PS Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com fatos ou pessoas ou nomes ou situações da vida real terá sido mera coincidência
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sexta-feira, 11 de outubro de 2013
uma loja de impressoras 3D... aqui no quarteirão!
Quem poderia pensar que a nova filial de uma rede de supermercados perderia tão rapidamente o posto de novidade mais interessante do quarteirão! Além de terem sido um tanto decepcionantes a oferta de produtos e especialmente a sempre estressante área dos caixas, o supermercado jamais teria condição de concorrer com a loja de impressoras 3D que abriu do outro lado da rua.
Nunca imaginei que tão rapidamente fosse ver impressoras 3D sendo vendidas em lojas não-virtuais, muito menos em uma dedicada exclusivamente ao produto. E aqui do lado!
Ainda que eu tenha conseguido fazer a foto com a vitrine livre, a grande novidade tem atraído público de todas as idades que param na frente da loja e observam uma impressora em funcionamento e as suas "impressões tridimensionais" já prontas. O fascínio é mesmo grande, tipo um brinquedão para toda a família, ainda que muitos devam se preguntar sobre a serventia da coisa, especialmente porque custa 1400 euros.
O que achei mais interessante é que a loja parece muito mais com um armarinho do que com uma papelaria ou loja de informática: ocupando toda a área da parede que não se vê nesta foto estão dispostos em várias cores os carretéis de plástico que servem de matéria-prima para a impressão. Ali na vitrine também estão alguns deles.
Nunca imaginei que tão rapidamente fosse ver impressoras 3D sendo vendidas em lojas não-virtuais, muito menos em uma dedicada exclusivamente ao produto. E aqui do lado!
Ainda que eu tenha conseguido fazer a foto com a vitrine livre, a grande novidade tem atraído público de todas as idades que param na frente da loja e observam uma impressora em funcionamento e as suas "impressões tridimensionais" já prontas. O fascínio é mesmo grande, tipo um brinquedão para toda a família, ainda que muitos devam se preguntar sobre a serventia da coisa, especialmente porque custa 1400 euros.
O que achei mais interessante é que a loja parece muito mais com um armarinho do que com uma papelaria ou loja de informática: ocupando toda a área da parede que não se vê nesta foto estão dispostos em várias cores os carretéis de plástico que servem de matéria-prima para a impressão. Ali na vitrine também estão alguns deles.
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domingo, 6 de outubro de 2013
De bicicleta por Viena, 02: Do Prater à Ilha do Danúbio
Vários caminhos ligam os distritos 2 e 20 de Viena à vizinha Ilha do Danúbio, a maior área de lazer da cidade. Entre eles e a Ilha, entretanto, está o Danúbio, com mais de 400 metros de largura de margem a margem. Para o ciclista que mora ao sul da cidade, existem duas importantes ligações: através da Ponte do Prater e por cima da barragem da usina hiderlétrica, construída no extremo sul da ilha.
A Ponte do Prater sobre o Danúbio corresponde ao trecho elevado da autopista urbana que corta Viena ao sul da cidade e que é uma das mais movimentadas em número de automóveis e caminhões de toda a Europa. Como ela passa por cima do jardim do Prater, ela se mantém ali elevada, sem interromper a continuidade espacial do parque.
Os ciclistas que vão em direção a Ilha do Danúbio alcançam a Ponte a partir de uma pequena ladeira, mas chegando na ponte, não trafegam no mesmo nível dos veículos automotores: na altura da estrutura, sob o nível da rua, foi fixada uma ciclovia, que desta maneira livra os ciclistas dos gases e ruídos dos carros e caminhões.
Interessante é a estrutura que foi construída para a descida da ciclovia, tanto na margem do rio ainda no 2° distrito como na chegada à Ilha: uma rampa em espiral, atirantada, sutentada por uma estrutura metálica no centro da circunferência. O raio da rampa é grande o suficiente para que a subida seja agradável e que a descida seja um prazer para o ciclista, especialmente se tiver a sorte de ninguém vir subindo na pista contrária. Descida a rampa, é só seguir pela Ilha.
A Ponte do Prater sobre o Danúbio corresponde ao trecho elevado da autopista urbana que corta Viena ao sul da cidade e que é uma das mais movimentadas em número de automóveis e caminhões de toda a Europa. Como ela passa por cima do jardim do Prater, ela se mantém ali elevada, sem interromper a continuidade espacial do parque.
Os ciclistas que vão em direção a Ilha do Danúbio alcançam a Ponte a partir de uma pequena ladeira, mas chegando na ponte, não trafegam no mesmo nível dos veículos automotores: na altura da estrutura, sob o nível da rua, foi fixada uma ciclovia, que desta maneira livra os ciclistas dos gases e ruídos dos carros e caminhões.
Interessante é a estrutura que foi construída para a descida da ciclovia, tanto na margem do rio ainda no 2° distrito como na chegada à Ilha: uma rampa em espiral, atirantada, sutentada por uma estrutura metálica no centro da circunferência. O raio da rampa é grande o suficiente para que a subida seja agradável e que a descida seja um prazer para o ciclista, especialmente se tiver a sorte de ninguém vir subindo na pista contrária. Descida a rampa, é só seguir pela Ilha.
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