terça-feira, 18 de novembro de 2014

teria sido possível ou hätte sein können : austria X brasil hoje em viena

estádio ernst happel, onde austria e brasil jogam nesta terça, 18 de novembro
A melhor prova de que existe uma cultura global e de que o futebol é parte essencial desta cultura global é o fato de austríacos insistirem em assistir ao futebol, comentá-lo, continuar a praticá-lo.
Apenas a sensação de que não se pode estar fora deste compartilhamento global explica esta dedicação.
Graças a ter o país sobre / por entre / apesar / nos cantinhos dos Alpes, austríacos estão entre os melhores esquiadores do mundo. Esquiar é por assim dizer culturalmente tão forte que somente a recente inflação dos preços graças aos novos turistas novos ricos fez arrefecer a obrigatoriedade dos cursos de esquiar para todas as crianças, todos os anos.
Esquiando - e praticando outros jogos de inverno - eles estão entre os melhores do mundo. Mas quando o assunto é futebol.... a última grande façanha nacional foi em 1978, na cidade de Córdoba na Argentina, quando conseguiram ganhar do eterno rival em todos os assuntos, a Alemanha. Córdoba, na Áustria, é uma palavra mágica, faz brilhar os olhos em uma nostalgia que reacende o mito de david contra golias. E que Golias!
Daí que no noticiário esportivo austríaco, especialmente ao se falar de futebol, é quase impossível que não surja em algum momento a construção hätte sein können (teria sido possível). Levei anos inconformado com o uso desta expressão no noticiário esportivo, afinal, após uma partida, o resultado seja ele qual for, deveria excluir o uso completo deste tipo de especulação, pois quem não faz, toma.
O hätte sein können tem a função de manter de alguma maneira a participação neste campo cultural global, é a insistência onde a desilusão completa deveria ser a única consequencia lógica.
Mas daqui a pouco, espero que austríacos nao tenham razão para explicar o desempenho de sua seleção através de mais um hätte sein können. Vou torcer para que David Alaba faça ao menos um gol. É que a série de vitórias da seleção brasileira desde o final da copa do mundo já está dando lugar a uma narrativa discursiva onde a história da copa já poderia ser reescrita a partir de um "teria sido possível".
Belo Horizonte, afinal, é no mínimo uma Córdoba ao contrário. As razões do 7 X 1 são tão profundas que não se pode esperar que o sucesso em alguns jogos amistosos já sejam a razão para reescrever a história. Menos ainda com um futuro do pretérito composto.

domingo, 26 de outubro de 2014

geografia e poder

Durante este ano eleitoral acompanhei dois processos distantes do Brasil e que em nada se relacionam, acontecidos nas regiões de maior tradição democrática no planeta, os Estados Unidos e a União Europeia. O que ambos têm em comum é a relação entre espaço e poder, entre escalas espaciais e a tensão entre concentração/dispersão do poder.
O primeiro deles é o gradual processo de mudança nas constituições estaduais dos EUA das cláusulas que impedem o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Como sabemos, a Superma Corte daquele país decidiu em junho de 2013 que não havia base constitucional para manter a discriminação em relação aos casais homossexuais no que diz respeito ao direito ao casamento. Mas mesmo esta decisão sobre uma matéria tão elementar, que passa pela definição do núcleo social elementar, a família, por parte da mais alta corte do país não se traduziu em uma alteração imediata e uniforme do direito vigente em cada estado da federação. Faz pouco mais de duas semanas que esta decisão foi extendida a alguns Estados federados e agora sim, mais de um ano depois da decisão da Suprema Corte, com uma grande maioria já tendo permitido o casamento entre pessoas do mesmo sexo, é que se pode falar de uma ampliação irrestrita do direito conquistado a todos os Estados da Federação.
O segundo processo diz respeito ao acirramento na Espanha da disputa pela independência da Catalunha e ao plebiscito por uma independência da Escócia do Reino Unido. Parte de um aparato burocrático grande e superior e distante ao mesmo tempo, que assumiu uma série de poderes antes nacionais, estas regiões/países/estados percebem que alguns países da União Europeia, apesar de terem uma capacidade produtiva muito inferior à deles (como é o caso dos países do antigo bloco comunista), ou mesmo população e área muito menores (como o caso da Eslovênia), possuem direito a voto individual nas grandes decisões políticas do bloco. É inevitável que diante deste quadro estas regiões/países/estados, com tradições, língua e/ou história individualizadas queiram agir em patamar de igualdade com os outros países. O poder local, a possibilidade de um espaço limitado e de escala possível de ser reconhecido como próprio, articula-se para se defender diante de um poder distante, abstrato e descolado das demandas locais. As instâncias democráticas de decisão regulam o tempo inteiro a possibilidade de uma explosão em escala do espaço do poder. Aliás, este é o próprio dilema geral dos processos de democratização em tempos contemporâneos.
Os resultados de primeiro e segundo turno na disputa eleitoral do Brasil indicam um mesmo padrão de tensão, com um agravante: o centralismo, o excesso de poder dado ao Estado nacional, que é reforçado pela figura do presidente da república como chefe de governo. O Brasil, com sua gigantesca dimensão e centralização do poder, e nisso ele tem muito em comum com os outros BRICs, mantém-se como unidade a custa de muita violência. Como o problema nunca é encarado com seriedade - e a cada eleição é posto para debaixo do tapete - o reverso disso é a explosão de xenofobia que acompanha o clamor separatista.
O separatismo no Brasil é tão somente a expressão histérica de um problema concreto que não é tratado com a devida seriedade. Ou o Brasil passa por uma forte e verdadeira descentralização do poder, ou este problema assumirá cada vez mais expressões irracionais. Porque o espaço e suas dimensões nada tem de abstrato, está aí; ao contrário, impossível de ser eliminado, ele permanece definindo cada ação da vida individual e social.

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

o que realmente amedronta

Hoje o dia foi para Levy Fidelix ser execrado na condição de homofóbico nas redes sociais, apesar de o conteúdo da sua fala ser muito pouco diferente do que vem sendo dito por políticos de vários partidos no Brasil.
O que realmente deveria assustar é a seguinte frase:
"Então, gente, vamos ter coragem. Nós somos maioria, vamos enfrentar essa minoria. Vamos enfrentá-los."
Quando uma frase desta é possível de ser dita, considerando toda e qualquer minoria, a democracia está em perigo. O resto é ignorância e estupidez, grosseria sem limite. Mas esta frase diz muito sobre a cultura política brasileira.

assim se passaram três anos.....

"Lamento muito, que façam um bom proveito, que querem fazer e continuar como estao, mas eu presidente da republica nao vou estimular, se está na lei, que fique como está, mas estimular, jamais!, a uniao homoafetiva."
Levy Fidelix, 28 de setembro de 2014

"Não vai ser permitido a nenhum órgão do governo fazer propaganda de opções sexuais, nem de nenhuma forma nós nao podemos interferir na vida privada das pessoas. (...) Agora esta é uma questao [a distribuicao do kit anti-homofobia nas escolas] que o governo vai revisar: não haverá autorização para este tipo de política, de defesa de A, B, C ou D"
Dilma Roussef, 26 de maio de 2011
Eu nao vejo diferença entre uma e outra declaração.

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

arquitetura

em tempos de desafios, é sempre bom ter em mente uma definição clara:
como construir um edificio, elaborar uma abstração para que a construção seja o mais fidedigna possivel a uma ficção desejada, ao espaço que antes desta abstração ainda não existe: arquitetura.

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

no metrô, em salvador


Um giro de 180 graus ao redor de uma parede de concreto no andar térreo da estação da Lapa e de repente você está em outro mundo: limpeza, concreto lisinho, catracas todas funcionando e uma funcionária simpática te desejando uma boa tarde. O vazio deixado para que a clarabóia ilumine naturalmente o vão da estação Lapa é bonito, ao menos assim o permanecerá até o concreto começar a "viver".
Pouca gente para usar o metrô ainda gratuito, muitos seguranças e "cuidadores do equipamento" dão um ar de "tem que tomar cuidado se não esse povo destrói tudo logo no início". De saída, um estranhamento imenso com a gravação cumprimentando os usuários com um sonoro Oi! Será marketing da empresa de telefonia, assim, padrão "product placement"? 
O metrô passa pela estação Campo da Pólvora, de plataformas generosas, e em seguida sai do buraco para oferecer a contraditória sensação de um equipamento de parque de diversões a baixa velocidade: a considerável altura sobre o vale de Nazaré e Bonocô, associada à curva, é a abertura para uma montanha-russa frustrante, que passa o tempo todo com a velocidade de subida, ainda que ele durante o Bonocô propicie-nos a famosa subida e descida sem razão alguma (sim, com aquela consequência de aumentar o volume de concreto da obra). Sobe e desce, curva pra lá, curva pra cá, e a pessoa fica apenas no desejo de o ferrorama ser algo mais e fazer um loop irado. Não, nada disso.
O mais pertubador entretanto é a grande distância entre as estações de Brotas e Acesso Norte. Na lentidão da viagem, vamos vendo as pessoas subindo e descendo escadas, ruas íngremes, e o metrô vai devargazinho, desdenhando dos moradores de Cosme de Farias e Brotas. A paisagem urbana, já muito feia, torna-se constrangedora: duplica-se a sensação de estar em um brinquedo.
Há ainda uma estranha recorrência ao arco no metrô de Salvador, em concreto na Lapa, em estrutura metálica nas estações aéreas. E na estação do Campo da Pólvora, onde saímos depois da ida até o Retiro, há um anel de concreto sobre o grande vazio das escadas rolantes. Ao sair deste espaço, uma versão simplificada da estação do metrô em frente à estação central de trens em Nápolis e do círculo da estação da Sé em São Paulo, um novo estranhamento abrupto, sobre uma faixa de pedestres, diante do centro de saúde. Dali fui a pé até a rua chile, onde quase 100% dos imóveis estão fechados, nenhum público, nenhum negócio. Nunca pude experimentar de maneira tão viva no espaço a noção de tangente: na recusa de chegar ao centro, o metrô tangencia o fórum (é preciso se orientar para vê-lo), tangencia o centro. A roda que conduz esta cidade para onde ela está pelo visto não para.

terça-feira, 22 de julho de 2014

bobagens, tolices, criancices

O rapaz está semivestido de preto.
Botas, saia sobre uma tanga fio-dental e um chapéu-máscara, tudo em preto.
O rapaz fez fotos em casa, o rapaz fez fotos à porta da Igreja da Sé, antes e durante a subida da escadaria, dentro da igreja. A última foto da sequência mostra o momento em que um senhor trabalhando de segurança se dirige a ele, o rosto do senhor expressa reprovação. A função da sua entrada na igreja estava cumprida, algum atrito precisava ser criado.
Ao redor, sentados nos bancos da igreja, as pessoas o olham com desdém ou indiferença.
O rapaz deixa claro na sequência das fotos que o que lhe interessa é mostrar a bunda. É como se não vivêssemos no mundo da explosão de imagens pornográficas na internet, onde qualquer pessoa pode ver milhões de bundas mais ou menos peludas.
Com o rosto coberto e dentro de um espaço religioso, como não lembrar do concerto da banda Pussy Riot abortado pelas forças de segurança em Moscou e que resultou na prisão das ativistas-músicas?
Sim, imagens geram associações fáceis, entretanto ilusórias. O conteúdo político da ação das ativistas está determinado sobremaneira pelo seu contexto e, principalmente, pelo texto cantado pelas músicas-ativistas. Ali havia conteúdo.
Em São Paulo havia somente uma bunda peluda. E um rosto escondido.

sábado, 12 de julho de 2014

o streaming no livro de rostos do último jogo do brasil na copa

neste momento, o hino da fera ferida
#robertocarlosfeelings
é, desse jeito nao vao ser 7 hoje, serao 17
#brasilfail
o primeiro lance do jogo foi uma falta que gerou um penalti e que deveria ter rendido um cartao vermelho para o capitao da selecao brasileira.
melhor resumo do atual futebol da selecao brasileira nao há.
#tristeza
é 2. vai virar 17, tô dizendo
eu tou impressionado como a "elite branca" apoia o time da selecao brasileira
a culpa é de rihanna
tenho a impressao que os jogadores da holanda veem em julio cesar um goleiro contra o qual eles podem transformar qualquer chute em gol.
cotovelada capaz de fazer sangrar a cabeca do holandes
#futebolbrasileiro
eu vi este rapaz, fernandinho, entrar no segundo tempo e sabia que a funcao dele era dar porrada
nao sei como as pessoas torcem para um time destes.
#brasilfail
tiago silva, fernandinho, hernanes: agentes de porrada
e agora, Michele Prado, esse tambem foi penalti para a holanda.... rsrsrsrsrsrsrsrs
olé
azelitebranca nao vaia o time, porque azelitebranca nao gosta de criticar nada, azelitebranca sao tudo conservadora
3!!!!!
nao foi 17 mas pelo menos foi 3
perdendo de 2 azelitebranca nao queria vaiar e agora perdendo de 3 no finalzinho sera que azelitebranca vai vaiar o time? #touconfusu
azelitebranca tá vaiando agora, só vaia se for goleada
#aprendi
#tamacandonacaradaselecao
agora azelitebranca tá vaiando de com força
e azelitebranca no maracanã amanhã vai vaiar também?
é verdade; o estilo felipao, com o clima de autoritarismo que rege o pais, pode continuar como logica de gestao e de time. Muita coisa escandalosa envolvendo o brasil nao é garantia de mudanca alguma.
"esta historia de apagao é conversa fiada" comentarista da fox sports, agora (referindo-se ao jogo da alemanha)
azelitebranca bem educada aplaude o time da holanda
desde 1982 eu ouco que nao tem mais essa de time com tradicao ser melhor que os outros, que nao tem mais essa de time mais fraco, affffffffffffffffffffffffffffffffffff muda o discurso.
se vc gosta de futebol, sem nacionalismos rasteiros, deve perceber que o brasil nao ter caido nas quartas de final foi importante para mudar o futebol no brasil. sem as ultimas duas derrotas, nao se teria tido um retrato tao claro do atual futebol no brasil.
felipao disse que a selecao so jogou mal nos dois ultimos jogos. mal nao, mais ou menos.
#temjeitonao
o jogador entrevistado diz que ele continuara na selecao "se for da vontade de deus".
#semcomentários #aindaqueeuqueriaperguntaraeleporquedeusquisqueobrasilperdessede7a1
oscar em entrevista: "a gente vinha jogando bem ate o jogo contra a alemanha"
#avestruz
#temjeitonao
julio cesar diz que foi legal as professorinhas na escola correndo pra ensinar o hino as criancas para cantarem junto no inicio dos jogos.
mais uma razao para uma derrota tao humilhante. ja basta de nacionalismos.
#temjeitonao
#essepovonaoaprende
Pelo visto ha quem acredite em mudanca sem critica. Fique aí esperando.
So faltou uma coisa no final do jogo de hoje: congelar na cara de felipao, de olhos esbugalhados, e entrar a trilha sonora: OiOiOi !

domingo, 29 de junho de 2014

a boca do rio na barra

Domingo, pouco depois do por-do-sol. 
Embora as estruturas da fifa fan fest estejam sem uso, ecoa um resto de festa do dia anterior, quando por ocasião do jogo do brasil muita gente esteve por aqui: turistas e nativos assistem ao jogo que acontece naquele momento em TVs nos bares, sentados em cadeiras de plástico, que depois da copa não mais serão permitidas no bairro, como se sabe desde hoje; um grupo de pessoas fotografa uma destas estátuas vivas, repetindo um rito que nunca consegui entender; quatro homens tocam tambor e, embora o som produzido seja escutado desde muito longe, apenas três pessoas assistem à apresentação de percussão; muita gente simplesmente passeia, vindos de outros bairros, e os já iniciados explicam aos novatos tanto o funcionamento da instant city do futebol como as novas regras de trânsito da área.
A ambiência é exatamente aquela do antigo Aeroclube (ah, e com que propriedade esta cidade produz realidades que permitem associar o adjetivo antigo ao Shopping agora em demolição!) Os jarros distribuídos pela orla, acompanhados de bancos que ao ritmo de sim/não olham para o mar, tendo à frente as horrorosas balaustradas que substituem as que ali estavam, nos fazem procurar em vão pelo lugar da fonte que jorrava do piso e que divertia tanto as crianças, lembram? 
Mas a ambiência ali reproduzida não é exatamente deste aeroclube dos primeiros gloriosos dias, orgulho de gestões municipais e tema de matéria de revista semanal nacional. A ambiência ali reproduzida é de quando o shopping já estava meio fechado, com lojas abandonadas, tudo meio sinistro, meio escuro e já enferrujando. As edificações limítrofes à nova calçada da Barra formam um conjunto arruinado, abandonado, destruído, compondo uma espacialidade que faz aquela intervenção parecer estar em uma Bagdá ou uma Beirute em reconstrução após intensos bombardeios.
É evidente que uma parte destes imóveis será destruída e outra parte será recauchutada para aproveitar a garantia de aluguéis mais caros nos próximos tempos. Mas o fantasma do aeroclube já ronda a área. Aliás, já está lá.
PS: quem não mais lá está é o monumento a Stefan Zweig. Em se tratando de Salvador, acho até que durou muito tempo.

domingo, 15 de junho de 2014

da vaia, do Estado e do parlamentarismo

A vaia na abertura da Copa foi o atestado mais vivo de que o parlamentarismo precisa urgentemente substituir o presidencialismo, ainda que ela não seja uma razão para a mudança de regime.
O público presente no estádio enalteceu um dos símbolos do Estado, o hino; longe de qualquer ofensa àquilo para o qual a seleção de futebol também está em rela
ção de representação, o público fez o hino nacional vibrar por mais tempo que a gravação da base com os instrumentos. Então o público não tinha problemas com o Brasil, com esta entidade que une os brasileiros independente de suas opiniões políticas, este denominador comum geral, sustentado por cultura e pela própria máquina estatal. 
Em uma cerimônia como esta, o país é normalmente representado pelo chefe de Estado, que em democracias parlamentaristas não desempenha nenhuma função no governo.
As vaias e o xingamento na abertura da Copa foram para o chefe de governo, que infelizmente no Brasil é também o chefe de Estado.
Aquela cerimônia não tem nada a ver com o governo (ou melhor, nao deveria, exatamente para não ser cooptada), mas era a chefe do governo que estava lá, vestida com as cores da bandeira nacional, tentando capitalizar em votos algo que deveria estar acima da disputa eleitoral pelo governo. Nisso ela ofendeu o Estado. Mas poucos se importam com ele no Brasil.

sábado, 24 de maio de 2014

Sem redenção: Quarteto de Heiner Müller, montagem do Teatro NU

Após a Terceira Guerra Mundial, não há redenção.
Assisti a Quarteto, dirigida por Gil Vicente Tavares para celebrar seus 15 anos de carreira, na última quinta-feira, no dia em que a companhia convidou o público presente para um bate-papo sobre a produção. Depois de um espetáculo arrebatador, poder escutar a equipe comentando o processo criativo, a apuração dos detalhes e as interpretações feitas pela platéia foi mesmo uma chance única de poder aprofundar a reflexão sobre as tensões levantadas pelo texto e pela montagem.
Particularmente, o bate-papo ofereceu uma série de elementos que demonstraram o quanto a tomada de posição conceitual desta montagem é transcrita de maneira consequente em todos os seus aspectos, revelando um trabalho apurado de detalhamento na elaboração: foi possível perceber alguns mecanismos que alimentam a tensão sintética, marca do universo estético da companhia.
Uma das especiais decisões desta montagem está no círculo que determina a cena: muito além de ser um elemento regulador em um espaço marcado pela irregularidade formal como é o Teatro do ICBA e de fazer uso do fato de toda a plateia ali poder olhar do alto a superfície do palco, o círculo é uma das chaves da interpretação do dilema cenográfico imposto pelo autor do texto: um salão francês decadente / um bunker após a terceira guerra mundial. Espaço interior, o círculo decomposto nas 4 direções cardeais, tensão entre centralidade e rompimento do círculo, primazia espacial, tempo residual após o fim do tempo. O Quarteto encenado por Gil Vicente Tavares pode guardar, entre outras tantas coisas, um comentário crítico, não exatamente otimista, ao texto da famosa canção de Bob Marley. As decisões espaciais desta montagem assim sugerem. O bunker é a cápsula que contém o resto de tempo.
E se a reflexão erudita posta em cena pela companhia de teatro obviamente não se circunscreve a este tema, a cidade que tanto se inspirou na Jamaica, este espaço no qual a sala do ICBA está contido, não deixou de ser tema do bate-papo daquela noite.
Quarteto, de Heiner Müller, em cartaz no ICBA até 31 de maio. Imperdível.

quinta-feira, 10 de abril de 2014

beijinho no ombro

Foram inúmeras declarações de apoio e solidariedade, incentivo de multiplicação, foram várias leituras antropológicas, sociológicas, urbanísticas, arquitetônicas e, acima de tudo, políticas. No momento em que o auge da repercussão tomou conta do noticiário nacional e as redes sociais não falavam de outra coisa, parecia que a revolução social no Brasil viria da vontade de os adolescentes de periferia tentarem se divertir nos shoppings de periferia. Movimentos sociais e partidos políticos pareciam que finalmente iriam unir a nação aproveitando-se do funk ostentação contra o capital do mal dos shopping centers.
Agora o rapaz apontado como líder do que foi denominado movimento social foi assassinado. A repercussão nas redes sociais de sua morte é tão insignificante que pode ser considerada próximo a nula. Onde estão todos os estudiosos e animadores sociais do livro de rostos? Às vezes acho que não tem jeito para a falta de valor pela vida no Brasil, de todos os lados há quase só interesse em "capitalizar para si", em especial mesmo aqueles que tanto falam contra o capital. Todo mundo querendo surfar na onda dos outros, sem se importar se os outros vão se afogar segundos depois.
A massa indignada do livro de rostos pelo visto mandou um beijinho no ombro para o rapaz morto. Pouco se importam.

quinta-feira, 27 de março de 2014

leis contemporâneas

Recentemente li dois projetos de lei, o do marco civil da internet e o da descriminalização da maconha. Como não sou jurista, não tenho como avaliar os aspectos formais dos textos, expressos em uma linguagem enfadonha e dificultosa, como em geral é a linguagem das regulamentações.
Como leigo, a leitura dos dois textos deixou a impressão de que eles reafirmam o quanto a crença na transformação através da lei, como um mecanismo superior ao corpo social, ainda é cultivada no Brasil. A lei determinando a prática, a lei para cobrir a falta de consistência de outros elos sociais.
O projeto do marco civil - junto com os aspectos levantados em sua defesa - me fez pensar que há quase nada ali que não pudesse ser regulado através de uma adaptação de leis que regulam as telecomunicações e da aplicação do código de defesa do consumidor, mesmo considerando as especificidades da internet. Era exatamente o que eu esperava e não encontrei: mais especificidades na lei. E já que as pessoas têm tanto medo de a internet vir a ser comercializada como a tv a cabo, seria interessante começarem a fazer algo contra o modelo de comercialização da tv a cabo, é o que venho pensando.
Já o projeto de descriminalização da maconha é tão cheio de normativa que me deixou com a impressão após lê-lo que deve haver razões de sobra mesmo para a maconha não ser liberada. O ponto chave é o tal do cultivo para uso próprio, pois além de pressupor um controle sobre o espaço privado um tanto superdimensionado, para usar um termo simpático, deixa a pergunta no ar sobre o controle de quantos litros de bebida alcóolica uma pessoa deveria então estar liberada para ter em casa. Idem para os clubes de maconha: as mesmas limitações de número de público e quantidade de consumo não deveriam ser aplicadas aos bares? Porque do jeito que está tudo lá descrito, alguém realmente tem a impressão que deve haver motivos de sobra para não liberá-la.
Em geral, fiquei com a impressão nos dois casos de uma exacerbada vontade de controle sobre algo que por conteúdo e definição exploram a possibilidade do descontrole.

domingo, 9 de fevereiro de 2014

De bicicleta por Viena, 3: sobre a hidrelétrica

Eu imagino que poucas cidades grandes no mundo tenham uma hidrelétrica dentro do seu perímetro urbano, a poucos quilômetros do centro da cidade. A hidrelétrica Freudenau, inaugurada em 1998, além de fornecer energia para Viena com mínima perda na transmissão, permite que se acesse a Ilha do Danúbio já bem próximo à sua extremidade sul.
vista a montante, com o skyline de Viena ao fundo
Tanto para pedestres como para ciclistas a hidrelétrica foi projetada incluindo o sistema de ciclovias da cidade. Com isso, a ciclovia que margeia o Danúbio no 10° distrito segue diretamente sobre a barragem e conecta-se com a Ilha do Danúbio.
Projeto do arquiteto Albert Wimmer, a realização da hidrelétrica teve entre ps desafios de sua execução, a elevação das pontes de autopistas, trens e metrô, localizadas a montante, para que o rio continuasse nevagável depois do represamento do rio.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

bem-vinda

Em outubro do ano passado, por ocasião das comemorações dos 125 anos do Burgtheater, o mais importante teatro da Áustria, um assistente de plateia causou um pequeno escândalo ao usar a pausa para chamar a atenção para as suas condições de trabalho. Como ele, outros 400 trabalhadores dos teatros vienenses são empregados da firma G4S, contratada pela holding criada para administrar os teatros, quando em 1996 estes deixaram de pertencer diretamente ao Estado.
Sua fala foi interrompida pela curadora do evento, cujo título "Com que teatro sonhamos?" servia de mote para a apresentação de perspectivas e um balanço do passado e presente da importante instituição, mas pode ser lida aqui em sua íntegra (em alemão). G4S é uma empresa dinamarquesa com sede em Londres, oferecendo principalmente serviços de segurança e vende mão-de-obra em mais de 120 países, ocupando postos de trabalho que, em boa parte, estavam antes ocupados por funcionários públicos.
Desde ontem no Brasil se teve acesso a um documento que apenas comprova o que todo mundo já sabia: a empresa Sociedade Mercantil Cubana Comercializadora de Serviços Médicos Cubanos mantém um contrato com o governo brasileiro semelhante em sua estrutura àquele entre a G4S e a Holding dos Teatros Vienenses.
Mundo afora, a política nacionalista de proteção de postos de trabalho continua a render votos, o que é percebido como forte contraponto à livre circulação de mercadorias. Mas apenas em parte, como as empresas dinamarquesa e cubana mostram. Dentro de um esquema onde o que se chamava de terceirização nos anos 90 parece um paraíso de garantias trabalhistas, estas duas agentes no mercado globalizado de bens e serviços dão um passo adiante na coisificação do ser humano. Deixa-se literalmente de se explorar o valor extra do trabalho de um cidadão (que teria assim um contrato social que lhe garantiria direitos não somente trabalhistas) para se mercantilizar a cabeça da mão-de-obra. Como se gado fosse. Como se máquina fosse. Sobre a diferença com que o governo brasileiro está disposto a contratar médicos estrangeiros que não sejam cubanos em relação às condições com que os cubanos tem sido contratados há muito para ser discutido, ainda.
Eu sinto por esta médica pedir asilo em um país onde a vida humana conta tão pouco, talvez tivesse sido melhor para ela estar em uma sociedade onde o Estado cumpre o seu papel principal.
Por isso, mais do que nunca, espero que aqueles que se esforçaram tanto em receber bem os médicos cubanos (especialmente contra a grosseria estúpida que se viu em alguns aeroportos no Brasil), agora tratem esta médica ainda melhor. Afinal, como indivíduo lutando pela liberdade contra estruturas tão autoritárias como de grandes dimensões, ela merece uma ajuda. Ou, ao menos, que sejam refeitos os votos de bem-vinda.


quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

na mesma onda

Nao sou economista, mas ler gráficos nao é algo tão dificil assim. 
O desenvolvimento das moedas dos ditos "emergentes" no período dos útlimos 12 meses indica antes de mais nada que o fenômeno é comum a eles. Entao, nao teria como inventar discursos de que o brasil está fora disso ou de que o brasil é robusto para tratar um tsunami como se fosse uma marolinha; a onda é mais ou menos igual para todos.
Parece que se sairá melhor desta quem tiver melhores ideias, capacidade de acao e lastro verdadeiro. Só sei que Rússia e Brasil tem dívidas imensas com equipamentos esportivos, o que nao deve melhorar muito a situação destes países. Aguardemos os competentes no assunto. Só nao sou de recomendar orações, mas parece que seria o caso.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

a morte de um popular crítico de teatro

A Áustria perdeu ontem à noite Karl Löbl, seu mais popular crítico de teatro e ópera, aos 83 anos.
Há vinte anos, quando cheguei em Viena, a vida cotidiana da cidade era de um estranhamento muito grande para quem como eu tinha vivido em Salvador até então. A lista de tudo o que indicava que aquela sociedade era bem diferente daquela onde eu havia nascido é imensa, mas duas experiências cotidianas sempre terão destaque: a ausência de catracas para o acesso ao transporte público e a crítica teatral de Karl Löbl nas notícias na TV.
Karl Löbl foi um jornalista de teatro e música, atuante em toda a sua vida na área da cultura. Era muito vesgo e usava óculos grandes, com design antigo, combinado muitas vezes com uma cabeleira assanhada. Sim, um daqueles rostos "anti-televisivos".
O surpreendente da crítica de Löbl na TV é que ela era ao vivo, de dentro do teatro, no momento dos aplausos. Dono de uma cultura teatral e musical fantástica, ele era capaz de uma precisão incrível, fundamental para o tempo de não mais que pouquíssimos minutos da janela de cultura das notícias. Sem meios termos, ele poderia ser cruel com diretores, atores, maestros, cantores, cenógrafos, falando diretamente da plateia, com as imagens ao fundo do elenco recebendo aplausos e vaias.
A cada estreia na Ópera ou nos Teatros, lá estava Karl Löbl no jornal das dez durante os anos 90 exercendo a sua crítica descompromissada. Seus elogios eram igualmente sinceros. Era muito estranho para mim que aquilo acontecesse nas notícias na TV.
E não há ninguém que chegue perto do seu trabalho.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

A morte do baladeiro

"Morreu violentada por que quis
Saía, falava, dançava
Podia estar quieta e ser feliz
Calada, acuada, castrada

(...)
Queremos o seguinte no jornal
Quem mata menina se dá mal
Sendo gente bem ou marginal
Quem fere uma irmã tem seu final"
da canção Mônica, de Ângela Ro Ro

Em 1985 Ângela Ro Ro compôs uma das canções mais políticas já escritas no Brasil, Mônica, na qual assumia publicamente a defesa da menina assassinada depois de uma balada, ampliando enormemente a voz dos que exigiam justiça diante de uma opinião pública machista e cheia de preconceito disposta a transferir a culpa para a vítima. No curto momento de esperança coletiva nas instituições democráticas que foi aquela época em meados dos anos 80, o caso Mônica Granuzzo, como ficou conhecido, abriu uma grande discussão e colaborou para uma mudança de atitude na sociedade em geral que contribuiu muitos anos depois para que a lei Maria da Penha viesse a ser sancionada.
Contudo, creio que o nome de Mônica jamais viria a batizar uma lei no Brasil: sem desmerecer em nada o grande engajamento de Maria da Penha e sua grande contribuição social, parece que era necessário que as barbaridades contra uma mulher atingisse a condição de violência doméstica para poder ter o "aval de reconhecimento moral" da sociedade brasileira. Daí que, como a lei Maria da Penha tem seu importante foco na violência dentro do lar, lugar protegido do olhar do outro, o caso Mônica, se acontecesse nos dias de hoje, provavelmente não poderia nela ser enquadrado. Talvez não seja por acaso o apoio tão aberto por parte das religiões majoritárias a esta, repito, importante lei.
A ideia de que um adolescente entre 16 e 18 anos não deveria estar se divertindo na balada por a rua (o espaço não-doméstico) ser no Brasil um lugar de nenhuma segurança, a ideia de que a vítima do assassinato tem culpa por ter saído para se divertir, é a principal denúncia da canção de Ângela Rô Rô, e ela foi amplamente usada no caso Mônica para encobrir o moralismo machista e já ressurge agora no assassinato de Kaíque Augusto, pretendendo encobrir duplamente homofobia, a de quem o matou e a de quem tenta transferir a culpa para a vítima. Se a abertura política trouxe para o Brasil dos anos 80 uma nova onda de liberdade, inclusive sexual, nos últimos anos, a afirmação da cultura LGBT, da qual as paradas são o seu momento mais popular, abriram um campo maior para afirmação individual de sexualidades. A fragilidade da adolescência é então submetida a uma grande onda de ressentimento e ódio que pratica de vez em quando a imolação física em alguns, e que a amplia e multiplica depois no discurso. Mônica permanece em algum lugar do inconsciente coletivo como a "putinha" e Kaíque é posto logo na gaveta da "bichinha": e esta ação, pejorativa que é, desprotege ainda mais os mais fragilizados. 
Mesmo considerando todas as estatísticas absurdas de crimes e violência do país, que faz compreensível a apreensão de qualquer família ao permitir um filho sair para a balada à noite, não pode ser aceitável que tanto moralismo seja capaz de insistir em tornar nebulosas as motivações para as torturas a que Kaique Augusto ou Alexandre, cuja mãe foi entrevista por Stephen Fry, foram submetidos antes de ser assassinados.



Eu resisto muito a comparações com o facismo, mas diante dos casos de Kaíque e Alexandre, quem insiste hoje no Brasil em não reconhecer as razões homofóbicas destes crimes bárbaros, é o equivalente de um alemão médio morador de uma cidade grande que, em pleno ano de 1943, tendo visto em 1938 a noite do cristal, tendo presenciado a expulsão de viizinhos judeus, tendo escutado notícias sobre as deportações, ainda assim dissesse que não teria como acreditar em boatos sobre câmara de gás porque nunca viu nenhuma.
Escrita em outro contexto, a canção Death of a Disco Dancer dos Smiths (traduzida ao português contemporâneo, A morte do baladeiro) é tristemente atual. Termino aqui como um apelo e uma homenagem.

"A morte do baladeiro
bem, isso acontece muitas vezes por aqui,
E se você acha que a paz
é uma meta comum
isso só mostra 
o pouco que você sabe

A morte do baladeiro
Bem, eu preferiria não me envolver
eu nunca falo com meu vizinho,
eu preferiria não me envolver

Paz, amor e harmonia?
Tá certo, tudo bonitinho,
mas talvez só no próximo mundo..."

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

culturas do autoritarismo em tempos contemporâneos, 2

A Espanha hoje não fala de outra coisa: a infanta Cristina foi imputada pelo juiz que é o responsável pelo caso de enriquecimento ilícito envolvendo o seu marido, Inaki Urdangarin.
Como chama a atenção o El Pais, a casa real, tendo aprendido de um comentário feito no ano passado, quando se declarou surpresa diante de uma situação semelhante no mesmo caso, causando constrangimento por ter o comentário sido compreendido como tentativa de influência sobre a justiça, desta vez irá simplesmente dizer que "respeitamos as decisões judiciais".
O rei da Espanha teve papel de articulador político na transição democrática e, como representante do Estado, sabe que há pouca chance de ser dito mais que isso quando se vive em uma democracia.
Muito distante do Brasil de 2013, onde pessoas intimamente ligadas aos poderes executivo e legislativo atacaram violentamente as decisões do Supremo. Para não esquecer.

culturas do autoritarismo em tempos contemporâneos, 1

É carnaval em Salvador e você quer tomar uma cerveja: você vai de isopor em isopor, de balcão de bar em balcão de bar, e não vai conseguir tomar a cerveja que você queira, você só encontrará uma única marca (e, pelo visto, será aquela que parece mais água amarela que bebida alcóolica). Está desenhado para ser assim e, mesmo que fosse a melhor das cervejas, você não terá como escolher a que você costuma tomar.
Acontece que, apesar de décadas de sufoco, o lugar do carnaval (ainda) é a rua - e mesmo que um dia retirem das ruas os elementos produtores de lucro às custas do carnaval da rua, o carnaval de e na rua continuará a existir, porque ele é muito anterior a isso - e a rua é o espaço do público e do comum, é o lugar a que todos têm o direito de ter acesso por definição; o lugar do livre comércio inclusive, onde no dia-a-dia da cidade, caminhando pelas calçadas, é possível ter acesso a todos os produtos, inclusive todas as marcas de cerveja.
Se não for assim, temos a rua sitiada: estará impedido em sua funcionalização mais do que simbólica o lugar fundamental da possibilidade de livre pensamento e de livre circulação e associação de pessoas e ideias. Entre as liberdades da rua, está obviamente a liberdade de escolha, inclusive de escolha do que comprar.
É interessante perceber que o clima social e político que trata demonstrações críticas a bala, cassetete e prisão cerceia o livre comércio desta maneira. Não há nenhuma contradição nesta atitude, é o autoritarismo recrudescendo em várias frentes.
Há mesmo uma cultura política terrivelmente estabelecida no país que toma como pressuposto de ação o aniquilamento das liberdades individuais - inclusive a da escolha da cerveja que cada um queira tomar - em troca de um bem-comum às vezes apenas sugerido (como, por exemplo, a ideia de que as contas públicas não são afetadas por determinados investimentos em troca de patrocínios); do jeito que vai, logo, logo não somente a cerveja será única.