sábado, 26 de dezembro de 2015

o melhor de um ano onde quase tudo foi pior, ê 2015 difícil

No XI Panorama Internacional Coisa de Cinema
2015, o ano que termina projetando uma horrorosa sombra sobre o próximo; o ano da lama; mas houve o que de bom para lembrar.
exposição: Lelé em Colônia, Alemanha, no início do ano, e Josef Frank, agora no final do ano, no MAK.
hashtag: #youshouldbettereatarchitecture
melhor disco: The Magic Whip, Blur.
melhor filme: Boi neon, de Gabriel Mascaro.
melhor canção: muito difícil escolher que canção entre as de The Magic Whip seria a melhor, talvez Pyongyang.
leitura: retomei e li por completo, no original em inglês, On Liberty, de John Stuart Mill.
arquitetura: o Kolumba Museum em Colônia, Alemanha, a abadia de Pomposa, mausoléu de Teodorico, o MAXXI, a catedral de Spoleto.
evento: sem dúvida, o XI Panorama Internacional Coisa de Cinema.

sábado, 5 de dezembro de 2015

Quintal e Em Paz, dois curtas no Panorama Internacional Coisa de Cinema (antes tarde do que nunca!)

Não assisti a muitos curtas no XI Panorama Internacional Coisa de Cinema, mas entre os que tive a chance de ver dois merecem um comentário, ainda que tanto tempo depois. O primeiro deles é Quintal, de André Novais Oliveira, acertadamente premiado no Panorama. Quintal é provavelmente a mais inteligente, divertida, trash, aguda, inquietante e desconcertante produção artística de 2015 no país. Este exagero meu é reflexo da grande sensação de um vento forte e refrescante, varrendo tudo, que o filme deixou: urbano, nonsense e com um título acadêmico, como as coisas ao nosso redor.
O outro filme de que gostei muito foi Em Paz, de Clara Linhart. Em Paz trata de espaço e memória urbana: a diretora, em um filme muito bem editado e que se utiliza da inserção musical como um excelente mecanismo de estruturação da narrativa fílmica, demonstra, de uma maneira mais que didática, tanto os elementos que compõe a memória urbana como toca em questões essencialmente espaciais, em seu documentário sobre o cemitério das prostitutas judias no Rio de Janeiro.
A partir de um muro e um portão, Clara Linhart apresenta ao espectador a memória guardada pela vizinhança, a memória recuperada pelos estudiosos, a memória reorganizada pela construção identitária e a memória registrada na cultura popular, para ir desvendando aos poucos tudo que aquele espaço, mais que representa, define, mantém, estrutura, abriga e articula, desafiando a dinâmica urbana e demonstrando o quanto ele - qualquer espaço! - precisa ser entendido menos como um livro aberto e mais como uma pedra de roseta ou um palimpsesto irreproduzível. E percebendo esta impossibilidade de reprodução, associada ao caráter sacro que o cemitério judaico guarda para o espaço - exatamente aquele único ali, que não pode ser tocado - o documentário revela muito precisamente como o espaço é tão comumente neglicenciado e como dele não se pode escapar. Imperdível para arquitetos, Em Paz é primoroso em tornar acessível ao público em geral questões tão importantes como esquecidas.