segunda-feira, 29 de setembro de 2014

o que realmente amedronta

Hoje o dia foi para Levy Fidelix ser execrado na condição de homofóbico nas redes sociais, apesar de o conteúdo da sua fala ser muito pouco diferente do que vem sendo dito por políticos de vários partidos no Brasil.
O que realmente deveria assustar é a seguinte frase:
"Então, gente, vamos ter coragem. Nós somos maioria, vamos enfrentar essa minoria. Vamos enfrentá-los."
Quando uma frase desta é possível de ser dita, considerando toda e qualquer minoria, a democracia está em perigo. O resto é ignorância e estupidez, grosseria sem limite. Mas esta frase diz muito sobre a cultura política brasileira.

assim se passaram três anos.....

"Lamento muito, que façam um bom proveito, que querem fazer e continuar como estao, mas eu presidente da republica nao vou estimular, se está na lei, que fique como está, mas estimular, jamais!, a uniao homoafetiva."
Levy Fidelix, 28 de setembro de 2014

"Não vai ser permitido a nenhum órgão do governo fazer propaganda de opções sexuais, nem de nenhuma forma nós nao podemos interferir na vida privada das pessoas. (...) Agora esta é uma questao [a distribuicao do kit anti-homofobia nas escolas] que o governo vai revisar: não haverá autorização para este tipo de política, de defesa de A, B, C ou D"
Dilma Roussef, 26 de maio de 2011
Eu nao vejo diferença entre uma e outra declaração.

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

arquitetura

em tempos de desafios, é sempre bom ter em mente uma definição clara:
como construir um edificio, elaborar uma abstração para que a construção seja o mais fidedigna possivel a uma ficção desejada, ao espaço que antes desta abstração ainda não existe: arquitetura.

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

no metrô, em salvador


Um giro de 180 graus ao redor de uma parede de concreto no andar térreo da estação da Lapa e de repente você está em outro mundo: limpeza, concreto lisinho, catracas todas funcionando e uma funcionária simpática te desejando uma boa tarde. O vazio deixado para que a clarabóia ilumine naturalmente o vão da estação Lapa é bonito, ao menos assim o permanecerá até o concreto começar a "viver".
Pouca gente para usar o metrô ainda gratuito, muitos seguranças e "cuidadores do equipamento" dão um ar de "tem que tomar cuidado se não esse povo destrói tudo logo no início". De saída, um estranhamento imenso com a gravação cumprimentando os usuários com um sonoro Oi! Será marketing da empresa de telefonia, assim, padrão "product placement"? 
O metrô passa pela estação Campo da Pólvora, de plataformas generosas, e em seguida sai do buraco para oferecer a contraditória sensação de um equipamento de parque de diversões a baixa velocidade: a considerável altura sobre o vale de Nazaré e Bonocô, associada à curva, é a abertura para uma montanha-russa frustrante, que passa o tempo todo com a velocidade de subida, ainda que ele durante o Bonocô propicie-nos a famosa subida e descida sem razão alguma (sim, com aquela consequência de aumentar o volume de concreto da obra). Sobe e desce, curva pra lá, curva pra cá, e a pessoa fica apenas no desejo de o ferrorama ser algo mais e fazer um loop irado. Não, nada disso.
O mais pertubador entretanto é a grande distância entre as estações de Brotas e Acesso Norte. Na lentidão da viagem, vamos vendo as pessoas subindo e descendo escadas, ruas íngremes, e o metrô vai devargazinho, desdenhando dos moradores de Cosme de Farias e Brotas. A paisagem urbana, já muito feia, torna-se constrangedora: duplica-se a sensação de estar em um brinquedo.
Há ainda uma estranha recorrência ao arco no metrô de Salvador, em concreto na Lapa, em estrutura metálica nas estações aéreas. E na estação do Campo da Pólvora, onde saímos depois da ida até o Retiro, há um anel de concreto sobre o grande vazio das escadas rolantes. Ao sair deste espaço, uma versão simplificada da estação do metrô em frente à estação central de trens em Nápolis e do círculo da estação da Sé em São Paulo, um novo estranhamento abrupto, sobre uma faixa de pedestres, diante do centro de saúde. Dali fui a pé até a rua chile, onde quase 100% dos imóveis estão fechados, nenhum público, nenhum negócio. Nunca pude experimentar de maneira tão viva no espaço a noção de tangente: na recusa de chegar ao centro, o metrô tangencia o fórum (é preciso se orientar para vê-lo), tangencia o centro. A roda que conduz esta cidade para onde ela está pelo visto não para.